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Buracos de minhoca podem estar no centro das galáxias ativas, propõe estudo

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M. A. Garlick/Wikipedia Creative Commons
M. A. Garlick/Wikipedia Creative Commons

Viajar para planetas inalcançáveis, localizados a milhares de anos-luz de distância, é o sonho de muitos cientistas. Contudo, eles sabem que isso é impossível, mesmo que viajássemos à velocidade da luz. Mas e se fosse possível pegar um atalho? E se esse atalho fosse um buraco de minhoca, estrutura espacial ainda hipotética que poderia levar uma nave para outras galáxias em questão de minutos, ou até mesmo de segundos? Isso é o que uma equipe de astrônomos russos sugere em um artigo publicado na Monthly Notices of the Royal Society.

Buracos de minhoca fazem parte do imaginário popular. O conceito, proposto primeiro na década de 1920, é o que possibilitou histórias sobre viagens no tempo e portais para outros universos. Mas, apesar de parecerem restritos à ficção científica, os buracos de minhoca são um assunto sério para uma parcela dos físicos teóricos e matemáticos. Desde a teoria da relatividade geral de Albert Einstein, cientistas encontram diversas possibilidades para esses objetos existirem — com o próprio Einstein entre eles.

A teoria da relatividade geral mudou a forma como compreendemos o universo, trazendo novas formas de pensar em conceitos como espaço e tempo. As ideias dele a respeito da física eram tão radicalmente profundas que buracos negros se tornaram possíveis, embora por muito tempo fossem apenas uma especulação. Nos últimos anos detectamos esses objetos invisíveis, confirmamos sua existência e, mais recentemente, fotografamos um deles. Bem, os “buracos de minhoca” também são possíveis na teoria de Einstein.

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Se o espaço e o tempo são relativos e formam uma estrutura, formando uma espécie de “tecido” ou “malha” que pode ser influenciada pela força gravitacional, ela também pode ser dobrada. Imagine, por exemplo, um objeto extremamente denso, atraindo tudo que há perto dele para si, curvando e dobrando o tecido do espaço-tempo. A malha pode se tornar tão curva que nem mesmo a luz pode escapar — este é o buraco negro. Coisa de ficção científica até poucos anos atrás. Este mesmo conceito permite, na teoria, que buracos de minhoca sejam criados no universo.

Foi a partir dessa noção que cientistas de toda a parte imaginaram diferentes tipos de buracos de minhoca. Em 1935, por exemplo, Einstein e Nathan Rosen tivera uma ideia louca: duas “folhas” do espaço-tempo podem ser unidas, criando uma ponte entre dois universos. Este é apenas um tipo de buraco de minhoca, e existem muitas outras propostas. Entre elas, está o grupo de astrônomos russos que propuseram algo bastante ousado — centros galácticos são, na verdade, buracos de minhoca, de acordo com a pesquisa deles.

A hipótese é ousada porque os cientistas já chegaram a um consenso de que os centros galácticos são buracos negros supermassivos (SMBHs, na sigla em inglês). Existem estudos bem consistentes nesse sentido, inclusive a respeito de nossa própria galáxia, a Via Láctea. Observando a influência gravitacional que as estrelas no centro da galáxia recebem de algum objeto invisível, os cientistas podem dizer que há, sim, um buraco negro ali. No coração de cada galáxia deve haver um.

Bem, para a equipe russa, não é bem assim. Eles alegam que buracos de minhoca podem estar no centro de algumas galáxias muito brilhantes. A base para essa conclusão é a seguinte: imagine o que aconteceria se uma matéria sai do lado de lá de um lado do buraco de minhoca ao mesmo tempo em que alguma matéria do lado de cá estiver caindo dentro do mesmo buraco. Bem, haveria uma colisão entre as duas matérias. Os cálculos mostram isso resultaria em uma emissão fantástica de raios gama, que podem ser detectados através de telescópios bastante específicos.

Ainda de acordo com o estudo, essa emissão de raios gama seria muito diferente das emissões que existem ao redor dos buracos negros, então é possível diferenciar uma coisa da outra. Por exemplo, buracos negros devem produzir uma quantidade menor dessa radiação, e ejetá-la em um jato, enquanto a radiação do buraco de minhoca ficaria confinada a uma esfera gigante. A ideia não é exatamente nova, mas traz abordagens e cálculos interessantes para uma futura busca, quando tivermos instrumentos sensíveis o bastante para detectar esses objetos.

Existem outros estudos que parecem complementar o artigo dos astrônomos russos. Por exemplo, uma pesquisa recente relatou a descoberta de alguns “círculos de rádio estranhos” detectados no espaço, sem que houvesse nenhum objeto visível associado a eles. Por enquanto, não há nenhuma explicação convencional para essa descoberta, então alguns estudiosos começaram a propor que se tratasse de buracos de minhoca. Além disso, pode-se cogitar que a gravidade que influencia as estrelas nos centros galácticos vem de objetos que estariam do outro lado do suposto buraco de minhoca.

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Tudo parece fazer sentido, e parece que vários cientistas continuarão nessa busca. A má notícia é que o tipo de buraco de minhoca proposto pelos astrônomos russos, além de distante demais do nosso planeta, seria um lugar muito quente. Afinal, estamos falando de um centro galáctico ativo, onde qualquer coisa que se aproximasse seria obliterada pela temperatura. A boa notícia é que buracos de minhoca distantes do centro galáctico poderiam ser atravessados por nós, seres humanos — quer dizer, se encontrarmos um deles perto o suficiente de nós.

Fonte: The Conversation