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Ciclos sazonais podem estar por trás da paisagem de Titã, lua de Saturno

Por| Editado por Rafael Rigues | 25 de Abril de 2022 às 18h30

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NASA
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A lua Titã, de Saturno, pode ter as dunas e outras formações de sua paisagem esculpidas através de processos que criam substâncias baseadas em hidrocarbonetos, formando areia ou rochas; depois, ciclos sazonais ajudam a mover grãos desse material pela superfície da lua. A conclusão vem de um estudo liderado por Mathieu Lapôtre junto de colegas, que criaram um modelo para explicar os processos dos ciclos e o movimento dos grãos.

Além de mares e lagos de metano, Titã tem ventos de nitrogênio que ajudam a esculpir dunas de areia de hidrocarbonetos. Esta lua é um dos alvos favoritos para a exploração espacial em função de sua possível habitabilidade, sendo também o único outro corpo conhecido no Sistema Solar com um ciclo sazonal de transporte de líquidos — exatamente o foco do modelo desenvolvido pela equipe, que mostra o funcionamento dos ciclos e pode ajudar os cientistas a entender como os ambientes sedimentares da lua funcionam em conjunto.

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Só que, antes de criar o modelo para simular a formação das paisagens de Titã, a equipe precisou responder uma grande pergunta: como os compostos orgânicos, considerados muito mais frágeis que os inorgânicos, podem se transformar em grãos capazes de formar estruturas? Talvez a explicação disso esteja em nosso próprio planeta já que, por aqui, as rochas e minerais de silicatos na superfície se transformam em grãos ao longo do tempo por processos erosivos.

Quando isso ocorre, estes grãos se movem com a ajuda dos ventos e rios para serem depositados em camadas de sedimentos que, um dia, vão dar origem a rochas. Pode ser que algo do tipo ocorra em Titã, com a diferença que os sedimentos por lá são feitos de compostos orgânicos — o que vinha intrigando os cientistas, que não sabiam como demonstrar que estes compostos podiam se tornar grãos capazes de serem transportados.

Ao que tudo indica, a resposta por trás disso está nos oóides, pequenos grãos esféricos que se formam através da precipitação química que permite que cresçam, enquanto a erosão desacelera sua expansão. Estes dois mecanismos se equilibram, e os pesquisadores acreditam que estejam ocorrendo em Titã. “Nós propomos que a sinterização — que envolve grãos vizinhos se fundindo em uma única peça — possa contrabalançar o desgaste quando os ventos transportam os grãos”, disse Lapôtre.

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Com esta hipótese em mãos, Lapôtre e seus colegas trabalharam com dados sobre o clima e direção do transporte de grãos pelo vento para explicar a formação das dunas no equador de Titã, das planícies em latitudes médias e de terrenos labirínticos próximos dos polos. No fim, a modelagem dos dados mostrou que os ventos são comuns perto do equador, dando apoio à ideia de que grãos de areia, componentes críticos das dunas, podem ser formados lá.

Os autores preveem uma pausa no transporte nos dois lados do equador, onde a sinterização pode criar grãos cada vez mais firmes até que, eventualmente, os transforma em rochas das planícies de Titã. Os grãos também podem ser os responsáveis pela formação dos terrenos labirínticos próximos dos polos da lua. Assim, os autores concluem que, em Titã, há ciclos sedimentares ativos, que podem explicar a distribuição latitudinal de paisagens causadas por ciclos sazonais.

O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista Geophysical Research Letters.

Fonte: Geophysical Research Letters; Via: Stanford University