Astrônomos exploram cometa em fase terminal e observam "talco" em sua superfície
Por Wyllian Torres | Editado por Claudio Yuge | 06 de Abril de 2021 às 19h30
Pela primeira vez, um grupo de astrônomos observou um cometa em sua fase final de vida, analisando com alta precisão a temperatura da superfície do núcleo cometário e parte de sua composição. Através do infravermelho, a equipe de pesquisadores descobriu a presença de grãos de filossilicato em toda superfície — aqui na Terra, esta mesma substância é encontrada em pó de talco —, e estimou o tamanho do núcleo com um diâmetro de 800 metros.
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A observação tão precisa de cometas é difícil porque, quando estes corpos adentram o Sistema Solar, eles são aquecidos pelo Sol, de maneira que começam a liberar gás e poeira — basicamente o que compõe um cometa. Então surgem outras estruturas cometárias, como as caudas e o coma — este último é uma espécie de nuvem de gás e poeira que envolve e escurece o núcleo do cometa.
Em 2016, quando o cometa P/ 2016 BA14 (PANSTARRS) foi descoberto, ele já apresentava pouca atividade de um cometa — tanto que, num primeiro momento, foi confundindo com um asteroide.
Quando o cometa P/ 2016 BA14 atingiu seu ponto mais próximo da Terra, cerca 3,6 milhões de quilômetros de distância — o equivalente a 9 vezes a distância entre nosso planeta e a Lua —, uma equipe de astrônomos do Observatório Astronômico Nacional do Japão (NAOJ) e do Observatório Astronômico Koyama, da Universidade Kyoto Sangyo, apontou o Telescópio Subaru para o corpo celeste. A observação, que durou um total de 30 horas, foi capaz de fornecer evidências do tamanho do núcleo cometário e da composição da superfície, como a presença de moléculas orgânicas e grandes grãos de filossilicato. O telescópio observou o cometa em infravermelho, como um termômetro que determina a temperatura a distância.
Através de comparações entre os minerais de silicato observados na superfície do cometa com as medições feitas em laboratórios, a equipe concluiu que os grãos de filossilicato foram aquecidos a mais de 300 °C no passado do objeto — o que sugere que a órbita do cometa já foi mais próxima do Sol e hoje sua superfície não passa dos 130 °C. Uma outra questão para os pesquisadores é saber se o talco na superfície existe desde o início ou se é um resultado do longo processo de queima do cometa ao longo de sua existência.
O cometa P/ 2016 BA14 é um forte candidato para a missão Comet Intercept, realizada pela parceria da Agência Espacial Europeia (ESA) e a Agência Espacial Japonesa (JAXA), com o objetivo de explorar cometas e, consequentemente, o passado do Sistema Solar.
O artigo foi integralmente publicado no periódico científico ScienceDirect.
Fonte: NAOJ