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Missões presenciais podem estar contaminando a Lua com gases, segundo estudo

Por| 17 de Agosto de 2020 às 13h33

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Andrew McCarthy
Andrew McCarthy

Recentemente, cientistas do Applied Physics Laboratory (APL), da Universidade John Hopkins, realizaram um estudo que mostrou como as emissões geradas pelo escapamento um lander lunar de tamanho médio se comportam na Lua. Eles então descobriram que essas emissões podem não só se espalhar gases rapidamente em nosso satélite natural, como também têm potencial para contaminar pontos importantes para pesquisas por lá. Os resultados do estudo foram publicados em 11 de agosto na revista Journal of Geophysical Research: Planets.

Para o estudo, eles simularam um cenário onde um lander de 1.200 quilos pousaria em um local próximo ao polo sul da Lua. Ali, eles descobriram que o vapor d’água emitido pelo veículo precisaria de apenas algumas horas para se espalhar pela Lua. Depois, 30% a 40% deste vapor continuaria na atmosfera lunar após dois meses, e aproximadamente 20% acabaria congelado perto dos polos depois de mais alguns meses. Esses resultados mostram que, embora haja cada vez mais planos para levar humanos outra vez para a Lua, é importante considerar os impactos que essas missões podem causar.

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Na verdade, essa é uma questão discutida desde os tempos das missões Apollo, nas décadas de 1960 e 1970. Naquela época, pesquisadores já haviam desenvolvido modelos para prever como as emissões poderiam se espalhar e contaminar a superfície lunar. Parvarthy Prem, pesquisadora do JPL e principal autora do estudo, destaca que “o escapamento durante a missão Apollo não complicou as medidas como pode complicar agora”. 

Acontece que o objetivo principal daquelas missões era a coleta de amostras lunares - o que, de certa forma, se mantém ainda hoje. Entretanto, as geleiras das crateras próximas aos polos lunares são essenciais para o entendimento de como a água e outras moléculas se comportam na Lua. “Esses são alguns dos únicos lugares em que podemos encontrar vestígios da origem da água no interior do Sistema Solar”, explica Prem. Então, se houver gases deixados por explorações presenciais que se congelaram, eles podem contaminar as análises da composição do gelo, o que levaria os pesquisadores a conclusões equivocadas.

Prem ressalta, entretanto, que o modelo que desenvolveu não é perfeito e tem algumas limitações que precisam ser consideradas: o estudo foi feito apenas com o vapor da água, que compõe uma parte da composição das emissões dos landers. Outras moléculas, como o hidrogênio e monóxido de carbono, podem se comportar de maneira totalmente diferente - e, talvez, durem até mais tempo na Lua. Assim, para as próximas pesquisas, é possível que a equipe analise os níveis de escapamento durante e após pousos no futuro para entenderem como esses gases podem ficar “presos” na superfície lunar. Para a pesquisadora, as discussões sobre a redução dos gases estão apenas começando: “eu diria que modelar e monitorar o destino dos gases de exaustão são ações que precisam se tornar parte da rotina do desenvolvimento e planejamento de missões lunares”. 

Fonte: Phys.org