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O que sabemos sobre o enorme cometa que se aproxima do Sistema Solar interno?

Por  • Editado por  Patricia Gnipper  |  • 

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NOIRLab/NSF/AURA/J. da Silva
NOIRLab/NSF/AURA/J. da Silva

Ele é gigantesco e está a caminho. O maior e mais massivo cometa já descoberto é também uma espécie de “máquina do tempo” para os cientistas, por se tratar de um objeto imaculado. Isso significa que ele trará informações riquíssimas sobre os confins do Sistema Solar, então será uma oportunidade imperdível para os astrônomos aprenderem mais sobre nosso “quintal cósmico”.

Embora esteja vindo em nossa direção, não se preocupe — o cometa Bernardinelli-Bernstein não chegará perto o suficiente para ameaçar nosso planeta. Ainda assim, passará perto o suficiente para atrair a atenção de qualquer astrônomo, dos mais “gabaritados” aos amadores. Afinal, esse colosso congelado vem direto da Nuvem de Oort, uma região tão afastada do Sol que os astrônomos não conseguem observar.

A Nuvem de Oort é uma região esférica ao redor do Sistema Solar cheia de mistérios, porque nada se sabe a respeito da composição e natureza de seus objetos. A luz de nossa estrela não alcança essa área, por isso ela nunca foi observada antes. Mas isso também significa que a radiação solar não a alterou muito nos últimos 4,6 bilhões de anos — a idade do Sol.

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Quem definiu o Bernardinelli-Bernstein como “máquina do tempo” foi Amy Mainzer, astrônoma e especialista em cometas da Universidade do Arizona. A metáfora pode parecer exagero, mas é como se os astrônomos pudessem, realmente, olhar para o passado e ver como eram os primeiros milênios do Sistema Solar. É compreensível que os cientistas estejam ansiosos para coletar quaisquer informações que puderem sobre o cometa.

Modelos da órbita do “megacometa” indicam que sua última passagem mais próxima dos planetas foi há cerca de 5 milhões de anos. Na ocasião, ele nem sequer se aproximou de Urano — ficou longe o suficiente do Sol para manter sua química inalterada pela radiação. Outra vantagem é seu tamanho descomunal (ele possui de 100 km a 200 km de diâmetro), segundo as estimativas, o que é equivalente a 10 vezes o diâmetro da maioria dos cometas conhecidos. Essas dimensões facilitarão a observação quando ele estiver mais próximo de Saturno e o ajudarão a não se dividir, como acontece com cometas menores.

Essas estimativas de tamanho são baseadas na quantidade de luz solar que o objeto reflete, o que é possível observar graças à sua posição relativamente próxima. Sua aventura rumo ao Sistema Solar interno começou com uma distância de mais de 40 mil unidades astronômicas distante do Sol (o equivalente a 6 trilhões de km), mas agora ele já está a cerca de 20 unidades astronômicas, de acordo com observações de junho. A órbita do cometa é perpendicular ao plano do Sistema Solar e atingirá seu ponto mais próximo do Sol em 2031.

Quando o cometa se aproximar o suficiente do Sol, começará a liberar enormes quantidades de partículas e ganhará a tão característica cauda cometária. Então, os astrônomos poderão dizer qual é a composição da poeira de sua superfície para produzir aquela cauda de cometa distinta. O Bernardinelli-Bernstein pode conter bastante carbono, mas talvez não tanto nitrogênio, de acordo com o próprio Bernstein, um dos astrônomos que descobriram o objeto.

Ainda levará uma década até que o megacometa faça sua maior aproximação, antes de voltar a “se esconder” nos lugares mais escuros do Sistema Solar. Essa longa espera tem vantagens e desvantagens — por um lado, os astrônomos terão que controlar a ansiedade antes de apontarem suas lentes para a “máquina do tempo”; por outro, haverá tempo o suficiente para o observatório Vera C. Rubin entrar em operação.

Não espere, no entanto, que a NASA ou alguma outra agência espacial construa uma sonda para ir até o cometa. Faltam apenas dez anos para que o cometa esteja próximo de Saturno, que fica a 1,4 bilhão de km da Terra. A sonda Cassini, por exemplo, levou quase sete anos para chegar nesse planeta, mas as primeiras etapas de seu desenvolvimento começaram na década de 1980.

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De qualquer forma, os instrumentos do Observatório Vera Rubin serão capazes não apenas de capturar muitos detalhes do Bernardinelli-Bernstein, mas também, provavelmente, encontrarão muitos outros objetos como ele. Isso deve ajudar os astrônomos a determinar com maior precisão as características dos objetos da Nuvem de Oort, sem depender de uma única amostra. Quem sabe, deste modo, alguma agência ou empresa privada espacial tenha uma missão planejada para algum desses outros “irmãos” do Bernardinelli-Bernstein?

Fonte: Daily Beast