Morre o astrônomo Irineu Gomes Varella; conheça seu legado científico no Brasil
Por Daniele Cavalcante | 17 de Agosto de 2020 às 17h15
Faleceu na última sexta-feira (14) o astrônomo, professor e divulgador científico Irineu Gomes Varella, aos 68 anos, vítima de COVID-19. Referência para muitos estudantes e pesquisadores, Varella teve uma longa carreira, com mais de 250 cursos ministrados e centenas de palestras sobre astronomia realizadas.
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Ele fez graduação e pós-graduação na USP e construiu sua carreira na Escola Municipal de Astrofísica Professor Aristóteles Orsini (EMA), unidade pública de ensino que oferece gratuitos de astronomia para estudantes, astrônomos amadores, professores e interessados em geral. A EMA fica Parque Ibirapuera, ao lado do Planetário Professor Aristóteles Orsini (também chamado "planetário do Ibirapuera"), e ali ele atuou como diretor de 1980 a 2002.
Por onde passou, deixou sua marca como dono de um grande entendimento da astronomia, genialidade no ensino da ciência, e generosidade em compartilhar conhecimento.
Carreira e legado de Irineu Gomes Varella
“Um apaixonado pela Astronomia desde garoto. Vi um eclipse do Sol em 1966 e decidi que seria astrônomo”. É assim que Varella se apresentava em suas redes sociais. Nascido na cidade de São Paulo em 7 de setembro de 1952, Irineu começou seus estudos no Externato Tibiriçá em 1958 e no Instituto de Educação Estadual Brasílio Machado em 1962. Mesmo antes de concluir o antigo curso, entrou na equipe de colaboradores do EMA.
Em pouco tempo, graduou-se em Física (IF-USP) e concluiu o curso de pós graduação em Astronomia (IAG-USP). Logo foi reconhecido por ter um vasto conhecimento científico, marca que o acompanhou durante toda a carreira, sendo considerando um grande mestre por seus alunos. Sua experiência com planetários chamou a atenção do Diretor do Planetário de Goiânia, onde trabalhou por 1 ano, implantando atividades, programações e cursos de Astronomia.
Em 1980 é escolhido pelo próprio Prof. Aristóteles Orsini, fundador da Associação de Amadores de Astronomia de São Paulo (AAA) e idealizador do Planetário do Ibirapuera e da Escola Municipal de Astrofísica, para sucedê-lo na direção da instituição. Varella ocupou este cargo por 22 anos, até maio de 2002. Nesse períogo, promoveu 290 cursos semestrais de astronomia, cerca de 10.000 apresentações do Planetário e criou e implementou o projeto do segundo Planetário para a cidade de São Paulo.
Sendo reconhecido como uma referência na difusão da astronomia no Brasil, apareceu como verbete no Dicionário de Astronomia e Astrofísica do Prof. Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, em 1992. Também ministrou o curso de pós-graduação em Astronomia da Universidade Cruzeiro do Sul, em São Paulo, onde lecionou a disciplina "Sistema Solar". Aliás, Varella trabalhou para que o estudo do Sol fosse levado com mais rigor, tendo sido este o tema de sua dissertação de mestrado em 2017.
Outra de suas grandes contribuições para a astronomia no país foi sua colaboração no Anuário Astronômico do Instituto Astronômico e Geofísico da USP durante 21 anos, de 1975 a 1996. Escreveu centenas de textos de divulgação e ensino de astronomia publicados pelo Planetário de São Paulo e por diversos jornais, revistas e outros periódicos e participou da iniciativa de lançar o selo nacional comemorativo da passagem do cometa Halley, em 1986.
Foi sócio-fundador e ex-presidente da Associação dos Amigos do Planetário e Escola Municipal de Astrofísica de São Paulo, membro da Sociedade Astronômica Brasileira, da Sociedade Brasileira de Física, da Sociedade Brasileira de Matemática e da Société Astronomique de France. Aposentou-se, em 2015, como especialista da EMA, após 47 anos de trabalho.
Milhares de astrônomos, tanto amadores quanto profissionais, e interessados em geral por astronomia, passaram pelo ensino de Irineu - seja por seus cursos, apresentações no planetário, palestras ou textos de divulgação científica. Apesar da perda, o país ganhou muito com sua contribuição, e certamente seu legado de paixão pela astronomia e dedicação na divulgação será levado adiante pelos que foram tocados por sua entrega à ciência.