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The Fabelmans | O que é verdade e mentira no novo filme de Steven Spielberg

Por| Editado por Jones Oliveira | 19 de Janeiro de 2023 às 15h20

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Universal Pictures
Universal Pictures

Mais do que ser uma verdadeira declaração de amor ao cinema, Os Fabelmans é também um registro das memórias do diretor Steven Spielberg. Conhecido por criar grandes fantasias que se tornaram clássicos, o cineasta decidiu usar sua própria história para fazer essa celebração à magia da Sétima Arte.

E embora o longa seja apresentado como uma semiautobiografia que toma muitas liberdades em relação aos fatos que aconteceram, a verdade é que há várias situações e momentos representadas na trama que aconteceram com a família Spielberg e que marcaram a infância do pequeno Steven.

Ao mesmo tempo, há também aquelas romantizações e exageros que o cinema adora fazer e que sempre dão um tempero a mais na história. O problema é que, para o espectador, nem sempre é fácil diferenciar uma coisa da outra, ainda mais quando a infância de um dos maiores diretores de todos os tempos realmente tem cara de filme.

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Atenção! Este texto traz alguns spoilers de Os Fabelmans. Leia com cuidado para evitar não estragar algumas surpresas do filme.

Arte e ciência em família

A principal tensão dentro da história de Os Fabelmans é o confronto entre arte e ciência que o pequeno Sam Fabelman (Gabriel LaBelle) tem dentro de casa. Apaixonado pelo cinema desde criança, ele vê o embate entre o lúdico e o pragmático em suas figuras paternas, com sua mãe Mitzi (Michelle Williams) vivendo uma ex-pianista que incentiva o talento artístico do filho, enquanto o pai Burt (Paul Dano) é um engenheiro que vê no cinema apenas um hobby do filho.

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E essa é uma situação que Spielberg realmente encontrou na sua infância e adolescência. Sua mãe, Leah Adler, era mesmo uma musicista e toca piano desde os cinco anos, chegando a estudar no Conservatório de Música de Cincinnati. Ela deixou a carreira para se dedicar à família.

Já o pai do diretor era um engenheiro elétrico de bastante renome na indústria. Arnold Spielberg é um dos grandes responsáveis pela criação de um dos primeiros computadores da General Electrics e ajudou a desenvolver sistemas que auxiliaram no desenvolvimento da computação moderna.

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Triângulo amoroso

Assim como o filme apresenta, a família Spielberg realmente viveu um triângulo amoroso. No longa, Mitzi é apaixonada pelo melhor amigo de seu marido, o também engenheiro Bennie (Seth Rogen). Mais do que isso, eles têm um caso durante um tempo e o fim desse amor clandestino é o que faz a trama do filme avançar.

E, na vida real, os pais de Steven Spielberg também passaram por uma situação assim. Leah e Arnold se separaram em 1966 e, no ano seguinte, ela se casou com Bernie Adler, que era o melhor amigo de Arnold na época.

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No documentário Spielberg, da HBO, o próprio Arnold deu mais detalhes sobre a história e revelou que ainda amava Leah depois de todo esse tempo e que foi decisão dele assumir a culpa pelo término para poupar a ex-mulher. Por essa razão, o próprio Steven acreditou por ano que o pai tinha sido o responsável pelo fim do casamento.

A descoberta da traição

Um dos pontos mais fantásticos e impactantes de Os Fabelmans é quando Sam descobre a traição de sua mãe: ao editar o filme feito durante uma viagem de férias, ele vê imagens de Mitzi e Bennie como um casal ao fundo das imagens. É o momento em que o cinema que o garoto tanto ama vai confrontar a realidade da sua família de uma forma um tanto quanto brutal.

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E, por mais incrível que pareça, foi assim mesmo que aconteceu com os Spielbergs. Em uma entrevista ao The New York Post, Steven contou que realmente descobriu a traição da sua mãe aos 16 anos enquanto editava uma filmagem caseira. Segundo ele, colocar essa história no longa foi uma das decisões mais difíceis de Os Fabelmans, pois estava expondo um dos maiores segredos da sua mãe, falecida em 2017.

A menina com tesão em Jesus

Há alguns pontos em Os Fabelmans que são tão exagerados e caricatos que parecem mentira, mas Steven Spielberg garante que aconteceram — em maior ou menor grau. É o caso da primeira namorada de Sam, a jovem Monica (Chloe Eastwood), que é uma adolescente fanática religiosa que se interessa pelo protagonista por ele ser judeu como Jesus Cristo e ela achar o Salvador alguém sexy.

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Nesse ponto, não fica claro se esse tipo de situação realmente aconteceu. Durante a divulgação do filme, Spielberg comentou que a personagem é inspirada em uma garota com quem ele namorou quando estava na sétima série. Contudo, ele não deixa claro se ela tinha essa tara tão específica e nem se eles se beijaram como forma de convertê-lo.

Crise na carreira

No início do terceiro ato de Os Fabelmans, Sam entra em uma crise artística e decide que não quer mais fazer cinema. Isso tudo por causa da descoberta da traição da mãe e o divórcio que veio logo em seguida. Na trama, o protagonista sente-se culpado pelo que aconteceu e o simples fato de o cinema ter ido de encontro à sua família fez com que ele rejeitasse a arte.

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E, de fato, o jovem Steven Spielberg passou por um período em que pensou em aposentar as câmeras — mesmo que ele tivesse apenas 16 anos de idade. Só que, ao contrário do que o filme apresenta, isso não teve nada a ver com a situação conjugal da família.

Na verdade, o que afastou o jovem cineasta foi uma crise de confiança. Ele havia acabado de assistir ao clássico Lawrence da Arábia e ficou tão maravilhado com o filme que achou que jamais faria algo tão bom. Ao documentário Spielberg, o diretor disse que o nível do longa estrelado por Peter O’Toole era tão grande que ele se sentiu paralisado e incapaz de fazer algo semelhante àquilo.

No entanto, ele logo retrocedeu após assistir ao clássico mais algumas vezes. Segundo Spielberg, ele percebeu que era um ponto sem volta e que ele queria viver de cinema e fazer algo tão bom quanto Lawrence da Arábia — ou morrer tentando.

A chegada do macaco

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Por incrível que pareça, a infância de Steven Spielberg também foi marcada pela chegada aleatória de um macaco adotado por sua mãe. E essa é uma das histórias de Os Fabelmans que recria com bastante fidelidade o que a família do diretor viveu em meados da década de 1960.

No longa, Mitzi passa a sofrer com a ausência de Bennie após a família deixar Phoenix e se mudar para Los Angeles. A mãe então entra em um quadro depressivo e, na tentativa de “sentir algo” — como ela própria diz —, decide adotar o símio. Bizarramente, ela batiza o animal com o nome do ex-amante.

E isso aconteceu mesmo na vida real, ainda que com algumas diferenças. No documentário sobre o filho, Leah Adler lembra que adotou o macaco em um pet shop em Phoenix e que ela se sentiu tocada pela história do animal: ele estava depressivo após ter sido separado da mãe.

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Dessa forma, ela levou o primata para casa e o resto da família logo o aceitou. De acordo com Steven, o macaco se revelou um elemento terapêutico para Leah, que também estava afundando na depressão naquela época.

O encontro com John Ford

Na cena final de Os Fabelmans, Sam consegue finalmente uma chance para trabalhar com cinema e vai a um estúdio de TV. Com isso, ele consegue um encontro rápido com o lendário diretor John Ford, que lhe deu algumas breves dicas de direção de um jeito bastante peculiar.

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E, segundo Steven Spielberg, toda essa sequência foi recriada quase que literalmente em relação ao que aconteceu de verdade. Ele conta que, quando tinha apenas 15 anos, ele conseguiu uma reunião com o diretor durante o Festival Internacional de Cinema de Toronto e que toda a interação com o responsável por clássicos como O Homem que Matou o Facínora e Rastros de Ódio foi como o mostrado no filme.

Isso inclui tanto a conversa de apenas alguns minutos, as lições sobre o posicionamento do horizonte na câmera e até mesmo o fato de Ford chegar no estúdio atrasado e todo sujo de batom.