Assim como a Terra, Marte também oscila em seu próprio eixo
Por Daniele Cavalcante | 11 de Janeiro de 2021 às 22h20
A Terra gira uma vez a cada 24 horas em seu eixo, mas essa rotação não é tão perfeita. Algumas forças fazem com que nosso planeta oscile enquanto gira, ou seja, o eixo terrestre tem um movimento de deslocação da posição esperada. Essa “imperfeição” é chamada de oscilação de Chandler, e pensava-se que era algo exclusivo da Terra, mas um novo estudo mostra que Marte também oscila de forma semelhante.
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De acordo com os autores do estudo, os polos de Marte se deslocam a cerca de 10 centímetros de distância do eixo de rotação, a cada 200 dias ou mais. Na Terra, a oscilação afasta os polos até cerca de 9 metros para longe do eixo de rotação, levando 433 dias ou mais para completar o movimento. Ou seja, a oscilação de Chandler é bem mais acentuada na Terra. Seja como for, em ambos os casos o resultado é um movimento semelhante ao de um pião balançando ao perder velocidade.
Essa irregularidade na oscilação do eixo terrestre foi descoberta em 1891 e ainda hoje é um enigma. Existem algumas teorias que tentam explicar a causa do movimento, como a ideia de que ela é provocada por mudanças na temperatura e salinidade dos oceanos, ou por mudanças no clima. Contudo, ninguém conseguiu comprovar nenhuma delas. A oscilação também surpreende ao continuar até hoje — acreditava-se antes que ela duraria apenas cerca de um século, mas ainda hoje ela desafia os cientistas.
Em Marte, a oscilação também é um mistério, mas a ausência de oceanos no Planeta Vermelho ajuda a descartar hipóteses relacionadas aos mares como causa do fenômeno. Ainda que ainda não seja possível determinar com certeza a origem do movimento, a descoberta oferece algumas pistas sobre o interior de Marte, já que o tempo que leva para o polo marciano completar um ciclo de oscilação mostra o quanto o manto de Marte pode deformar.
Levou bastante tempo para que dados o suficiente fossem coletados para detectar esse movimento sutil. Os pesquisadores tiveram que usar 18 anos de informações obtidas por três satélites que orbitam o Planeta Vermelho — Mars Odyssey, Mars Reconnaissance Orbiter e Mars Global Surveyor — para finalmente determinar a oscilação. Graças à grande quantidade de dados, os cientistas puderam determinar que o movimento é ligado à forma e ao interior do planeta, e não a fatores externos como derretimento das calotas polares.
Provavelmente, a oscilação marciana deve diminuir naturalmente, mas novos estudos devem ser realizados para compreender melhor o fenômeno. Isso dará aos cientistas algumas informações sobre a composição e temperatura do interior de Marte, já que o movimento deve ser impulsionado pelo manto (camada abaixo da crosta) do planeta.
Fonte: EOS