Pico inesperado de radiação solar pode se repetir em 2024?
Por Daniele Cavalcante • Editado por Luciana Zaramela |
O Sol emitiu uma quantidade anormal de raios gama durante o máximo solar de 2014, revelou um estudo que teve a participação de um pesquisador brasileiro. Agora, os autores querem monitorar nossa estrela durante o próximo máximo solar, que deve começar neste ano.
As emissões de raios gama pelo Sol não são nenhuma surpresa, mas o novo estudo mostra uma quantidade inesperada delas. Além disso, os fótons em excesso foram irradiados a partir dos polos magnéticos da estrela, sendo que o esperado era que fossem distribuídos uniformemente.
Essas características podem significar duas coisas: o pico de produção de raios gama está relacionado ao máximo solar (período nos ciclos em que o Sol intensifica suas atividades magnéticas), e a concentração nos polos está relacionada às mudanças dos campos magnéticos solares.
Para esse estudo, os autores analisaram dados do Fermi Large Area Telescope (Fermi-LAT) coletados ao longo de 14 anos, e descobriram que o disco solar estava mais brilhante nas regiões polares no máximo solar de 2014.
Os resultados dessa pesquisa mostraram que a intensificação das emissões de raios gama ocorreu durante a inversão dos polos magnéticos no Sol — em outras palavras, quando o polo Sul e Norte magnéticos “trocaram” de lugar.
As inversões dos polos magnéticos solares são comuns durante o máximo solar, mas essa é a primeira vez que cientistas encontram relação entre o fenômeno e as emissões de raios gama. Se essa hipótese estiver correta, estamos perto de observar outro surto inesperado de radiação gama em nossa estrela.
Já que estamos entrando no período de máximo solar do ciclo atual, os autores da pesquisa vão continuar monitorando o Sol para acompanhar os picos de raios gama e a inversão dos polos magnéticos, que pode acontecer a qualquer momento. Se esses eventos ocorrerem de modo semelhante aos de 2014, vai ser uma forte evidência de que ambos estão relacionados entre si.
Vale ressaltar que, em 2023, quando já estava se aproximando do máximo solar do ciclo atual, o Sol apresentou uma quantidade de raios jamais vista antes. Mas ainda não há nenhuma evidência de que este evento foi gerado pelos mesmos mecanismos que produziram o pico de 2014.
Os cientistas ainda não sabem como a inversão dos polos solares causariam surtos de raios gama, mas futuras detecções podem fornecer pistas importantes. “Não há outra estrela similar e tão próxima quanto o Sol em que possamos testar nossa hipótese”, disse o brasileiro Bruno Arsioli, principal autor do artigo. “Temos de repetir as observações nele mesmo”.
O estudo foi publicado no The Astrophysical Journal.
Fonte: The Astrophysical Journal, Pesquisa FAPESP, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa