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Os desafios da Astrobiologia na busca por vida extraterrestre

Por| 30 de Agosto de 2016 às 08h28

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Os desafios da Astrobiologia na busca por vida extraterrestre
Os desafios da Astrobiologia na busca por vida extraterrestre

Os mistérios do Universo intrigam a humanidade há milênios, e, ao longo da história, incontáveis civilizações elaboraram teorias sobre o início da vida e do mundo. Com o avanço da ciência e da tecnologia, uma série de perguntas foram respondidas, mas, infelizmente, a maioria delas continua martelando na cabeça da comunidade científica: "Estamos sozinhos no universo? Se existe vida fora da Terra, como será?" são apenas alguns exemplos do que tantos pesquisadores vêm tentando descobrir.

Fugindo dos estereótipos que comumente rondam a mente das pessoas, renomados cientistas estão buscando evidências sobre a origem, evolução, distribuição e destino da vida na Terra e no Universo. O desafio é grande, mas, para tratar de algumas dessas questões tão enigmáticas, uma recente área da ciência está se ocupando em encarar as dificuldades e revelar a nós algumas respostas: a Astrobiologia.

Para estudar fenômenos tão complexos, os pesquisadores da área trabalham de forma inter, multi e transdisciplinar. Dessa forma, unem-se aos saberes de diversos campos, como astronomia, ciências planetárias, química, geologia, paleontologia, engenharia e biologia. No entanto, de acordo com Douglas Galante, do Núcleo de Pesquisa em Astrobiologia da Universidade de São Paulo, "a interação entre pesquisadores de diferentes áreas é muito difícil, pois, na forma atual da pesquisa acadêmica, elas são muito separadas".

Além da questão da multidisciplinaridade, uma série de outras dificuldades embalam o avanço da ciência. Galante explica que "há muitos desafios em um programa ambicioso como esse, como o desenvolvimento tecnológico necessário para esses estudos, o avanço em modelos teóricos para interpretar os dados, o avanço na área de exploração espacial robótica e tripulada". De qualquer forma, já é possível observar grandes resultados, os quais vêm sendo publicados em revistas internacionais de destaque, como a Nature e a Science.

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A Astrobiologia no Brasil

Se no mundo as pesquisas em Astrobiologia estão ganhando força apenas agora, no Brasil a abordagem moderna desta ciência ainda está "engatinhando". A primeira vez que o termo "astrobiologia" apareceu na literatura foi no livro de Flávio Pereira, batizado como "Astrobiologia", em 1944. Segundo Galante, "há várias décadas temos pesquisadores trabalhando em áreas específicas da astrobiologia, como astroquímica, química prebiótica, paleontologia, etc, mas apenas na última década tem ocorrido um esforço de criar uma rede colaborativa que possa estimular o intercâmbio entre esses grupos que antes agiam de forma isolada".

Apesar de parecer um tempo considerável desde a primeira menção, foi somente em 2009 e 2010 que as primeiras teses de doutorado na área foram defendidas, com a pesquisa de Douglas Galante no IAG/USP e de Ivan Paulino Lima, no IBCCF/UFRJ. Além disso, apenas em 2010 o Núcleo de Pesquisa em Astrobiologia (NAP/Astrobio), sediado na Universidade de São Paulo, foi criado, o que mostra que as pesquisas brasileiras são recentes.

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"Esse núcleo foi criado para servir como ponto de colaboração entre diferentes institutos da USP e também entre diferentes instituições de pesquisa. Em 2011, o NAP/Astrobio foi aceito como parceiro internacional do NASA Astrobiologia Institute (NAI) e European Astrobiology Network Association (EANA). Hoje ele tem atuado como um dos principais balizadores da área, mas ainda é um esforço pequeno para abranger tudo que pode ser feito no Brasil".

Mesmo com as consideráveis conquistas em tão pouco tempo, Douglas Galante explica que ainda há a falta de uma organização que abranja outras regiões do país, além do eixo Rio-São Paulo. Pensando nisso, uma das ideias para a disseminação e troca dos conhecimentos produzidos é que haja investimento em reuniões científicas e a formação de uma sociedade específica na área, o que, infelizmente, não tem previsão para acontecer. "Claro, tudo isso custa caro e toma tempo dos pesquisadores/professores, que é algo que sempre está em falta no país. Mas nosso grupo vem trabalhando para estabelecer a área no país e temos visto um aumento de interesse sobre o assunto, tanto pela comunidade acadêmica quanto o público em geral, que sempre mostra muita curiosidade pelos temas tratados pela astrobiologia".

Afinal, há vida fora da Terra?

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Apesar desta ser uma pergunta ainda sem resposta, diversos especialistas garantem que é praticamente impossível que não haja vida extraterrestre, principalmente por conta da dimensão do Universo e de toda a falta de conhecimento sobre seus mistérios. Porém, muitas dessas hipóteses não passam de especulações, o que diferencia a Astrobiologia de outros campos que buscam responder à questão.

Sobre o assunto, Galante explica que "a astrobiologia é uma área acadêmica, portanto deve seguir a metodologia científica moderna. Isso quer dizer que os experimentos devem ser controlados, passíveis de serem reproduzidos por grupos de pesquisa independentes, e os resultados devem ser publicados em revistas científicas arbitradas e, de preferência, internacionais. Do ponto de vista filosófico, ela se baseia, assim como grande parte da pesquisa científica, em hipóteses nulas. Ou seja, o pesquisador parte de uma hipótese (por exemplo, existe vida em Marte), e tenta prová-la verdadeira ou falsa baseando-se em fatos experimentais ou observacionais".

Dessa forma, a Astrobiologia se separa radicalmente, por exemplo, da Ufologia, que se ocupa de observar OVNIs (Objetos Voadores Não Identificados) sem que haja um controle rígido das variáveis que compõem o fenômeno.

"Normalmente, a ufologia é feita fora do ambiente acadêmico e sem um controle tão grande, ou uma preocupação com a falseabilidade das hipóteses, ou mesmo incorre no erro metodológico de propor uma explicação para um fenômeno não explicado por meio de alguma crença pessoal. Por exemplo, ao se observar um fenômeno de OVNI (objeto voador não identificado, ou seja, algum fenômeno luminoso na atmosfera, que tenha origem desconhecida, mas que de fato existem), não se deveria concluir, a priori, apenas baseado nisso, que ele é proveniente de uma nave extraterrestre. Com esse formato, a ufologia é muito mais parecida com uma crença pessoal do que em ciência acadêmica".

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Interessante notar, conforme explicitado pelo pesquisador, que atualmente alguns ufólogos estão buscando caminhos mais fidedignos para seus estudos, o que pode acarretar, quem sabe daqui a alguns anos, em ajuda mútua para as pesquisas sobre os fenômenos extraterrestres.

Infelizmente, mesmo com todos os avanços da ciência, até o momento não há evidências concretas sobre vida alienígena. Apesar disso, Douglas Galante afirma que a descoberta deve ser questão de tempo. Ora, basta acompanhar as mais recentes descobertas de exoplanetas com condições de habitar vida como a conhecemos. Recentemente, o ESO (Observatório Espacial Europeu do Sul) anunciou um planeta com características estruturais bastante semelhantes a Terra. Por que negar, então, a possibilidade de que existe vida, mesmo que microbiana, fora do Sistema Solar?

"Faz apenas algumas décadas que estamos procurando por vida extraterrestre de forma sistemática, e apenas nas últimas duas décadas temos de fato tecnologia para vasculhar o universo de forma mais detalhada. Além disso, o Sistema Solar, a galáxia e o Universo são muito grandes. Pode ser que não haja vida na nossa proximidade, pode ser que esteja um pouco mais longe e nos tome mais tempo para encontrar. De forma geral, por tudo que a ciência tem aprendido com a natureza da vida aqui na Terra e sobre a existência de planetas habitáveis ao redor de muitas estrelas da galáxia, grande parte da comunidade acredita que deve existir vida em outros planetas. No entanto, ainda temos muito o que aprender e desenvolver para sermos capazes de detectar e estudar essa vida. Mas certamente será uma das maiores descobertas da humanidade quando for feita".

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O futuro da Astrobiologia

Diante de tantos desafios, a Astrobiologia tem proporcionando o diálogo entre variadas áreas, o que é bastante positivo para a ciência. A colaboração entre os pesquisadores mostra que a geração de conhecimento interdisciplinar é possível, ampliando as possibilidades da abordagem acadêmica.

"Temos visto a astrobiologia crescer muito rápido ultimamente, e esperamos que essa colaboração entre pesquisadores de diferentes áreas responda grandes perguntas, como sobre a origem da vida na Terra, sua evolução e a vida em outros planetas. Para isso, estamos forçando o avanço tecnológico nas mais diferentes áreas, criando experimentos sofisticados de simulação em laboratório, explorando as regiões mais inóspitas do planeta em busca de formas de vida exóticas, criando modelos teóricos que possam explicar o funcionamento da vida e desenvolvendo a tecnologia espacial para permitir missões científicas robóticas e tripuladas cada vez mais sofisticadas".

Além dos avanços conquistados dentro da própria área, Galante explica que a Astrobiologia tem contribuído e pode contribuir ainda mais para o desenvolvimento tecnológico. De acordo com ele, a Astrobiologia está auxiliando na melhoria da exploração espacial e no barateamento de técnicas, atualmente muito caras para diversos centros de pesquisa.

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"Por exemplo, estão sendo desenvolvidos sequenciadores de DNA portáteis que já estão sendo aplicados para o estudo de doenças em locais de difícil acesso, como o interior da África. Outra aplicação, ainda mais indireta, é o desenvolvimento da computação em nuvem. A técnica foi criada pelo programa de busca de vida inteligente extraterrestre (SETI) para distribuir e analisar os dados coletados por radiotelescópios com auxílio de voluntários dispostos a ceder tempo ocioso de seus computadores para rodar o programa SETI@home. Hoje, o serviço cresceu e se chama Boinc, sendo usado para analisar dados de física, biologia e muitos outros, além de ter servido de base para a criação dos serviços de computação em nuvem tão em moda atualmente".

Com um campo de atuação tão abrangente e promissor, resta continuar acompanhando os avanços dos pesquisadores, que tanto têm se empenhado em responder a questões milenares. Para isso, vale destacar que os estudiosos do Núcleo de Pesquisa em Astrobiologia disponibilizaram, inclusive, um livro online gratuito ao público. Batizado de "Astrobiologia: Uma ciência emergente", ao longo das 385 páginas é possível explorar um pouco deste universo tão deslumbrante. Para fazer o download, clique aqui.