Galáxias anãs próximas da Via Láctea chegaram há pouco tempo às redondezas
Por Daniele Cavalcante • Editado por Patricia Gnipper | •
Durante décadas, as galáxias anãs localizadas nas periferias da Via Láctea foram consideradas como galáxias satélites que orbitam nossa própria galáxia. Entretanto, dados da missão Gaia revelaram que a história desses objetos é completamente diferente — na verdade, elas acabaram de chegar à nossa redondeza cósmica.
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Ao redor da Via Láctea, existem aglomerados de estrelas compostos de poucos bilhões de estrelas — um número pequeno quando comparado às mais de 200 bilhões existentes em nosso Grupo Local. Normalmente, elas são chamadas de galáxias satélites, porque se considerava que elas estavam “presas” na órbita da Via Láctea há muitos bilhões de anos. Bem, parece que este não é o caso.
De acordo com uma análise do terceiro conjunto de dados da missão Gaia, da Agência Espacial Europeia (ESA), as galáxias anãs não estão em nossa companhia há tanto tempo assim. O estudo foi conduzido por uma equipe internacional de cientistas da Europa e China, e calculou os movimentos de 40 galáxias anãs em torno da Via Láctea.
Em seguida, eles usaram os resultados para calcular a energia orbital das galáxias e o momento angular (rotacional). Os resultados foram surpreendentes, e provavelmente mudarão boa parte da história já escrita sobre a Via Láctea e o Grupo Local. Eles descobriram que essas galáxias estão se movendo muito mais rápido do que deveriam.
Para saber qual seria a velocidade e momento angular de uma galáxia anã que orbita a Via Láctea, os astrônomos usaram estrelas gigantes e aglomerados de estrelas que, de fato, estão “presos” na órbita da nossa galáxia. Via Láctea. Quando comparados, as anãs se movem tão rápido que simplesmente não poderiam estar em órbita. Se estivessem, a própria gravidade da Via Láctea teria diminuído a energia orbital e momento angular.
É possível comparar, por exemplo, esses movimentos com os das estrelas de uma galáxia anã chamada Sagitário, que foi “devorada” pela Via Láctea há 4 ou 5 bilhões de anos (pode parecer muito tempo, mas nossa galáxia tem aproximadamente 13,6 bilhões de anos). A energia das estrelas da Sagitário é maior que a de Gaia-Enceladus, outra galáxia anã absorvida pela Via Láctea, há cerca de 8 bilhões de anos.
Já as galáxias anãs do novo estudo tem energias são ainda mais altas do que as estrelas da Sagitário. Isso é uma evidência forte o suficiente de que essas 40 anãs só chegaram à nossa vizinhança nos últimos bilhões de anos, e ainda estão longe de serem assimiladas pela Via Láctea. A própria Sagitário, que já foi “engolida”, ainda está em processo de assimilação.
O que acontecerá com essas galáxias anãs?
A pergunta que fica agora é: será que essas 40 galáxias anãs serão “devoradas” pela Via Láctea no futuro, passarão direto por nós ou se estabelecerão como satélites? De acordo com a equipe, algumas delas sim, mas é muito difícil dizer quais, ou quantas. Isso depende muito da massa exata da Via Láctea, e é difícil obter essa medida com precisão. As estimativas mais recentes são de que nossa galáxia teria 1,5 trilhão de massas solares, mas outros cálculos obtiveram valores diferentes.
Outro fator a ser considerado é a massa da matéria escura dessas galáxias anãs. É que conforme uma anã orbita uma galáxia imensa como a nossa, a atração gravitacional desmanchá-la, ou seja, separar suas estrelas de modo que elas passem a fazer parte da galáxia maior. Por outro lado, o que mantém as galáxias “grudadas” é a matéria escura. Por isso, a quantidade de matéria escura em uma galáxia anã dirá se ela vai sobreviver à passagem pela Via Láctea ou se será desmembrada.
Anteriormente, acreditava-se que as anãs só haviam resistido às forças de marés da Via Láctea porque seriam dominadas por grandes quantidades de matéria escura. Agora, sabendo que elas chegaram por aqui há pouco tempo, elas não necessariamente possuem qualquer matéria escura. Os astrônomos terão que reavaliar se esses sistemas estão em equilíbrio de forças (matéria escura x forças de marés) ou em processo de serem absorvidas pela Via Láctea.
Fonte: ESA