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Crítica | Project Power tem boas cenas de ação, mas traz mais do mesmo

Por| 17 de Agosto de 2020 às 11h17

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Depois que os filmes de super-heróis viraram um gênero próprio, com a fórmula estabelecida pelo Marvel Studios, todas as produtoras e estúdios começaram a olhar para essa seara com mais atenção — afinal, Vingadores: Ultimato se tornou a maior bilheteria da história do cinema e outros títulos adaptados da Casa das Ideias passaram de US$ 1 bilhão de arrecadação, como Homem-Aranha: Longe de Casa e Capitã Marvel. Project Power, que estreou na Netflix no final de semana, surfa nessa onda e até apresenta algumas premissas interessantes com boas sequências de ação, mas se perde no roteiro fraco e, no final, contenta-se apenas com mais do mesmo.

Project Power, dirigido por Ariel Shulman e Henry Joost, é ambientando em uma Nova Orleans de um futuro próximo, quando um misterioso “empresário” chamado Biggie (Rodrigo Santoro) oferece uma droga experimental que confere poderes aleatórios — essa manifestação supostamente acontece de acordo com o DNA de cada pessoa.

Ou seja, você toma uma pílula que lhe dá a sensação de poder e euforia, enquanto transforma sua pele em uma superfície mais dura ou torna seu corpo inflamável, entre outras transformações. Mas como as reações são instáveis, a epidemia de seu uso tem se tornado um problema nas ruas da cidade, ao passo que as cápsulas estão cada vez mais populares entre os traficantes.

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A partir daqui há revelações e detalhes sobre a trama que podem estragar as surpresas do filme.

Obviamente que isso chama a atenção das autoridades. É aí que entra em cena o policial Frank Shaver (Joseph Gordon-Levitt), que, após ser suspenso por ele mesmo utilizar a droga, busca quem seria o distribuidor primário desse poderoso novo narcótico. Em uma investigação paralela, Art, um ex-militar, busca pistas sobre o desaparecimento da filha, que seria uma das primeiras cobaias para o desenvolvimento da substância.

No meio de tudo isso, vemos Robin, uma “aprendiz de traficante” que um dia almeja ser rapper. Ela acaba ajudando tanto Frank quanto Art, que inicialmente não se entendem muito bem, mas depois juntam forças para derrotar Biggie e seus aliados.

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Roteiro fraco e ação inspirada na série Bourne

Você provavelmente já se deparou com a seguinte sequência: uma câmera trêmula mostra vários ângulos em poucos segundos, enquanto dá para ouvir barulhos de tiros, explosões e estilhaços de vidro, ao passo que um personagem está lutando ou correndo, em dezenas de tomadas. Bastante presente na série Identidade Bourne, essa forma de narrar sequências de ação se tornou muito popular nos últimos anos e é usada à exaustão em Project Power.

Quando chegou aos cinemas, essa fórmula se tornou um sucesso imediato. E, se realizada na medida certa, oferece ao público não somente a possibilidade de acompanhar o que acontece na cena, mas também de experimentar toda a confusão e o impacto — é quase como estar em um carrinho de montanha-russa enquanto a ação se desenvolve. E como é bem mais barato chacoalhar a câmera e realizar centenas de cortes para manipular sensação de espaço e tempo, essa técnica passou a ser usada praticamente em todos os maiores blockbusters das duas últimas décadas.

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Acontece que em Project Power, embora isso seja bem executado, todas as suas cenas de ação basicamente se resumem a isso — há pouco espaço para criatividade por ali. A única exceção talvez esteja na conclusão, quando vemos finalmente Art usando a cápsula e seu estrondoso poder. Mas aí é muito pouco para o que a 1h51m de história tem para contar.

A maior fragilidade reside no roteiro, que não se aprofunda em nenhum dos temas que aborda e nem se dá ao trabalho de explicar direito as motivações de cada personagem. Os diálogos estão atolados nos clichês — clichês podem ser divertidos, mas não é bem o caso por aqui — e há uns momentos de “preguiça” no desenvolvimento da história. Veja bem, com mais de uma hora de filme, dá até para esquecer os nomes dos protagonistas, que também não têm sobrenome.

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Por exemplo, em determinado momento, Frank recebe uma dica sobre Art, de seu próprio capitão. Mas essa atitude não tem verossimilhança alguma, pois não somos apresentados de forma adequada ao relacionamento entre os personagens; e o capitão tira uma foto de Art de dentro de um boné, que, desde sua primeira aparição, já parecia fora de sua cabeça — ele anda com uma foto de estranhos dentro do boné o tempo todo?

Tudo bem que ele poderia ter tirado a foto do bolso e colocado ali ao dar o boné para o rapaz — o que deve ter acontecido, na verdade —, mas é esse tipo de cena desnecessária e mal executada que faz com que Project Power até mesmo flerte com filmes B.

Desperdício de talento no elenco

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Rodrigo Santoro precisa mudar de agente ou escolher melhor seus projetos. Aqui, ele mais uma vez faz o papel coadjuvante de vilão latino. Isso não seria assim um problema tão grande, mas como Project Power não se dedicou muito em explicar seu mundo ou se aprofundar na “ameaça”, o brasileiro faz um papel descartável. Assim, Biggie nada mais é que um “chefe de fase” — está ali apenas para sustentar um mínimo de antagonismo para os “heróis”. Junte a isso um figurino de estética duvidosa.

Jamie Foxx nem de longe lembra os papeis que já desempenhou de forma brilhante, a exemplo dos que vive em Colateral ou Ray. Tudo bem que o texto não ajuda, mas ele, mais uma vez, faz o papel do “ex-militar durão que, no fundo, tem o coração bom”. Já Gordon-Levitt, que ultimamente vem se enveredando mais para o cinema de ação, não convence tanto como o “malandro” que gosta de ser nessas projeções — ele se dá melhor em papeis dramáticos mesmo.

Robin, adolescente que é interpretada pela atriz Dominique Fishback, que, na verdade, tem 29 anos de idade, é a personagem mais favorecida pela trama e pelo texto. É nela que vemos o potencial de uma história mais interessante e ampla, que não seja apenas uma colagem de eventos para sustentar as cenas de ação. Contudo, sua linha de narrativa não avança tanto até o final do filme, que, se ganhar uma sequência, poderia se dedicar a “explicar” melhor o seu o papel — fica a dica, Netflix.

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Vale a pena?

Ao final de Project Power, a sensação é de que um produtor teve uma ideia e juntou dinheiro suficiente (neste caso US$ 85 milhões) para criar algum filme que pudesse aproveitar o sucesso do mercado de super-heróis. Assim como Jumper e Heróis, tenta se afastar dos colantes coloridos ou da representação mais característica do gênero de super-heróis, para abraçar uma audiência mais ampla.

Contudo, não é acima da média nem como filme de ação e nem como de super-herói. Fica em um meio-termo nivelado por baixo, sem trazer novidade alguma — e corre o risco de se tornar esquecível em um curto período. Se você quer apenas mais do mesmo, com um roteiro que nada exige do espectador, então pode ser uma boa aposta para ver debaixo das cobertas.

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*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Canaltech