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Crítica Venom: Tempo de Carnificina | Uma fiel adaptação de uma HQ horrível

Por  • Editado por Jones Oliveira | 

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Divulgação/Sony Pictures
Divulgação/Sony Pictures

Ao longo desses últimos mais de 20 anos de filmes de super-heróis, nos acostumamos a exigir fidelidade com os quadrinhos. No entanto, e quando o material-base é notoriamente conhecido por ser ruim? Bem, isso parece não ser um problema para Venom: Tempo de Carnificina, que se mantém fiel à qualidade duvidosa dos gibis e abraça com gosto toda essa ruindade para trazer um filme ainda mais exagerado e absurdo que seu antecessor.

Ele segue a mesma cartilha que fez com que o primeiro longa fosse tão querido pelo público, misturando a estrutura de um filme de herói com essa pegada mais brutal típica do Venom e esse humor meio estranho que faz com que os protagonistas sejam quase um casal. A grande diferença aqui é que o diretor Andy Serkis e o ator Tom Hardy não tentam mais levar tudo isso a sério, se entregando de vez à galhofa e destacando o quanto tudo isso soa ridículo.

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E isso logo se revela o grande charme de Tempo de Carnificina — tanto que há até mesmo um discurso de Venom em meio a uma rave dizendo a um público apaixonado que não se pode ter vergonha daquilo que você é e que é preciso aceitar a sua natureza. Assim, o que temos é justamente uma história que não se envergonha de seus próprios absurdos e que, pelo contrário, se apoia nisso para subir o tom.

Fiel ao original, por pior que seja

Os anos 1990 foram um período bem infame para os quadrinhos. Nessa época, as editoras quiseram mostrar que seus heróis também podiam ser adultos e rechearam as histórias com uma violência despropositada e visuais mais radicais, repletos de armas e objetos pontiagudos. É nesse contexto que surge tanto o vilão Venom como a gente conhece e seu principal inimigo, o Carnificina. 

Os dois personagens sempre incorporaram essa maluquice que foram os anos 90 no mercado de gibis em histórias vazias que se propunham apenas a serem mais brutais e exageradas do que tudo o que a gente tinha visto até então. O próprio Venom deixou de ser essa antítese do Homem-Aranha para se tornar uma espécie de monstro e o Carnificina surgiu como uma extrapolação desse personagem que já era um tom acima. 

Assim, o que esperar de um filme centrado nessas duas figuras? Do mesmo modo que as HQs eram um apanhado de exageros e coisas sem sentido, Tempo de Carnificina segue pelo mesmo caminho, mas com uma diferença crucial: ele sabe que tudo é ridículo e passa a fazer graça disso a maior parte do tempo. 

É aqui que a gente vê a mão do produtor Avi Arad, responsável por todas as adaptações de quadrinhos do início dos anos 2000, como a primeira trilogia do Homem-Aranha, Motoqueiro Fantasma e Quarteto Fantástico. Ele tem essa visão de que histórias de herói têm essa essência infantil e, por isso mesmo, não se preocupa em partir para o exagero. No caso de Venom 2, isso fica bem claro quando a sequência passa a rir de si mesma — e é o que salva a coisa toda.

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Isso porque, por mais que nada na história faça sentido, toda e qualquer crítica cai por terra quando você vê Eddie Brock (Hardy) e seu simbionte discutindo como um casal e jogando as coisas um do outro pela janela enquanto brigam. Como dizer que a ida de Venom a uma balada chorar o término com Brock é ridículo quando ele acaba de dizer que se apegou à galinha que deveria comer? Como apontar que todo o plano de Cletus Kasady (Woody Harrelson) não tem lógica alguma quando o filme tem Venom e Brock vendo o sol se pôr na praia enquanto dizem que se amam?

A partir do momento que Venom: Tempo de Carnificina abraça o absurdo, tudo é permitido. É a lógica da Defesa Chewbacca de South Park: nada ali faz sentido, mas as coisas são apresentadas de forma que você simplesmente deixa de se importar com isso e só quer dar risada dessa dinâmica bizarra entre os protagonistas. Ao longo de todo o filme, Venom fica dizendo que quer comer cérebros e isso é quase que um alerta para o público de que, para curtir a história, é preciso deixar o seu do lado de fora da sala.

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E não entende isso como algo de todo ruim. É a mesma fórmula que conquistou o público no filme de 2018 e que se repete aqui com ainda mais intensidade, já que Brock e o simbionte não estão mais se conhecendo e agora dividem a vida realmente como um casal. E, de fato, é muito divertido acompanhar os diálogos da dupla, que entregam bons momentos de humor por causa desse caráter disfuncional da relação. É tudo tão ridículo que dá a volta e fica bom.

Um exagero do exagero

Só que nem tudo funciona nesse tom histriônico e alucinado. Enquanto essas brincadeiras se encaixam bem pela dinâmica que a gente já conhece entre Venom e Brock, a introdução do vilão Carnificina tenta seguir pelo mesmo caminho, mas sem abrir mão de uma carga dramática que não funciona. E por mais que Woody Harrelson seja um ator incrível, não tem como salvar o seu Cletus Kasady.

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Isso porque, mais uma vez, nada faz sentido nesse personagem. Ele existe apenas para antagonizar com o protagonista e o roteiro busca soluções de fazer com que ele consiga o simbionte, por mais que nenhuma delas seja lógica. O serial killer condenado à morte apresenta um interesse enorme em Eddie Brock sem qualquer justificativa aparente e revela saber detalhes da vida do herói que nem mesmo o público tinha conhecimento. Por quê? Porque o roteiro precisava dessa proximidade, por mais que ela não tenha razão de ser dentro da história.

E Tempo de Carnificina não se preocupa em momento algum em explicar nada disso. Se Kasady é maluco, tudo é permitido, certo? Só isso para explicar o recado que ele quer mandar na capa do jornal para a ex-namorada que ele acha que estava morta ou a ideia de matar Anne (Michelle Williams) na frente de Venom e, então, levar a moça para um lugar em que o herói não pode ver apenas para a cena ficar dramática. Ao querer mostrar que o vilão é caótico por ser louco, Venom 2 trata o público como idiota.

Na verdade, é aqui que a gente realmente vê aquela essência noventista das HQs em prática. São soluções bobas e infantis que acham que são adultas só porque têm mortes e monstros gosmentos e de dentes afiados. Afinal, poucas coisas são mais bobas do que o vilão cuja grande motivação é se casar na igreja ou que acessa dados sigilosos do FBI com o simbionte entrando pelo USB de um notebook em um posto de gasolina.

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E esses absurdos não são pontos isolados da trama. Venom: Tempo de Carnificina traz vários desses momentos, deixando bem claro que toda e qualquer tentativa de deixar a galhofa de lado apenas revela o quão ruim o filme é. Quando ele decide ser um pouco mais sério para desenvolver seus personagens, a coisa sai rapidamente de controle. Não por acaso, ele tem apenas 1h20 e, mesmo assim, consegue derrapar diversas vezes.

Isso fica muito aparente na vilã Shriek (Naomie Harris), cuja existência gira em torno desses exageros sem propósito. A personagem com poderes de grito supersônico não tem peso nenhum na história, servindo apenas de motivação para o Carnificina querer sair da prisão e voltar à vida de assassinatos. E ela sofre do mesmo mal de achar que, por ser insana, todo diálogo ruim e ação sem contexto funciona.

Tanto o roteiro sabe o quanto ela é vazia que o filme abre já colocando-a dentro da lógica da Defesa Chewbacca: ela é levada para uma instituição secreta do governo por ser perigosa por causa dos seus poderes. Só que ninguém se preocupa em amordaçá-la ou coisa que o valha, então obviamente ela tenta escapar. Como se não bastasse, leva um tiro no olho no processo e, ao invés de morrer, apenas ganha um olho branco. 

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Puro suco de anos 1990

E Tempo de Carnificina é repleto de momentos sem sentido em que ele simplesmente implora para o espectador não pensar muito nisso e só embarcar naquela bagunça. Nos casos da galhofa envolvendo Venom e sua relação quase romântica com Eddie Brock, isso funciona bem justamente por não se levar a sério e puxar o filme quase como para uma comédia pastelão. Foi o que fez o primeiro longa ser um sucesso entre o público, apesar do bombardeio da crítica. Nesse sentido, ele leva a fórmula a um novo nível.

Por outro lado, qualquer coisa que fica fora dessa dinâmica é constrangedor de acompanhar. E não apenas por colocar ações e motivações para seus vilões que não fazem o menor sentido, mas por não se decidir sobre o que quer deles. Há várias tentativas de criar uma camada dramática no passado do Carnificina, ora dizendo que foi porque o separaram de Shriek, ora dizendo que a culpa é da imprensa que não ouviu os dois lados sobre a sua história. No fim, o filme quer construir um vilão que agiu porque queria ser uma pessoa normal, mas não se preocupa em desenvolver isso e se resume a um discurso horrível de como ele apenas queria a amizade de Eddie Brock.

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Mais uma vez, é a Defesa Chewbacca em ação. É um absurdo tão grande que, se nada faz sentido, não tem por que pensar muito nisso. É realmente uma história para você se desligar do mundo e rir de uma bobajada sem fim por pouco mais de uma hora. Talvez, esperar por uma cena pós-crédito que realmente é tudo o que a gente espera. 

No fim das contas, Venom: Tempo de Carnificina é como aquele adolescente que se acha adulto só porque aprendeu a falar palavrão e a gostar de algumas coisas um pouco mais pesadas, mas que segue vazio e não sendo levado a sério — ou seja, uma adaptação bastante fiel do clima caótico e bobo que eram os quadrinhos nos anos 90. Em outras palavras, tem tudo para ser um novo sucesso de bilheteria.

Venom: Tempo de Carnificina entra em cartaz nos cinemas de todo o Brasil nesta quinta-feira (07); garanta seu ingresso na Ingresso.com.