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Interações de gelo e sais podem estar causando deslizamentos de terra em Marte

Por| 04 de Fevereiro de 2021 às 18h45

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Reprodução/NASA/JPL/University of Arizona
Reprodução/NASA/JPL/University of Arizona

Com dados da sonda Mars Reconnaissance Orbiter (MRO), da NASA, uma equipe de pesquisadores liderada por Janice Bishop, cientista e membro do NASA Astrobiology Institute (NAI), chegou a uma nova teoria para explicar o que pode estar por trás de misteriosos deslizamentos de terra na superfície de Marte: o processo parece ser causado por interações entre gelo e os sais do solo.

Outros estudos que investigaram a questão sugeriram que, talvez, o fenômeno fosse causado por fluxos de compostos líquidos ou grãos secos; contudo, nenhum modelo computacional conseguia explicar bem o que estava causando os fluxos das chamadas Linhas de Declive Recorrente (RSL). Agora, a equipe propõe a hipótese de que o derretimento do gelo no regolito próximo da superfície marciana estaria deixando-a mais vulnerável à ação das tempestades de poeira e do vento.

Então, para testar a ideia, os cientistas realizaram experimentos em laboratório para observar o que aconteceria quando submetessem amostras análogas ao solo de Marte, com sais de cloro e sulfatos, aos processos de congelamento e descongelamento em temperaturas tão baixas quanto aquelas que correm no planeta. Como resultado, eles notaram que houve a formação de gelo lamacento próximo dos -50 °C, derretimento gradual do gelo de -40 °C a -20 °C e finas camadas de líquido junto de superfícies granulosas.

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Com o modelo do comportamento dos sais de cloro e sulfatos sob baixas temperaturas, foi possível observar como os compostos estão intimamente ligados um ao outro. Assim, pode ser que a água em estado líquido esteja migrando sob o solo, transferindo moléculas de água entre os sais. Outros experimentos testaram as reações em um solo análogo ao de Marte com indicadores de cores, que revelaram a hidratação da subsuperfície nestes sais.

Bishop, autora líder do estudo, ficou impressionada com as reações que ocorreram com a água e os sais nos experimentos, que resultaram no colapso do solo análogo a Marte em pequena escala: “o experimento replicou o colapso geológico que ocorre em outras formações em grande escala”, disse. O projeto nasceu a partir de análises de sedimentos de uma das áreas mais frias e secas da terra, localizada na Antártida, que permitiram o entendimento do sal nas camadas mais próximas da superfície: "como os sedimentos de Dry Valley são análogos àqueles de Marte, nossos experimentos podem trazer pistas sobre os processos que podem estar acontecendo lá", disse Peter Englert, professor da Universidade do Havaí.

Como havia grandes concentrações dos sais pouco abaixo da superfície, eles acreditam que estes compostos tenham papel importante na causa dos deslizamentos. Assim, além de ajudar a explicar os processos químicos e geológicos do Planeta Vermelho, a teoria também sugere que o planeta segue em um processo de evolução e ainda está ativo, o que traz implicações tanto para a astrobiologia quanto para a futura exploração do planeta: "estou animada com a possibilidade de água líquida em microescala próxima da superfície em Marte, e isso pode revolucionar nossa perspectiva da química ativa pouco abaixo da superfície de Marte hoje", finaliza Bishop.

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O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista Science Advances.

Fonte: SETI Institute, SOEST