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Crítica | Reality Z não é uma comédia"trash" e não é fácil de assistir

Por| 22 de Junho de 2020 às 08h48

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Divulgação: Netflix
Divulgação: Netflix
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Recentemente, estreou uma nova série original da Netflix chamada Reality Z. A trama é baseada na minissérie britânica Dead Set e traz uma temática corajosa e que tem grandes chances de dar errado. A premissa é mostrar um apocalipse zumbi no Rio de Janeiro ao mesmo tempo que ocorre um reality show. Por fim, o estúdio acaba sendo o local mais seguro para se proteger — pelo menos no início.

Atenção: esta crítica contém spoilers de Reality Z!

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A série nacional é dirigida por Claudio Torres (A Mulher Invisível, O Homem do Futuro) e o reality show é semelhante ao Big Brother, mas se chama Olimpo e os participantes vivem em uma casa com a temática. O programa é apresentado por Sabrina Sato, que, na trama, se chama Divina e protagoniza uma cena hilária após o ataque que só quem assistiu sabe.

Os momentos iniciais do apocalipse zumbi são os que trazem as cenas mais bizarras, como quando uma pessoa aparece claramente morta andando na direção de duas mulheres e uma pergunta se está tudo bem, ou ainda quando a funcionária do canal aparece no reality show ensanguentada e os participantes a recebem bem e a aplaudem, dizendo que é uma nova participante.

Por isso, de início, acredita-se que Reality Z se adapte ao gênero "trash", significando que é "ruim" propositalmente. Mas as atuações um pouco forçadas e acontecimentos que eram para ser sérios, mas acabam sendo engraçados, acabam dando espaço para cenas de morte grotescas e violentas, além de trazer uma nova temática que não tem graça nenhuma.

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Vemos, entre os participantes de Olimpo, minorias sendo assediadas verbalmente durante os acontecimentos, sendo estas as que mais mostram compaixão uns pelos outros, e que acabam sendo desrespeitadas mesmo após a morte em partes difíceis de descrever aqui. Para balancear, as pessoas "ruins" também acabam morrendo e, na verdade, são poucos os que saem vivos.

Quanto mais personagens começam a aparecer, mais vão morrendo e várias pequenas reviravoltas são sendo mostradas ao longo dos episódios. Nenhum herói em potencial sobrevive. Alguns clichês também vão tomando conta da trama, como algumas pessoas acharem que alguns zumbis têm sentimento, dizendo "essa é diferente", apenas porque ela demorou para atacar. É claro que isso não acontece.

Começam também a entrar em cena pessoas revolucionárias que, mesmo em meio a todo o desespero e luta pela sobrevivência, têm o sentimento de que todo ser humano precisa ser respeitado e que não pode simplesmente sair atirando na cabeça de vivos. Para eles, os únicos inimigos ali deveriam ser os mortos vivos. As cenas de batalha são muito bem feitas, não há como negar, mas também pesadas. Para levar mais emoção para quem está assistindo, a câmera se movimenta como se a pessoa que está filmando também estivesse sendo atacada por um zumbi.

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Da metade da série em diante, não tem mais como rir. São muitos estereótipos, alguns extremamente forçados, como o de uma mulher sensual que tenta usar seu corpo para conseguir o que quer, um policial viciado em cocaína que em momento algum consegue ter empatia, e um político corrupto que tenta governar o estúdio, acreditando ser superior o suficiente para controlar a entrada no local, decidir quem fica, quem sai, quem morre e quem vive.

A série pode despertar diversos gatilhos no público e as cenas de violência são bastante explícitas, mostrando muitos tiros na cabeça (e não só dos mortos-vivos), desrespeito ao ser humano, cena de quase-estupro, sacrifícios, entre muitas outras coisas. A tentativa, aparentemente, foi mais de fazer diversas críticas sociais, principalmente pela ambientação no Rio de Janeiro, que infelizmente tem a fama de ser uma cidade violenta e cheia de corrupção, mas talvez a ideia tenha se excedido um pouco e deixado de focar no fato de que existe um apocalipse zumbi e ninguém sabe como isso aconteceu.

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Pelo nome se chamar Reality Z, a série poderia ainda ter focado mais em acontecimentos do reality show sem que as pessoas lá dentro saibam o que está acontecendo. Assim que o estúdio é invadido pelos zumbis, logo os participantes desconfiam da ausência da produção e descobrem o que aconteceu quando uma funcionária sobrevivente entra lá.

É complicado definir a série como boa ou ruim, mas não é difícil encontrar erros e tentativas frustradas de se tornar um grande thriller de zumbi. A trama mostra, no entanto, que o Brasil é capaz de produzir cenas de ação e ter uma equipe de maquiagem impecável para uma caracterização tão difícil. Reality Z diverte no começo e passa a ilusão de comédia trash, mas, na verdade, é uma peça estereotipada e violenta que, talvez, possa fazer com que o espectador reflita sobre as questões sociais abordadas.

Reality Z está disponível na Netflix em 10 episódios.