Estrela "zumbi" pode explicar misterioso evento astronômico de 800 anos atrás
Por Daniele Cavalcante • Editado por Patricia Gnipper |
Quando uma estrela massiva explode em supernova, o remanescente que fica para contar história pode ser uma estrela de nêutrons, um buraco negro ou apenas uma nebulosa, com o núcleo estelar completamente destruído. Exceto no caso da estrela J005311, também conhecida como Parker Star, que parece ter explodido, mas continua a brilhar perto de uma nebulosa um tanto estranha.
- Novo detector de supernovas avisará astrônomos quando uma estrela explodir
- Por que vemos tão poucas supernovas? A poeira da Via Láctea pode ser a culpada
- Este é um dos maiores remanescentes de supernova já detectado na Via Láctea
Essa história começou no ano 1181 dC, quando astrônomos chineses e japoneses viram um brilho intenso no céu, e chamaram de “estrela convidada”. Eles escreveram o relato porque foi algo realmente peculiar — no lugar daquele brilho estranho não havia nenhuma estrela conhecida anteriormente. O brilho do evento de 1181 foi descrito como algo tão brilhante quanto Saturno, e permaneceu visível a olho nu por 185 dias.
Cientistas modernos suspeitam que o fenômeno seria uma supernova, mas ainda não haviam comprovado a hipótese. Por décadas, cogitou-se que uma nebulosa localizada ali perto seria o remanescente da supernova, mas novas estimativas indicaram que essa nebulosa teria aproximadamente 7.000 anos. Ou seja, ela é muito velha para ser os restos do evento de 1181.
Agora, um novo estudo liderado por astrônomos da Universidade de Hong Kong sugere que uma determinada estrela ainda “viva” teria causado aquele brilho imenso. A equipe analisou os dados do Wide-field Infrared Survey Explorer, da NASA, e encontrou essa estrela Wolf-Rayet, que é uma categoria entre as mais quentes conhecidas. Eles apelidaram a estrela de “Parker”, em homenagem a um dos líderes do estudo. Em torno dessa estrela, há uma nebulosa, apelidada de Pa 30.
Há uma série de curiosidades sobre essas descobertas. A primeira é sobre a nebulosa Pa 30, que tem uma velocidade de expansão de cerca de 1.100 km/s, o que é muito lento para um remanescente de supernova. Mas considerando seu tamanho atual, os cientistas estimaram que ela se formou a partir de uma explosão estelar há cerca de 1.000 anos. A data coincide exatamente com a "estrela convidada" das observações antigas.
Outra peculiaridade é que essa nebulosa está ao redor da estrela J005311, o que é estranho, pois a Parker não é uma estrela de nêutrons, muito menos um buraco negro. É uma Wolf-Rayet, ou seja, mesmo sendo evoluída, está em plena atividade fundindo hélio ou elementos mais pesados no núcleo. Elas estão entre as estrelas mais brilhantes do céu. Como explicar essa explosão de supernova com uma nebulosa de baixa velocidade e uma estrela brilhante?
A solução encontrada pelos pesquisadores é um tipo raríssimo de explosão estelar, conhecido como supernova Tipo Iax. Nesse evento, não ocorre a explosão completa da estrela. Nesse caso, o remanescente da explosão é uma nebulosa de expansão não muito veloz, cujo centro é habitado por uma estrela brilhante, apelidada de “estrela zumbi”.
Se esse estudo for comprovado, esse será o único remanescente desse tipo na Via Láctea. Além disso, terá enfim solucionado o mistério da estrela convidada dos relatos antigos. O estudo está disponível em formato de pre-print e deve ser ainda revisado por pares para ser aceito em alguma publicação científica.
Fonte: Universe Today