Saiba tudo sobre Lucy, a missão da NASA que estudará asteroides troianos
Por Danielle Cassita • Editado por Patricia Gnipper |
Na manhã deste sábado (16), a NASA irá lançar a sonda Lucy. Ela será parte da primeira missão espacial voltada para o estudo dos troianos, asteroides que são como lembranças físicas da formação do Sistema Solar, sendo também a primeira a estudar tantos deles de uma só vez — a sonda irá visitar 8 asteroides ao longo de sua missão. O lançamento está programado para acontecer às 6h34 (horário de Brasília) com um foguete Atlas V-401, da United Launch Alliance, nas instalações do complexo Cape Canaveral Air Force Station Space Launch Complex 41, na Flórida.
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Diferentemente do que acontece em outras missões da NASA, o nome “Lucy” não é uma sigla, mas é igualmente especial. É que a sonda viajará levando o nome de Lucy, o fóssil da australopithecus, ancestral dos humanos, cujo esqueleto proporcionou informações únicas sobre a evolução da nossa espécie. De forma semelhante, a sonda irá também revolucionar nosso conhecimento sobre a formação do Sistema Solar e dos planetas do nosso quintal espacial.
Isso acontecerá com o estudo dos asteroides troianos, objetos que levam o nome das figuras da mitologia grega e que são como “cápsulas do tempo”, remanescentes da formação do Sistema Solar. Eles são o que sobrou do material primordial que deu origem aos planetas externos da nossa vizinhança, viajando pelo espaço em dois grandes grupos: um que fica à frente de Júpiter, e outro logo depois. Ambos estão agrupados em torno de dois pontos de Lagrange, que são pontos de estabilidade gravitacional no espaço.
Essas regiões permitem que as naves espaciais economizem combustível quando precisam ficar em algum lugar específico — e, no caso dos troianos, eles estão estáveis em dois desses pontos, a distâncias iguais entre o Sol e Júpiter. Para visitá-los, a sonda irá seguir um caminho complexo que a levará para os dois grupos, proporcionando aos cientistas um “lugar VIP” para os C-, P- e D-, os três principais tipos de troianos desses grupos.
Os do tipo P- e D- são conhecidos por terem serem avermelhados e escuros, lembrando os corpos do Cinturão de Kuiper, aquele "anel" de objetos gelados que se estende para além da órbita de Netuno. Já os do tipo C- ficam principalmente nas áreas mais externas do Cinturão de Asteroides, localizado entre as órbitas de Marte e Júpiter. Mesmo com essas diferenças, todos os troianos são considerados objetos abundantes em compostos de carbono e provavelmente são ricos em água e outras substâncias voláteis.
Como será a jornada da sonda Lucy
Para estudá-los, a Lucy viajará por quatro anos até o asteroide Donaldjohanson, que fica no Cinturão entre Marte e Júpiter. Durante esse encontro, ela irá sobrevoá-lo para os cientistas verificarem como os instrumentos da nave estão. Depois, seguirá viagem até chegar ao primeiro grupo de troianos em 2027 — esses asteroides ficam no ponto L4, antes do gigante gasoso, e a ideia é fazer uma visita ao troiano Eurybates, orbitado por Queta.
Ainda em 2027, a sonda seguirá para sobrevoar o troiano Polymele e, em 2028, irá encontrar o asteroide Leucus. Depois, a ideia é que ela faça um sobrevoo pela Terra para conseguir assistência gravitacional e, assim, seguir com destino ao outro grupo de troianos — por lá, em 2033, a Lucy encontrará os asteroides Patroclus e Menoetius.
A Lucy mede 14 m de ponta a ponta e, além dos painéis solares, conta com um trio de instrumentos que vão ajudar as equipes em Terra a saber mais sobre os troianos. Um deles é o Lucy LOng Range Reconnaissance Imager (L’LORRI), uma câmera pancromática de alta resolução que irá proporcionar as imagens mais detalhadas já feitas desses asteroides. Já o L’Ralph, formado por uma câmera colorida e um espectrômetro de imageamento infravermelho, investigará a composição química dos cantinhos e pequenas fendas no relevo deles, conseguindo coletar dados a até 1 km de distância.
A ideia é investigar o interior das crateras dos asteroides como uma forma de conseguir acesso ao interior deles, onde há materiais “frescos” e mais jovens, que, consequentemente, não foram expostos à radiação e ao impacto de micrometeoritos. Por isso, vale a pena estudá-los em busca de sua composição original. Já o instrumento L'LORRI é uma câmera que fará imagens em preto e branco, para os cientistas descobrirem pistas sobre os ambientes aos quais os asteroides foram expostos há bilhões de anos.
O legado da missão Lucy
Embora grande parte das missões da NASA seja pensada para durar alguns anos, os engenheiros da agência espacial criam naves e instrumentos duráveis o suficiente para seguir em operação por muito mais tempo do que o previsto em suas missões primárias. A missão New Horizons, por exemplo, lançada com destino a Plutão, foi criada para durar cerca de uma década, mas já passa dos 15 anos de operação. Já a Lucy tem uma missão primária de 12 anos e foi desenvolvida para se manter ativa por pelo menos algumas décadas.
Como deverá durar bastante tempo, a Lucy dará continuidade ao legado das sondas Pioneer e Voyager, que levaram consigo placas e discos de ouro com mensagens para possíveis seres que as encontrem espaço afora. Mas, como a Lucy não vai se aventurar para fora do Sistema Solar, ela terá uma placa que será como uma cápsula do tempo, destinada a grandes membros da sociedade e àqueles que virão depois de nós.
Essa placa contém mensagens criadas por autores laureados pelo Nobel de Literatura, poetas norte-americanos e outras figuras inspiradoras, incluindo os membros dos Beatles, o famoso quarteto de Liverpool cuja música Lucy In the Sky With Diamonds também serviu de inspiração para o nome da missão. Além disso, a placa conta também com uma representação do Sistema Solar no dia do lançamento da missão e da trajetória da sonda.
Como assistir ao vivo
A NASA transmitirá ao vivo pela internet o lançamento da missão Lucy. Você pode começar a acompanhar os preparativos finais às 5h da manhã (horário de Brasília) deste sábado (16), com o lançamento em si previsto para acontecer cerca de meia hora depois. Tudo será exibido pelo site NASA Live, ou no vídeo abaixo:
Fonte: NASA