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Crítica | Filosofia de Nietzsche define a terceira temporada de The Sinner

Por| 23 de Junho de 2020 às 11h38

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O detetive Harry Ambrose, interpretado por Bill Pullman, está de volta em mais uma temporada na série de drama criminal recheada de mistério The Sinner. A trama estreou em 2017, contando com a participação de Jessica Biel como produtora executiva e protagonista, abordando a história de um assassinato difícil de decifrar.

No ano seguinte, outro crime foi colocado em pauta, revelando ao público que o real foco da trama é mostrar como o detetive Ambrose se envolve em suas investigações, prejudicando sua família e saúde mental, mas trazendo bons resultados à polícia, mesmo que o caminho para isso seja complicado. Além disso, a série aborda questões psicológicas e comportamentais que podem ter levado ao crime, considerando a vivência do investigado, quem está ao seu redor e como ele se sente perante a tudo isso.

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Atenção: esta crítica contém spoilers!

Na primeira temporada, uma mulher; na segunda, uma criança. Agora, a terceira temporada traz um homem privilegiado e bem resolvido, ao menos aparentemente. Os novos episódios de The Sinner trazem crimes que envolvem não só a questão psicológica do acusado e investigado, mas também como e quando isso se formou. Desta vez, vemos uma questão filosófica relacionada ao ser homem.

Os dois personagens envolvidos nessa delicada questão são Nick Haas (Chris Messina) e Jamie (Matthew Bomer), que quando aparecem juntos pela primeira vez já causam a impressão de que escondem um segredo, a princípio de uma relação amorosa, o que prejudicaria o casamento de Jamie com Leela (Parisa Fitz-Hanley). No entanto, a paixão de ambos se deve aos ensinamentos de Friedrich Nietzsche, filósofo alemão que viveu no fim dos anos 1800. Nick, porém, sempre foi mais envolvido com o estilo de vida perigoso e de caráter destrutivo.

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Übermensch, ou Além-Homem, em português, é a filosofia vivida por Nick e Jamie, que se conheceram ainda na faculdade e acabaram se distanciando por 18 anos. Jamie voltou a procurar Nick por se sentir vazio e a necessidade de buscar motivos para continuar vivendo e existindo. É quando a filosofia começa a mostrar as caras no passo a passo seguido pelo amigo, que mais uma vez assusta inicialmente, principalmente por envolver bastante a questão da sorte ou azar, mas que acaba deixando Jamie transtornado.

É por meio desses pensamentos, que só poderiam ser explicados com clareza em uma matéria especial, que os acontecimentos começam a ganhar forma e ficar fora de controle. Em relação ao crime, uma vez que se trata de uma série criminal e de investigação, se não fosse pelo trabalho sempre bem feito de Ambrose, Jamie sairia impune. Por outro lado, talvez, nada de mais grave teria acontecido.

Antes mesmo de conhecermos o estilo de vida de Nick, descobrimos que ele morre em um acidente de carro, do qual Jamie sai vivo. Descontente com a hipótese de ser apenas uma fatalidade, o detetive passa a acreditar que Jamie deixou o amigo morrer ao dificultar o pedido de socorro. É assustador e bastante visível fisicamente o quanto Jamie muda no decorrer da trama, enquanto perde o controle de suas atitudes. Mérito não só da construção do personagem por quem está por trás da produção, como também do ator Matt Bomer.

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Quanto mais ele mergulha na filosofia de Nietzsche, mais vai mostrando uma personalidade que esteve presente em toda a sua vida e que nunca deu as caras. De forma rápida, Jamie começa a definhar fisicamente, deixando de aparentar um homem saudável para uma pessoa que busca, a todo custo, o sentido da vida e que está atordoado. Durante a investigação, Ambrose acaba cedendo às filosofias seguidas por Jamie para conseguir uma confissão não só do crime contra Nick, quanto de outro que acontece em meio à perda da razão e descontrole emocional.

Fica nítido, no entanto, que por mais que o detetive tenha sido responsável e conseguido o que queria através desse envolvimento, ele viu as mesmas coisas que Jamie, mas com controle da razão. Em uma das cenas mais desesperadoras, Ambrose é enterrado vivo e passa oito horas seguidas embaixo da terra, o que o faz alucinar e questionar passado, presente e futuro.

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Outro momento que mostra a empatia do detetive por Jamie é no final, com o criminoso em seus últimos momentos de vida, em que aparentava extremamente assustado e indefeso, com medo de morrer, mesmo que a sua vida já tenha sido perdida. O envolvimento de Ambrose com uma investigação nunca havia sido tão intenso, colocando em risco sua filha e neto, mas também nunca foi tão revelador na questão pessoal.

O aprofundamento dos motivos que levaram o investigado a cometer os crimes e a vulnerabilidade do detetive fizeram a terceira temporada de The Sinner ser mais interessante que a segunda, que perdeu um pouco da essência da primeira.

A terceira temporada de The Sinner conta com oito episódios e está disponível na Netflix.