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Alfaces cultivadas na ISS são saudáveis e poderão alimentar astronautas em Marte

Por| 06 de Março de 2020 às 16h32

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Shutterstock/SergeyDV
Shutterstock/SergeyDV
Tudo sobre NASA

Parte dos preparativos para as primeiras missões tripuladas em Marte são pesquisas sobre alimentos que podem ser cultivados no ambiente espacial. Estudos anteriores já mostraram que os astronautas poderão cultivar vegetais para comer durante viagens espaciais, e uma nova pesquisa aponta que a alface cultivada no espaço é tão nutritiva quanto a que temos aqui na Terra.

Gioia D. Massa, cientista de plantas do Centro Espacial Kennedy, da NASA, e autora de um novo artigo publicado na revista Frontiers in Plant Science, afirmou que foi “muito bom” não ter encontrado “nada completamente surpreendente, louco ou estranho” nas plantações de alface romana vermelha de sua pesquisa, o que aconteceu na Estação Espacial Internacional (ISS).

A NASA procura desenvolver alimentos processados que durem o suficiente para que os astronautas tenham o que comer durante o tempo que estiverem em Marte. Mas a agência também quer que haja métodos para o cultivo eficiente de vegetais em um ambiente com muito menos gravidade do que a Terra. O problema é que isso não pode exigir muito trabalho; afinal, os astronautas devem explorar o planeta vizinho com objetivos científicos, sem ter a alimentação como preocupação diária.

Há muitos problemas quando se pensa em plantio fora do nosso planeta. Coisas como falta da gravidade, solo adequado e chuva tornam tudo mais complicado. Na ISS, por exemplo, o Sol nasce 16 vezes a cada dia terrestre e, em apenas uma semana, a vida por lá é atingida com o equivalente a um ano de radiação no solo.

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Sem abelhas ou outros polinizadores, os humanos precisam de tempo para monitorar cuidadosamente as plantas e fazer o trabalho de mover o pólen de flor em flor na hora exata. Se perder a hora da polinização, você perdeu sua próxima colheita. Com tanta dificuldade, é preciso um sistema de plantio que facilite um pouco as coisas.

É aí que entra o Veggie, programa da NASA que visa cultivar plantas na ISS. Os astronautas a bordo do laboratório orbital costumam receber alimentos em pacotes através das naves que frequentemente levam suprimentos à estação, mas também há este programa, que inclui uma câmara de crescimento para plantas desde 2014.

No artigo publicado nesta sexta-feira (6), a Dra. Massa analisa experimentos com alface no período entre 2014 a 2016. Desde então, o Veggie também cultivou outras plantas, incluindo repolho chinês, zínia e mizuna. Mas não é fácil plantar no espaço: "você tende a ter desafios em regar suas plantas, onde podemos ter muita água ou pouca água", disse Dra. Massa. “A água reveste suas superfícies. Entupirá os poros das coisas. Até rastejará pelas plantas se você tiver muita água”.

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Para resolver esses problemas, a câmara do Veggie oferece uma argila cerâmica porosa que retém o ar e a água ao redor das raízes. Os LEDs fornecem luz nutritiva, e uma espécie de pavio conduz a água até as raízes. A alface vermelha plantada em ambiente de baixa gravidade é tão saudável quanto as cultivadas na Terra.

Na verdade, as alfaces até tiveram níveis um pouco mais altos de compostos saudáveis conhecidos como fenólicos, que agem como antioxidantes. É que as plantas produzem mais esses compostos quando estão estressadas, e o crescimento no ambiente de microgravidade pode ter estimulado o aumento deles. Essa é apenas uma hipótese, no momento, e são necessárias mais pesquisas para comprová-la.

Além disso, análises de DNA mostraram que os micróbios dentro e ao redor das plantas cultivadas na estação espacial pareciam ser similares em diversidade ao que pode ser encontrado nas plantações na Terra, e não havia sinais de patógenos que ocasionalmente contaminam as plantações.

Em agosto de 2015, os astronautas da ISS até puderam provar uma amostra dessas alfaces. Eles temperaram as folhas com algumas gotas de molho e aprovaram o sabor. "É incrível, é gostoso", disse o astronauta Kjell Lindgren, da NASA. Não foi uma colheita suficiente para uma salada farta, até porque metade das plantas foi enviada de volta à Terra para análise científica, mas foi a primeira vez que uma cultura em órbita foi bem sucedida com o hardware da NASA e, depois, consumida.

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Superando desafios

Esses resultados são muito animadores, considerando o histórico de tentativas. Cientistas estudam problemas de plantio no espaço desde antes da existência da NASA. Os resultados de experimentos na década de 1940 não foram bem sucedidos e, mais tarde, plantações de trigo cresceram com um número excessivo de folhas e nunca floresceram, por exemplo. Testes posteriores levaram o trigo a atingir sua fase de semente, mas as sementes eram estéreis. Algumas verduras de sementes foram cultivadas, mas a segunda geração de colheita espacial era fraca.

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Agora, após duas décadas de pesquisas em agricultura espacial na ISS, as duas câmaras do programa Veggie foram projetadas para levar esses estudos adiante. Uma série de sensores e protocolos bem definidos permitem que os pesquisadores reduzam variáveis e repliquem seus experimentos. Esse sistema também permite que eles implementem plantações cada vez mais complexas.

Mas ainda há muitos outros desafios pela frente, como o cultivo de tomates. Os cientistas terão que descobrir como reciclar as partes da planta que não serão consumidas, como folhas, caules e raízes. Mas os astronautas poderão comer tomates espaciais no próximo ano, caso a NASA encontre uma maneira de fornecer água e nutrientes com precisão nos 100 dias que o tomate leva para chegar ao ponto de colheita.

Em agosto deste ano, haverá uma plantação ainda mais desafiadora: a pimenta. Os cientistas planejam cultivar a Espanola Improved Pepper, uma variedade de crescimento rápido e fonte rica de vitamina C. Elas serão difíceis porque suas sementes precisam de duas semanas de condições perfeitas antes de germinar. Mas elas também são cientificamente interessantes, porque o genoma da pimenta é muito mais complexo que o do tomate, o que pode levar a mudanças interessantes no ambiente de alta radiação do espaço.

Fonte: Discover Magazine, The New York Times