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Novos dados da missão Gaia revelam mais do passado e futuro da da Via Láctea

Por| 03 de Dezembro de 2020 às 14h15

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ESA/Gaia/DPAC
ESA/Gaia/DPAC

Nesta quinta-feira (3), uma equipe internacional de astrônomos anunciou o catálogo mais detalhado já feito das estrelas em uma grande área da Via Láctea: medidas das posições estelares, movimento, brilho e cores estão no Gaia Early third Data Release (EDR3), a terceira publicação de dados do observatório espacial Gaia, da Agência Espacial Europeia (ESA), que foram disponibilizados ao público. Os novos dados contam também com a primeira medida óptica da aceleração do Sistema Solar.

O Gaia ED3 conta com informações detalhadas de mais de 1,8 bilhões de fontes que foram detectadas pelo observatório — na prática, isso é um aumento de mais de 100 milhões de fontes em relação ao Gaia DR2, a publicação anterior de dados. Além disso, a nova leva conta com informações em cores de cerca de 1,5 bilhão de fontes, com medidas feitas com ainda mais precisão. Para Jos de Bruijne, cientista de projeto do Gaia, os novos dados prometem ser um tesouro para os astrônomos.

Essa colocação não foi feita sem fundamento: os novos dados permitiram que os astrônomos rastreassem populações de estrelas de idades variadas em direção ao "anticentro" da Via Láctea, localizado em seus limites. Então, os novos dados nos permitem ver as relíquias do antigo disco de 10 bilhões de anos, e assim determinar sua menor extensão em comparação com o tamanho atual do disco da Via Láctea. De acordo com modelos computacionais, o disco da Via Láctea vai crescer com o nascimento de novas estrelas.

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Assim, os novos dados das regiões mais externas do disco mostram que há estrelas se movendo lentamente acima do plano da Via Láctea, que seguem descendo em direção a ele, enquanto estrelas em alta velocidade abaixo do plano se movem para cima. Esse padrão não havia sido previsto antes, e pode ser o resultado da colisão que quase ocorreu entre a Via Láctea e Sagitário, uma galáxia anã que orbita a nossa. O novo estudo conta com ainda mais evidências dos efeitos fortes que o evento causou no disco de estrelas da nossa galáxia. Outra novidade que o Gaia trouxe é a medida da aceleração do Sistema Solar em relação ao resto do universo, de 0,23 nanômetros por segundo. Essa aceleração é pequena, e indica que o Sol se acelera em direção ao centro da Via Láctea. Trata-se da primeira medida da curvatura da órbita do Sistema Solar em torno da galáxia na história da astronomia óptica.

Por fim, mais um estudo feito teve como objetos as Pequena e a Grande Nuvem de Magalhães, as duas maiores galáxias que fazem companhia para a nossa. As medidas do movimento das estrelas da Grande Nuvem de Magalhães foram feitas com mais precisão do que nunca, de modo que o Gaia ED3 mostrou que a galáxia tem claramente uma estrutura espiral. Ainda, os dados mostram um fluxo de estrelas sendo puxado para fora da Pequena Nuvem de Magalhães, o que indica que existem estruturas não observadas nas duas.

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Dr. Floor van Leeuwen, da Universidade de Cambridge e gerente de projeto do UK Gaia DPAC, comenta que o “Gaia está medindo as distâncias de centenas de milhões de objetos que estão a vários milhares de anos-luz de distância a uma precisão equivalente a medir a espessura de um fio de cabelo a mais de 2 mil quilômetros de distância”, diz. Esses dados fazem parte da espinha dorsal da astrofísica, e permitem que os cientistas analisem nossa vizinhança e para chegarem a questões cruciais sobre a origem e futuro da nossa galáxia.

Lançado em 2013, o Gaia opera no ponto Lagrangiano L2, que fica na direção oposta ao Sol e permite que o observatório mantenha uma posição estável enquanto estuda o céu sem obstruções. É esperado que continue coletando dados até pelo menos 2022, mas sua missão poderá ser estendida até 2025. As publicações finais dos dados obtidos pelo observatório deverão apresentar posições estelares com 1,9 vezes a precisão daqueles liberados até agora, e movimento 7 vezes mais preciso em um catálogo de mais de 2 bilhões de objetos.

Fonte: ESA