Física misteriosa governou o universo para que pudéssemos existir
Por Daniele Cavalcante • Editado por Patricia Gnipper |

Em nosso universo existem muito mais partículas do que antipartículas e os cientistas não sabem o porquê, mas uma boa pista pode ter sido finalmente encontrada. Um novo estudo descobriu uma falta de simetria na distribuição de galáxias, sugerindo que algum tipo de força desconhecida entrou em jogo e violou a chamada paridade, logo após o Big Bang.
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Se nosso universo fosse matematicamente perfeito, ele provavelmente não existiria. Ou melhor, haveria apenas um brilho deixado pelas partículas e antipartículas que deveriam surgir em quantidades iguais. Uma antipartícula é quase igual à sua contraparte, mas uma de suas propriedades terá valor oposto.
Um exemplo de antipartícula é o pósitron, a contraparte do elétron: ele possui carga positiva, enquanto o elétron tem carga negativa. Se os modelos padrão atuais dizem que o universo é totalmente simétrico, partículas e antipartículas deveriam ter surgido ao mesmo tempo com o Big Bang.
Contudo, isso não ocorreu, e a prova é que estamos aqui, isto é, as partículas não foram anuladas (ou eliminadas) pelas suas contrapartes. Se isso tivesse acontecido, nada sobraria no cosmos além de uma certa luminosidade.
Se estamos aqui, em um universo cheio de matéria e pouca antimatéria, então o princípio da paridade (ou simetria) foi violado em algum momento — provavelmente logo após o Big Bang. Mas quando? E por quê? Para tentar responder, o Dr. Robert Cahn, o professor Zachary Slepian e o Dr. Jiamin Hou propuseram que a solução pode estar na distribuição das galáxias.
Ao analisar mais de um milhão de galáxias vermelhas em um supercomputador, a equipe descobriu que existe uma “preferência” do universo em uma certa disposição. Eles escolheram o formato de tetraedro (uma pirâmide triangular com quatro pontos), e investigaram a posição e orientação de cada grupo formado por quatro galáxias.
Em um universo inteiramente simétrico, haveria uma quantidade igual de cada uma das orientações possíveis nos tetraedros formados por galáxias. Basicamente, metade dos tetraedros teria uma orientação e a outra metade seria como uma imagem espelhada. Porém, não foi isso o que a equipe encontrou.
O resultado sugere que o universo não é exatamente simétrico na distribuição galáctica, ou seja, a simetria que deveria existir foi violada em algum momento. Segundo os autores, nada conhecido pela ciência pode explicar suas descobertas exceto a hipótese da violação de paridade, ocorrida graças a alguma força misteriosa que governou o universo naquela época.
Se essa força deu preferência a uma determinada distribuição de galáxias, também pode ter "preferido" uma certa distribuição de partículas e antipartículas. Descobrir como isso aconteceu e que força estranha é essa vai ser algo que vai ficar para futuros estudos.
Um artigo trazendos os resultados foi publicado na Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.
Fonte: EurekAlert, Monthly Notices of the Royal Astronomical Society