Pesquisa arqueológica é conduzida na ISS para entender vida de astronautas
Por Danielle Cassita • Editado por Luciana Zaramela | •

Foram publicados os primeiros resultados do Projeto Arqueológico da Estação Espacial Internacional. Por meio da iniciativa, pesquisadores usaram uma abordagem arqueológica para estudar como os astronautas usam as diferentes áreas do laboratório orbital considerando seus materiais como artefatos.
Desde seu lançamento, a Estação Espacial Internacional (ou apenas ISS) recebeu mais de 200 tripulantes. Mas, afinal, como as pessoas ali se adaptam à vida na microgravidade? As entrevistas com os astronautas ajudam a mostrar as experiências individuais deles, mas os pesquisadores queriam entender melhor o que descreveram como uma “microssociedade em um minimundo”.
“O valor de uma abordagem focada na cultura material é o que permite a identificação de padrões de comportamento e associações a longo prazo, as quais os interlocutores não conseguem ou não querem articular”, escreveu a equipe. Ainda, eles queriam desenvolver técnicas arqueológicas que permitam o estudo de habitats em ambientes remotos e até extremos ou perigosos.
Iniciado em 2022, o trabalho começou com a adaptação da escavação do poço-teste. Trata-se de uma técnica arqueológica tradicional, em que são escavadas pequenas aberturas separadas por intervalos em um sítio arqueológico para os pesquisadores entenderem como os artefatos são distribuídos. Desta forma, eles podem decidir quais áreas precisam de mais ou menos escavações.
Claro que não é nem um pouco recomendável escavar a ISS. Assim, os arqueólogos pediram aos astronautas que documentassem seis locais na estação e tirassem fotos de lá por 60 dias. As áreas incluíram um local para a manutenção de equipamentos, uma perto dos banheiros da ISS e outra onde ficam os equipamentos de exercícios físicos.
As fotos foram analisadas com uma plataforma criada pela equipe, e revelaram mais de 5.400 locais onde os “artefatos” (como ferramentas de escrita) eram usados para fins variados, como . Os resultados mostram algumas discrepâncias entre o uso sugerido e real de algumas áreas na ISS: por exemplo, análises cruzadas das imagens mostraram que o local perto dos equipamentos de exercício e dos banheiros eram usados para o armazenamento de itens de higiene, sacos reutilizáveis e até um computador não muito usado.
Já a área de manutenção também era bastante usada para armazenamento de itens — e, ironicamente, pouca ou nenhuma atividade de manutenção era executada lá. Os resultados mostram que os cientistas das futuras missões espaciais precisam considerar como as áreas projetadas em uma estação precisam ter suas funções definidas claramente.
Ainda, o estudo mostra como as técnicas da arqueologia podem ser usadas e adaptadas para estudos de locais remotos, como o laboratório orbital. “Arquitetos e planejadores de futuras estações espaciais podem aprender lições valiosas com este trabalho”, finalizaram.
O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista PLOS ONE.