Cometa visto há 50 mil anos se aproxima da Terra — talvez pela última vez
Por Daniele Cavalcante • Editado por Patricia Gnipper |
O cometa C/2022 E3 (ZTF) fará sua aproximação máxima do Sol no dia 12 de janeiro, chegando o mais próximo possível da Terra no início de fevereiro, quando ele pode atingir 6º, magnitude, tornando-se visível para nós por meio de um par de binóculos. O problema é que não poderemos vê-lo no hemisfério Sul.
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Descoberto em março de 2022, o C/2022 E3 (ZTF) tinha naquela época uma magnitude aparente de 17,3 (muito mais fraco que o atual brilho de magnitude 6), a cerca de 4,3 UA (640 milhões de km) do Sol.
Após a descobertas, os astrônomos achavam que o objeto se tratava de um asteroide, mas não demorou muito para perceberem o coma (uma espécie de nuvem de poeira e gás que surge ao redor do cometa quando ele se aproxima do Sol) muito condensado.
O mais fascinante sobre o C/2022 E3 (ZTF) é que a última vez que ele passeou em nossa vizinhança foi há 50 mil anos, no período Paleolítico Superior. Isso é mais ou menos a época em que os nossos ancestrais começaram a se organizar nos primeiros assentamentos habitacionais.
Tal demora para retornar ao Sistema Solar interno se deve ao fato deste objeto vir da misteriosa Nuvem de Oort — uma região muito ampla e muito afastada, nos confins do Sistema Solar, muito além do Cinturão de Kuiper.
Para se ter noção da distância da Nuvem de Oort, a sonda Voyager 1, após 45 anos de missão, atingiu o espaço interestelar, mas ainda levará 300 anos antes de chegar à borda interna da nuvem e outros 30.000 anos para sair deste anel de rochas gigantes congeladas.
Este cometa também tem uma órbita extremamente alongada e, por ter se encontrado com o Sol pouquíssimas vezes, provavelmente sua química está quase intacta desde a formação do Sistema Solar.
Após passar pela constelação Corona Boreallis, o C/2022 E3 (ZTF) começou a “voar” em direção à Ursa Maior, e nos próximos dias e semanas começará a ganhar velocidade rumo à estrela Polaris. Todos esses nomes são constelações e estrelas localizadas próximo ao polo Norte celeste, ou seja, não visíveis no hemisfério Sul.
Observadores do Norte devem aproveitar a ocasião, se quiserem ver esse objeto da nuvem de Oort, já que o C/2022 E3 (ZTF) só deve retornar daqui a outros 50 mil anos— ou talvez nunca mais visite as nossas redondezas.
Agora em fevereiro de 2023, quando estiver mais próximo da Terra, o cometa estará a cerca de 43 milhões de km de nós. É improvável que mesmo os habitantes do hemisfério Norte vejam algo espetacular, mas sim uma pequena mancha difusa se usarem binóculos ou telescópios domésticos.
Fonte: SkyatNight