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Rotação rápida da Terra pode impactar GPS, sistemas militares e radioastronomia

Por  • Editado por Melissa Cruz Cossetti | 

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Imagem gerada pelo ChatGPT
Imagem gerada pelo ChatGPT

Medições realizadas por cientistas apontam que, desde 2020, a rotação da Terra está acelerando ligeiramente. Um exemplo disso é o fato de que, cada vez mais, os dias têm uma duração ligeiramente menor — o que pode impactar GPS, radioastronomia e até mesmo sistemas militares.

Eventos recentes reforçam essa tendência, como o fato de que, desde o início de julho de 2025, o planeta registrou os quatro dias mais curtos do ano. Foram eles:

  • 9 de julho: 1,30 milissegundo (ms) a menos;
  • 10 de julho: 1,36 ms a menos;
  • 22 de julho: 1,34 ms a menos;
  • 5 de agosto: 1,25 ms a menos.
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Além disso, o dia mais curto já registrado ocorreu em 5 de julho de 2024, quando a Terra completou sua rotação 1,66 milissegundo mais rápido do que o padrão médio.

Por que a Terra está girando mais rápido?

No caso dos eventos recentes, uma das explicações para o aumento da velocidade de rotação da Terra está relacionada à posição orbital da Lua.

“O que ocorre é que a Lua estava em um ponto de sua órbita em que exerce menos influência sobre o equador terrestre e mais influência próxima dos polos. Esse fator modifica a ação gravitacional aplicada sobre o eixo de rotação do nosso planeta e faz a Terra girar mais rápido”, explica o geofísico Eder Molina, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP.

O movimento de grandes massas terrestres também pode acelerar a rotação do planeta e, consequentemente, reduzir a duração de um dia — como observado após um terremoto em 2011.

Na ocasião, a atividade sísmica de magnitude 8,9 que atingiu o Japão, em 11 de março daquele ano, deslocou a ilha principal do país 2,4 metros para o leste. Essa alteração culminou na aceleração da rotação da Terra, encurtando o dia em 1,8 microssegundo.

Apesar disso, ainda não há consenso entre os cientistas sobre os motivos de uma aceleração contínua desde 2020. Uma das hipóteses levantadas é a de que esteja ocorrendo uma desaceleração do núcleo líquido da Terra, o que faria o manto e a crosta girarem ligeiramente mais rápido.

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Sistemas eletrônicos afetados

O professor do IAG-USP ressalta que o giro mais rápido da Terra pode impactar sistemas que se baseiam em relógios atômicos.

“No cotidiano, o principal sistema que pode ser afetado é o GPS, que, com um erro de 1,5 ms nos diversos satélites, poderia acarretar um erro de posicionamento de aproximadamente 450 metros — o que, para um carro autônomo, por exemplo, seria desastroso”, afirma o geofísico.

Molina também pontua que a radioastronomia e os modelos de detecção de terremotos podem ser afetados, assim como sistemas militares usados em conflitos armados.

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“O posicionamento de mísseis e aviões de combate, bem como sistemas de radar e de guerra eletrônica, seria comprometido se não houvesse algum tipo de correção para esses efeitos”, acrescenta o docente.

Alteração do segundo intercalar

Pesquisadores monitoram o tempo de rotação da Terra com uma técnica chamada Very Long Baseline Interferometry (VLBI) — Interferometria de Base Muito Longa, em tradução livre —, que consiste em combinar sinais captados por radiotelescópios localizados em diferentes pontos do planeta.

Esse monitoramento gera o Tempo Universal 1 (UT1) — com precisão de 3 milionésimos de segundo —, o que permite detectar variações na rotação da Terra.

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Já os relógios atômicos, com precisão de 1 bilionésimo de segundo, dão origem ao Tempo Universal Coordenado (UTC), que mantém estabilidade com variações de apenas 1 segundo a cada 1,4 milhão de anos.

Segundo Eder Molina, quando a diferença entre UT1 e UTC se aproxima de 0,9 segundo, um segundo intercalar é adicionado ou subtraído dos relógios, para manter os sistemas de tempo sincronizados com a rotação terrestre.

Desde 1972, 27 segundos intercalares foram adicionados devido à desaceleração do planeta. No entanto, nunca houve a subtração de um segundo para compensar um aumento de velocidade — algo que pode ser considerado pelos cientistas caso a aceleração se mantenha de forma constante.

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