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Naves espaciais podem contaminar Marte? Como evitar que isso aconteça?

Por| 18 de Fevereiro de 2021 às 21h10

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NASA
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Encontrar vida em outros planetas seria uma das descobertas mais revolucionárias da ciência, já que estamos desde os primórdios da humanidade nos perguntando: “estamos sozinhos no universo?”. Por outro lado, essa mesma descoberta implicaria em uma série de questões, e uma delas é a segurança planetária. Desde o início da exploração espacial, as agências criaram uma série de procedimentos para impedir uma potencial contaminação, e isso inclui o Perseverance, que pousou hoje em Marte.

Quando os astronautas da Apollo 11 finalmente colocaram os pés na Lua, a NASA já estava preparada para colocá-los em quarentena até que qualquer possibilidade de ameaça microscópica fosse eliminada. Ninguém quer lidar com uma contaminação de bactérias ou vírus de outro mundo. Mas o oposto também é verdade — não queremos levar contaminações terrestres para o espaço, ao menos não até saber que não causaríamos uma catástrofe sem precedentes.

Como exploradores, os cientistas, agências governamentais e companhias privadas do setor espacial devem estar cientes dos riscos de contaminar outros planetas com nossas bactérias. Isso aconteceu aqui mesmo, na Terra, quando europeus contaminaram as populações nativas das Américas com doenças como varíola, gripe, que antes não eram um problema para esses povos. Se houver alguma forma microscópica de vida em Marte, por exemplo, uma bactéria ou vírus terrestre poderia impactar essa espécie de modo irreversível.

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Bem, estamos enviando sondas e naves robóticas à Lua e a outros planetas, como Marte e Vênus, desde a era da corrida espacial. Embora hoje tenhamos muitas evidências de que a Lua é estéril, não sabemos se existe vida nos outros planetas — tanto que o rover Perseverance acaba de pousar no Planeta Vermelho para buscar por indícios de vida antiga por lá. E é aí que entram as normas de segurança planetária, muitas delas estabelecidas há pelo menos 50 anos. Existem duas variantes de proteção planetária: a primeira é sobre garantir a segurança da Terra, enquanto a segunda é para impedir que contaminemos outros mundos.

Para limpar os robôs, equipamentos e trajes de astronautas, são utilizadas salas projetadas para serem o limpas possível. As instalações são testadas regularmente para eliminar contaminação biológica, ou até mesmo detectar algo novo. Em 2013, por exemplo, um tipo completamente novo de bactéria foi encontrado em duas dessas salas, separadas por cerca de 4 mil km. A bactéria sobrevive comendo pouco e não foi encontrada em nenhum outro lugar da Terra. Quando o assunto é vida, podemos ser surpreendidos a qualquer momento.

A proteção planetária teve início na década de 1950, quando um comitê internacional e não governamental de pesquisas espaciais (COSPAR) começou a discutir a importância de prevenir as contaminações. A política de proteção planetária da COSPAR se tornou um padrão internacionalmente reconhecido, e classifica os planetas e luas com base em seu potencial de abrigar vida, ou sinais de vida, passados ​​ou presentes. Quanto maior o potencial de vida, maiores são as medidas de proteção.

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Isso significa que as missões para mundos de categoria superior, como Marte, que recebe classificação mais elevada que a Lua, requerem mais esterilização e medidas para garantir que as viagens representem menos riscos de contaminação. Essas políticas também determinam como as missões de orbitadores serão encerradas. Por exemplo, ao fim de sua missão, a sonda Juno da NASA será arremessada (e queimada) na atmosfera de Júpiter para evitar uma possível contaminação de Europa ou qualquer uma das outras luas. O mesmo aconteceu com a sonda Cassini em Saturno.

No caso da NASA, a descontaminação é rigorosa, mas nem sempre nos mesmos critérios utilizados no programa Viking. As missões Viking eram enviadas na década de 1970 com muito receito de prejudicar alguma potencial forma de vida marciana, e por isso as naves eram essencialmente estérias. Nem mesmo o Curiosity foi esterilizado com tanto rigor, já que na época a NASA já não tinha evidências de que algum organismo estivesse vivendo no Planeta Vermelho. Ainda hoje, esse nível extremo de limpeza é chamado de "nível Viking".

A Viking foi construída em uma sala de limpeza classe 100 mil — ou seja, havia menos de 100 mil partículas com tamanho de 0,5 mícrons ou maiores presentes por metro cúbico de ar. Além disso, os componentes da nave foram aquecidos a 115 °C por mais de 50 horas. A NASA pode incluir em seus procedimentos coisas como vapor de peróxido de hidrogênio, radiação gama, radiação ultravioleta e calor, para eliminar micróbios terrestres. Mas tudo isso custa dinheiro, então nem sempre o método "nível Viking" é utilizado, e a escala do COSPAR e muito útil nesse momento. Componentes modernos também não podem ser submetidos a temperaturas extremas, então a NASA desenvolveu os métodos de vapor de peróxido de hidrogênio, que utilizam temperaturas inferiores.

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Embora as políticas de proteção planetária sejam bem aceitas pelas agências governamentais, não é possível obrigá-las a continuar seguindo os protocolos, nem mesmo com o Tratado do Espaço Sideral, assinado em 1967. Afinal, trata-se de um acordo intermediado por uma organização não governamental, ou seja, uma espécie de “aperto de mãos”, por assim dizer, com todas as partes concordando em seguir as normas por senso de responsabilidade.

Por outro lado, a exploração espacial atual inclui companhias privadas, que não assinaram o acordo. É verdade que o Estado onde as empresas são sediadas responde por elas e, por isso, desempenham o papel de supervisionar e aprovam (ou desaprovar) os critérios adotados pelas empresas. Além disso, sem a autorização dos órgãos competentes do Estado, nenhuma empresa privada pode utilizar o espaço aéreo, o que inclui lançar um foguete. Os motivos para isso vão além da simples burocracia: é preciso garantir que o tráfego aéreo não seja perigoso para os pilotos e aeronaves.

Por fim, as políticas de proteção planetária estão imbuídas de um peso ético, moral e social, de modo que descumpri-las tornaria qualquer agência ou companhia non grata para toda a comunidade científica. Esta comunidade, por sinal, não trabalha de modo individua, mas é coletiva e internacional, e leva a colaboração a sério. Para qualquer órgão ou empresa, ser condenado pela comunidade científica pode representar o fim de seus propósitos na exploração espacial.

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Fonte: Space.com