A Grande Nuvem de Magalhães "comeu" uma galáxia e só restou um aglomerado
Por Daniele Cavalcante • Editado por Patricia Gnipper |
O universo pode ser um lugar grande e em constante expansão, mas a gravidade é implacável. Por causa dela, as galáxias se agrupam em aglomerados e, eventualmente, se canibalizam. Os astrônomos sabem que a Via Láctea, por exemplo, cresceu dessa maneira, mas agora há evidências de que a Grande Nuvem de Magalhães, uma galáxia anã satélite da nossa, também "devorou" outros objetos, como aglomerados globulares.
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Aglomerados globulares não são exatamente galáxias, mas são mais massivos que os aglomerados abertos. Em um único "globo", pode haver milhares ou milhões de estrelas, geralmente com menor metalicidade do que os aglomerados abertos. Em astronomia, a metalicidade diz respeito à quantidade de elementos além do hidrogênio e hélio (sim, qualquer outra coisa é chamada de “metálica”, no jargão astronômico).
Medir a metalicidade é importante porque as estrelas são as únicas “fábricas” de elementos mais pesados no universo. Isso significa que quanto mais antiga for uma estrela, aglomerado ou galáxia, menor o índice de metalicidade na composição, enquanto estrelas mais jovens tiveram a oportunidade de se formar a partir de nuvens enriquecidas por outros elementos criados pelas gerações estelares anteriores.
Ainda não se sabe muito sobre os processos de formação dos aglomerados globulares. Os astrônomos suspeitavam que eles teriam se formado a partir de uma única grande nuvem de gás, mas há indícios de que, após essa formação inicial, também colidem com outras nuvens para desencadear uma nova criação de estrelas. De qualquer forma, esses objetos são bem consistentes, mesmo após serem absorvidos por uma galáxia.
Um estudo liderado por Alessio Mucciarelli, professor do Departamento de Física e Astronomia da Universidade da Bolonha, Itália, relata que um certo aglomerado na Grande Nuvem de Magalhães, chamado NGC 2005, possui metalicidade inferior à de outros 10 aglomerados observados nessa mesma galáxia. Isso pode significar que o NGC 2005 teve uma origem peculiar: ela seria o que restou de uma galáxia menor que foi “engolida” pela Grande Nuvem de Magalhães.
Localizado a cerca de 750 anos-luz de distância do centro da Grande Nuvem, o aglomerado foi, há bilhões de anos, uma galáxia com baixa eficiência de formação de estrelas e uma massa semelhante à de uma galáxia esferoidal anã. Ao longo de bilhões de anos, a pequena galáxia foi separada e a maioria de suas estrelas se espalhou, mas o núcleo permaneceu coeso, praticamente intacto, e hoje é conhecido como NGC 2005.
A equipe de pesquisadores comparou a metalicidade das estrelas no NGC 2005 — mais de 200 mil! — com outros dez aglomerados da Grande Nuvem e outros 15 da Via Láctea. A quantidade de elementos mais pesados no NGC 2005 indica que sua origem ocorreu em regiões de formação estelar significativamente menos eficiente do que todo o restante da Grande Nuvem de Magalhães. “Isso é típico dos satélites esferoidais anões da Via Láctea”, disseram os autores, referindo-se a galáxias anãs esferoidais como Sagitário e Fornax, que orbitam a nossa própria galáxia.
Especificamente, Fornax é relativamente compatível com NGC 2005 em metalicidade, e é grande o suficiente para ser uma galáxia progenitora de algo como esse aglomerado. Em outras palavras, além de NGC 2005 ser uma “relíquia de uma fusão anterior” com a Grande Nuvem de Magalhães, também parece ser o que sobrou de uma galáxia esferoidal antiga como a Fornax. Também é a primeira vez que um estudo demonstra que galáxias anãs vizinhas da Via Láctea podem ter se formado a partir de galáxias ainda menores.
O estudo foi publicado na Nature Astronomy.
Fonte: Astronomie.nl, Universe Today