Após seis anos, missão indiana não produziu muitos dados científicos sobre Marte
Por Danielle Cassita |
Na semana passada, completaram-se seis anos desde o lançamento da missão Mars Orbiter — ou Mangalyaan —, da Organização Indiana de Pesquisa Espacial (ISRO). Esta foi a primeira missão interplanetária do país e é considerada também a missão espacial de maior sucesso da Índia. Entretanto, pode ser que esta não seja a melhor forma de referência às conquistas da Mars Orbiter.
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A Mars Orbiter Mission passou a orbitar o Planeta Vermelho em setembro de 2014 logo na primeira tentativa. Três anos após seu estabelecimento na órbita de Marte, a missão liberou uma nova remessa de dados coletados. Recentemente, a ISRO comunicou que o satélite está em bom estado e continua funcionando como o esperado, e as análises científicas dos dados obtidos pela Mars Orbiter estão em andamento. A missão teve custo de U$ 70 milhões, enquanto a missão MAVEN, da NASA, foi lançada em um momento semelhante e custou quase sete vezes mais.
Entretanto, depois de seis anos em órbita, ainda existem menos de 30 publicações revisadas por pares sobre as conquistas científicas da Mars Orbiter — e, dentro desta quantidade, pelo menos metade delas são descrições de engenharia da missão ao invés dos resultados científicos obtidos. Enquanto isso, a missão MAVEN já contribuiu para a produção de diversos resultados científicos sobre a atmosfera de Marte em cerca de 500 artigos e os que ainda estão por vir.
Além disso, a ISRO disponibilizou os dados de cinco instrumentos da missão em seu portal de dados e incentivou a comunidade científica indiana a contribuir com suas produções. Já em 2017, a agência anunciou que mais de 30 equipes de pesquisa estão explorando e analisando os dados da Mangalyaan, e mesmo assim ainda existe uma deficiência considerável de publicações. Outro problema está no sensor de metano da sonda: o instrumento deveria mapear o metano em Marte para os cientistas saberem se o gás poderia indicar vida subterrânea no Planeta Vermelho. Entretanto, dois anos depois de lançada, pesquisadores descobriram que o instrumento tinha uma falha e não pode identificar o metano, e passou a ser utilizado para medir a luz solar refletida da superfície do planeta.
Podemos considerar que essa falta da ciência nos resultados acontece porque a Mangalyaan é, na verdade, uma missão de demonstração de tecnologia que tem o objetivo de apresentar as capacidades de missões interplanetárias da ISRO. Essa até pode ser uma parte do problema, mas é preciso lembrar também que a missão foi apresentada desde o início com objetivos científicos. Os custos também poderiam ser uma justificativa, mas neste caso a missão Chandrayaan — também da ISRO — mostra que a questão não é essa: com custo de U$ 54 milhões, esta missão recebeu instrumentos de agências espaciais e universidades e rendeu centenas de publicações.
A Mangalyaan foi desenvolvida em apenas 18 meses, possivelmente porque a Índia queria lançá-la para orbitar Marte antes da China ou Japão. Se tivesse mais tempo, possivelmente levaria instrumentos e dispositivos mais robustos. Agora, a ISRO tem planos para lançar a Mangalyaan 2 em 2024 com uma sonda orbital renovada e 100 kg de instrumentos contra os 15 kg que sua antecessora levou. Então, veremos em um futuro não tão distante o que este novo passo na jornada de estudos sobre Marte poderá produzir.
Fonte: Jatan's Space, DNA India