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Quem é Junji Ito? Conheça o mestre do mangá de terror

Por| Editado por Jones Oliveira | 20 de Janeiro de 2023 às 11h00

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Netflix
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A estreia da animação Junji Ito: Histórias Macabras do Japão apresenta ao mundo um artista que os fãs de mangá conhecem muito bem. Junji Ito é um autor basta popular, principalmente por ter uma obra que foge bastante do que os quadrinhos japoneses oferecem. Ao invés dos heróis porradeiros e dos torneios de luta de sempre, ele se especializou em histórias de horror e de um jeito bem peculiar.

Apostando em um terror psicológico que flerta com muitas influências japonesas e ocidentais, Ito se tornou um mestre do gênero nos mangás ao apostar em uma abordagem que preza menos pelo susto e muito mais pelo desconforto e pela constante sensação de que as coisas caminham para um absurdo sem fim.

Por isso mesmo, os seus quadrinhos são sucesso por onde passam. Só no Brasil, o autor já publicou dezenas de edições que compilam alguns de seus clássicos e também contos menores e não tão conhecidos assim — incluindo alguns que estão sendo adaptados pela Netflix.

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O dentista que dominou o medo

Antes de entrarmos na obra propriamente dita de Junji Ito, é preciso entender quem é o autor e de onde ele vem — pois isso diz muito sobre o tipo de terror que ele passou a desenvolver. Nascido em 1963, ele teve uma carreira bem diferente da maioria dos autores que conhecemos. Isso porque a sua entrada no mercado de quadrinhos começou bem tarde e muito mais como um hobby.

Sua primeira publicação oficial aconteceu em 1987, quando participou de um concurso realizado por uma revista japonesa. A ideia era que as pessoas escrevessem histórias de horror voltadas para garotas e a proposta que ele apresentou foi tão bem recebida pelos jurados que Ito decidiu se dedicar à vida de quadrinista a partir de então.

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Só que, antes disso, ele seguia por um caminho profissional bem diferente. Enquanto desenhava apenas por brincadeira nas horas vagas, ele ganhava a vida mesmo como dentista. E, por mais diferente que sejam as profissões, não há como negar que o tempo que ele passou mexendo na boca dos outros, aplicando injeções e fazendo tratamentos de canal deram uma boa noção do que é o medo e como fazer para despertar esse sentimento nas pessoas.

Até porque essa é uma das principais características do seu trabalho. Ao invés de se apoiar naquele terror comum de um monstro que surge do nada para matar todo mundo ou mesmo daquela coisa mais grotesca que mais choca do que assusta, todo o trabalho de Junji Ito parte da ideia de situações absurdas que quebram o cotidiano e que geram um incômodo crescente a ponto de beirar a loucura.

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Assim, ele traz elementos que puxam muito mais para o terror psicológico e o horror corporal — o body horror, como o jargão do gênero costuma chamar — para deixar seu leitor num estado de desconforto contínuo.

Seu mangá mais famoso, Uzumaki, é um belo exemplo disso. Trata-se de uma história em que uma cidade passa a ser atormentada por uma entidade que faz com que todos os moradores sejam aficionados por espirais. E o que começa como um simples padrão aqui e ali passa a crescer e a ganhar proporções tão insanas que se tornam assustadoras de verdade.

E esse é o grande segredo para o sucesso de Junji Ito não só no Japão, mas em todo o mundo. É muito fácil imaginar um terror em torno de um monstro ou mesmo no sobrenatural. São coisas que fazem parte do nosso imaginário e que já esperamos temer. Contudo, o que ele faz é transformar elementos banais do cotidiano em fontes de assombração.

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De mestre para mestre

É claro que só fazer uma espiral perseguir o leitor não é o suficiente para fazer despertar o medo. Como dito, parte do charme de Junji Ito está em fazer essas coisas aparentemente mundanas crescerem em importância e ameaça até o ponto de se tornarem um perigo de verdade.

É aí que a combinação de terror psicológico e body horror mais aparece. Enquanto essa escalada da tensão brinca com a ansiedade do público, o autor passa a trazer reflexos disso também nos corpos de seus personagens, deixando-os distorcidos ou mesmo transformados por esse medo.

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Isso vai fazer com que tenhamos pessoas cujos rostos são transformadas em espirais, peixes grotescos com patas e até transformações que vão explorar alguns medos mais irracionais, como a tripofobia. E tudo isso é inserido dentro de um contexto de aparente normalidade que chega a ser chocante.

Esse tipo de abordagem é algo que Ito traz de outros nomes do horror que influenciaram muito seu trabalho. O mais evidente deles é H.P. Lovecraft, conhecido principalmente por ser um dos pais desse terror psicológico em que o medo avança de forma sutil à medida em que a verdade vai sendo revelada. Não por acaso, as histórias de Junji Ito costumam trazer também esse elemento do horror cósmico e culminando na insanidade de seus personagens.

Os mangás Tomie e Gyo são outros trabalhos bem famosos do autor e ilustram bem essa influência. O primeiro traz a história de uma garota que é tão linda que faz com que qualquer homem se apaixone por ela a um nível literalmente insano. Já Gyo traz um mal ancestral semelhante ao clássico Cthulhu, ou seja, uma criatura vinda do oceano que passa a atormentar a humanidade e a levá-la à loucura pouco a pouco.

Além de Lovecraft, Junji Ito se diz abertamente influenciado por outros autores japoneses de terror, como Hideshi Hino e Kazuo Umezu. Contudo, é inegável que ele se tornou maior do que os seus mestres e muito mais conhecido mundo afora.