O que o Pacificador do Esquadrão Suicida tem em comum com Watchmen?
Por Durval Ramos • Editado por Jones Oliveira |
O novo O Esquadrão Suicida estreia no começo de agosto rodeado de muito otimismo. Ao se distanciar do tom sério do filme de 2016 e abraçar de uma vez por todas a galhofa, o longa parece ter acertado o tom e vem recebendo elogios da crítica especializada que já teve acesso ao longa. E entre os pontos destacados, está o carisma dos novos personagens, sobretudo do Pacificador — que deu tão certo que vai ganhar até mesmo uma série própria no HBO Max.
Foi dessa forma que o Questão se transformou no Rorschach e o Capitão Átomo virou o Doutor Manhattan que a gente conhece. Mais importante ainda, foi a criação do anti-herói Comediante para substituir o Pacificador. Mas o que esses dois personagens têm em comum?
Pacificador X Comediante
Criado em 1966, o Pacificador da Charlton Comics era um diplomata ativista da paz que lutava para defendê-la com armas de fogo e uma armadura. E apesar de hoje a gente estranhar essa contradição, havia um romantismo em torno de suas intenções na época que normalizavam toda essa questão. Foi somente depois da saga Crise nas Infinitas Terras, em 1987 — ou seja, alguns meses após Watchmen — é que o Pacificar foi incorporado à DC, desta vez como alguém bem mais extremista e capaz de matar para alcançar sua tão amada paz, ou seja, da mesma forma que James Gunn vai levar para o seu O Esquadrão Suicida
De acordo com o próprio Alan Moore, a escolha do personagem para a história que ele tinha concebido originalmente foi por causa do seu nome. “Em uma versão mais agressiva e militarista dos EUA que é mostrada em nossa história, a ideia de um ‘Pacificador’ tem um tom um pouco irônico”, explica Moore nos textos que acompanham a edição definitiva de Watchmen. “O Comediante, por outro lado, é uma coisa inteiramente diferente”.
Assim, quando ele fez as adaptações necessárias e criou o novo anti-herói, a tal ironia deixou de existir e o Comediante ganhou uma personalidade e origem diferentes do herói da Charlton. Assim, aquele idealismo contraditório saía de cena para a entrada de alguém muito mais pragmático e que, de certo modo, gostava da violência na qual estava inserido ao seguir as ordens do governo em plena Guerra Fria. Nas palavras do próprio Moore, ele era uma mistura de Dirty Harry, como Nick Fury e Hannibal de Esquadrão Classe A.
O curioso disso tudo é que a versão final que vimos em Watchmen é muito próxima daquela que a DC trouxe para o Pacificador pós-Crise. Dessa forma, apesar de ter negado o uso do personagem por Alan Moore, a editora acabou trazendo-o à sua cronologia de maneira muito próxima daquilo que o autor tinha proposto pouco tempo antes. A diferença era que o Comediante realmente era muito sádico, enquanto o Pacificador tinha a desculpa de problemas mentais para justificar seus atos.
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E o que veremos no filme?
De tudo o que foi mostrado sobre O Esquadrão Suicida até agora, espere algo muito mais próximo da versão pós-Crise do que a amenizada na era da Charlton. Isso significa, portanto, que veremos nas telas a versão do personagem que foi claramente influenciada pela visão de Alan Moore, ainda que na forma do Comediante.
Os trailers já deixaram claro que ele será esse soldado pacifista que não mede as consequências dos seus atos que faz dele, como o próprio ator John Cena resumiu, “o Capitão América babaca”. A diferença é que, pelo menos no filme, ele também deve ser um tanto quanto burro e bastante aficcionado em imagens fálicas — ou seja, o tipo de bizarrice que James Gunn adora.