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"Censo estelar" revela a diversidade de 100 mil nuvens formadoras de estrelas

Por| Editado por Patricia Gnipper | 22 de Junho de 2021 às 09h40

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ALMA (ESO/NAOJ/NRAO)/PHANGS, S. Dagnello (NRAO)
ALMA (ESO/NAOJ/NRAO)/PHANGS, S. Dagnello (NRAO)

Uma equipe de astrônomos finalizou o primeiro “censo” dos berçários estelares do universo próximo, e o resultado foi surpreendente: ao analisar 100 mil deles em 90 galáxias, com o projeto Physics at High Angular Resolution in Nearby Galaxies (PHANGS), eles perceberam que, ao contrário do que se pensava até então, as nuvens moleculares formadoras de estrelas não são todas iguais — na verdade, elas são tão diversas quanto as pessoas, as casas, bairros e regiões que formam o nosso mundo. 

As estrelas vêm das nuvens moleculares, que são formações de gás e poeira. Assim, o estudo foi feito em cinco anos com foco no “universo próximo”, uma região que recebe este nome por ficar perto da nossa galáxia. Adam Leroy, autor principal do estudo, explica que estes berçários são responsáveis por formar galáxias e planetas e são parte essencial da história de como chegamos até aqui: “pensávamos que todos os berçários estelares em toda galáxia eram mais ou menos iguais, mas esse estudo revelou que este não é o caso, e que os berçários mudam de um lugar para o outro”, disse. 

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As estrelas podem levar milhões de anos para se formar, e esse processo depende da disponibilidade de gás e poeira; já a quantidade de estrelas depende do lugar em que o berçário estelar está. Assim, a equipe trabalhou com o radiotelescópio Atacama Large Millimeter/Submillimeter Array (ALMA), no Chile, para estudar o brilho fraco da poeira e gás das nuvens moleculares mais escuras e densas, e entender como o lugar onde a nuvem está define a formação das estrelas. 

Eva Schinnerer, principal investigadora do PHANGS, explica que, para isso, eles precisaram ligar o nascimento de uma estrela ao seu lugar ao universo, como se ligassem uma pessoa à casa, bairro, cidade e região em que mora: “se a galáxia representa a cidade, então o bairro é o braço espiral, a casa é a unidade formadora de estrelas e as galáxias próximas são cidades vizinhas”, disse. Assim, as observações mostraram que essa “vizinhança” produz efeitos pequenos, mas acentuados, que influenciam o lugar em que as estrelas serão formadas e quantas delas vão nascer.

A equipe descobriu que diferentes estrelas são formadas dependendo de onde as nuvens moleculares delas estão nos discos galácticos, barras estelares, braços espirais ou centros das galáxias. “As nuvens nas regiões centrais e densas das galáxias tendem a ser mais massivas, densas e turbulentas que aquelas que ficam nas regiões mais externas da galáxia”, observa Annie Hughes, co-autora do estudo. Além disso, o ciclo de vida das nuvens também depende do ambiente: “a velocidade à que a nuvem forma estrelas e o processo que as destroi parecem depender de onde a nuvem está”, explicou. 

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Agora, a equipe tentará descobrir o que essa variação pode significar em relação à formação das estrelas e planetas, além do nosso lugar no universo. “Essa é a primeira vez que temos uma visão clara da população de berçários estelares em todo o universo próximo”, disse Leroy. “Nesse sentido, é um grande passo para entendermos de onde viemos”, afirma. Futuramente, a equipe espera investigar também as variações entre estes berçários estelares, bem como os efeitos que podem ter nas estrelas e planetas. 

O artigo com os resultados do estudo foi publicado no repositório online arXiv, e ainda não passou pela revisão de pares. 

Fonte: LiveScience, Eurekalert