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Crítica | O Paraíso e a Serpente surpreende com história real de serial killer

Por| Editado por Jones Oliveira | 06 de Abril de 2021 às 10h22

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Divulgação: Netflix
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O mês de abril começou muito bem na Netflix com a estreia de O Paraíso e a Serpente, trama baseada em acontecimentos reais que chega à plataforma de streaming como um complemento ao catálogo de produções criminais. A trama nos apresenta ao assassino em série e golpista Charles Sobhraj, interpretado por Tahar Rahim, que se tornou um dos criminosos mais perigosos da década de 1970.

Sobharj fingia ser um comprador e vendedor de pedras preciosas em alguns países da Ásia, como a Tailândia e a Índia, e tinha como principais alvos os viajantes "hippies" e jovens, que faziam essas viagens para se encontrar e realizar sonhos. A minissérie, então, mostra em seus oito episódios quais eram as táticas usadas por Charles, como ele facilmente manipulava as pessoas, inclusive a sua namorada, a canadense Marie-Andrée Leclerc (Jenna Coleman), todo o seu talento na hora de falsificar a sua identidade, e toda a crueldade por trás dos crimes.

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Atenção: esta crítica contém spoilers da minissérie O Paraíso e a Serpente, e da história real!

Assassinos em série costumam ser pessoas frias e visivelmente apáticas, não demonstrando seus sentimentos com o que está acontecendo, seja em situações boas ou ruins. Essa apatia é muito bem demonstrada por Tahar Rahim, que conseguiu transparecer a personalidade narcisista do criminoso, que teve coragem de sobra para conseguir fazer o que quis com sucesso. Mas a ótima atuação do protagonista e de todo o restante do elenco não é o único mérito da produção. O Paraíso e a Serpente consegue estruturar toda a história entre idas e vindas no tempo, mas sem furos que deixariam a trama mal contada.

A todo momento, os acontecimentos do passado, presente e futuro são exibidos com a data e a informação de "anos antes" e "anos depois", de uma forma que tinha tudo para ser desgastante, mas que foi incrivelmente certeira. Muitas vezes, esse "vai e volta" são de cenas pequenas e alguns dos saltos temporais também acabam sendo longos. Nada isso, no entanto, atrapalha na explicação da história, mesmo que seja uma tática extremamente cansativa e que parece nos deixar a cada vez mais longe do fim. São oito episódios longos que consegue contar histórias relativamente curtas em cenas detalhadas.

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Ao início de cada episódio, a série diz que os diálogos e nomes reais das vítimas são fictícios para respeitar aqueles que foram assassinados e suas famílias. Essa homenagem é parte constante da trama, que faz questão de abordar a história de algumas das vítimas e os motivos para as viagens, trazendo mais humanidade para a trama em vez de apenas se concentrar nas crueldades de Charles. A série também nos mostra um pouco da realidade da época, em uma década na qual a sociedade ocidental ficou conhecida pelo movimento hippie e seus estilos de vida. Buscando paz interior, era comum que esses jovens, principalmente norte-americanos, sentissem a necessidade de ficarem mais conectados à natureza, o que fazia com que eles visitassem templos budistas e diferentes cenários de "paz e amor" constantemente.

Os anos 1970 também são muito bem retratados na questão estética de O Paraíso e a Serpente, que acerta não só no figurino e penteados da época, como também em trazer imagens antigas dos países em que se passa na mesma década. As localizações por si só já são de grande apelo visual, tanto pelos cenários das cidades e das paisagens, quanto na arquitetura. Então, se torna praticamente impossível assistir a qualquer cena e não conseguir entender de imediato em que época a trama se passa e onde aquilo está acontecendo.

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O Paraíso e a Serpente também abusa da sua longa duração para tentar representar as táticas de crime de Charles da forma mais fiel possível, que acabam surpreendendo por ser uma técnica tão sagaz ao mesmo tempo em que é cruel. O criminoso conquistava os viajantes com o seu carisma, bom visual e falsa generosidade, oferecendo moradia, alimentação e carona. Porém, para roubar o dinheiro ou até mesmo as joias desses jovens, ele os envenenava e oferecia um suposto remédio para se sentirem melhor. Esse medicamento, no entanto, só piorava os sintomas de crises estomacais e intestinais, deixando as vítimas delirantes, sendo então roubadas e "descartadas".

Para não ser descoberto, Charles também roubava os passaportes das vítimas e trocava as fotos, fazendo viagens a outros países e enganando as autoridades que poderiam desconfiar que eles desapareceram onde foram vistos pela última vez. Sem internet e um banco de dados virtual, os roubos de identidade do assassino em série pareciam ser extremamente fáceis de cometer, precisando apenas ter a famosa "cara de pau" para que fossem bem-sucedidos. Ainda que a execução dos crimes traga agonia para o espectador, a suspeita de vizinhos, autoridades e vítimas nos traz empolgação para a resolução dos crimes, além da expectativa para que Charles, finalmente, fosse pego.

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De fato, a forma que Sobhraj cometia os crimes era tão bem planejada que se tornou impressionante o quanto ele conseguiu escapar das autoridades, sendo a sua personalidade, por si só, o grande entretenimento de O Paraíso e a Serpente. Em determinado momento, sem conhecer a história original, até passamos pelo sentimento de impotência e de que ele nunca seria pego, e ele realmente poderia ter saído impune se não fosse pela insistência de um diplomata holandês que começou a investigar um crime contra seus conterrâneos já que ninguém parecia estar interessado nisso. Charles, por fim, quase escapou de uma longa sentença devido ao seu ego elevado e a sua necessidade constante de se sentir poderoso e de conseguir fugir, como se a sua capacidade de fuga alimentasse ainda mais o seu narcisismo.

Como toda produção que conta a história de assassinos, a trama também "justifica" os atos de Charles devido ao seu passado, família e preconceito, com o personagem fazendo questão de citar ser um filho de pais de diferentes etnias, provando que sofreu e ainda sofre com isso. Ainda sobre regiões, série também traz diferentes idiomas, como tailandês e francês, deixando de se apoiar apenas na língua inglesa, como de costume em produções do tipo. Constantemente vemos essa mistura de idiomas acontecendo entre os personagens, se aproximando ainda mais da realidade de como teria sido essa interação.

A minissérie O Paraíso e a Serpente está disponível na Netflix em oito episódios.