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Crítica | O Grito: Origens choca, enoja e provoca agonia

Por| 12 de Julho de 2020 às 22h30

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Divulgação: Netflix
Divulgação: Netflix
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A criatividade japonesa na hora de retratar histórias para a televisão ou cinema é admirável, e não poderia ser diferente em obras de horror. Sem economizar em elementos perturbadores e extremamente grotescos, todos propositalmente forçados, é possível conferir obras horrivelmente assustadoras e, ao mesmo tempo, um pouco cômicas, mas sem deixar a seriedade de lado. Tudo isso pode ser visto em uma estreia recente da Netflix.

A série O Grito: Origens (disponível na Netflix) é baseada em uma maldição folclórica do Japão, que começou a ser retratada no mundo do entretenimento em 1998. A lenda urbana conta a história de uma jovem chamada Kayako, que, após passar a adolescência sendo "a esquisita" e solitária, se casou e teve um filho chamado Toshiro.

Porém, Kayako era apaixonada por um professor universitário e secretamente descrevia a sua traição em um diário. Quando o marido descobriu, a matou violentamente enquanto o filho assistia. Depois, a criança foi morta e na sequência o homem se suicidou. Então, basicamente, a maldição diz que quando uma pessoa morre em um estado extremo de raiva, ela se torna uma alma muito revoltada com o que aconteceu e que, de tão perturbada, todos que entram em contato com ela acabam morrendo de alguma forma.

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A lenda ainda diz que o professor com quem Kayako tinha um caso acabou se suicidando semanas depois e que todas as pessoas envolvidas na investigação do caso, como policiais e detetives, também acabaram morrendo ou desaparecendo de forma misteriosa. Mesmo com todas essas informações, não há nenhuma evidência de que essa história aconteceu de verdade, mas a lenda foi essencial para a criação da franquia O Grito e para a série O Grito: Origens, que mostra os acontecimentos anteriores aos filmes.

A primeira vez em que essa história chegou ao cinema foi em 1998, com o curta metragem Katasumi y 4444444444, de Takashi Shimizu. Dois anos depois, em 2000, foi dado início a uma longa franquia, inclusive chegando ao ocidente com O Grito, em 2004. Por aqui também foram lançados O Grito 2 (2006) e OGrito 3 (2009). No início de 2020, finalmente chegou aos cinemas uma regravação do longa de 2004 que não se saiu tão bem assim.

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A série O Grito: Origens tem como foco central o personagem Odaijima, interpretado por Yoshiyoshi Arakawa, um escritor que investiga casos paranormais. Obcecado pela história de uma casa amaldiçoada, onde aconteceu um massacre, faz de tudo para entrar na residência e ter respostas para muitas perguntas. Ele é acompanhado de Haruka Honjo (Yuina Kuroshima), que também sente uma atração estranha pelo local.

As cenas iniciais da série são um pouco confusas e acaba sendo complicado definir o que está acontecendo, qual exatamente é o foco, entre outras coisas, por mais que o ano seja mostrado na tela em alguns momentos. Mas quem já assistiu a alguns títulos da franquia sabe, ao menos, que a história a ser contada envolve assassinatos com muita brutalidade e paranormalidade.

O Grito fala muito sobre misoginia, sobre o sentimento de um homem tratar uma mulher da forma que quer, exercendo todo o seu poder, força e manipulação sobre ela. Vemos isso no próprio caso da lenda urbana, quando Kayako é morta apenas por gostar de outro homem — não que qualquer outro motivo justificasse um assassinato tão terrível. O problema é mostrado também em uma cena de estupro que não só é repugnante, como choca pela naturalidade mostrada no rosto de quem está cometendo o crime.

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A jovem a ser estuprada é aliciada por colegas de escola, que levam um amigo para cometer o ato brutal. Enquanto tudo acontece, as garotas não hesitam em sorrir e, de fato, rir da situação, como se ver uma pessoa sofrendo trouxesse algum tipo de prazer. E não são poucos esses momentos que trazem desconforto. São diversas as situações que levam as pessoas que vivem na casa amaldiçoada à morte, todas extremamente horríveis de serem assistidas, como o assassinato de uma mulher grávida que resulta na retirada do feto de sua barriga com uma faca.

Em seis episódios de menos de meia hora cada, O Grito: Origens consegue ser desgastante psicologicamente, e definitivamente não é uma série a ser maratonada de uma vez só. Até mesmo as relações entre as pessoas, deixando a paranormalidade um pouco de lado, é fria e desconfortável. A trama não te faz pular do sofá de susto e não traz aquele medo de espíritos, almas amaldiçoadas e demônios que nos faz perder o sono, mas choca, enoja e traz um sentimento agoniante. Não é uma série boa de assistir. Entre uma brutalidade lenta e arrastada junto a gritos que parecem de sofrimentos reais, a série não é um terror que traz empolgação, que dá vontade de estourar uma pipoca e curtir o momento.

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É preciso conhecer a história da franquia para assistir à série para entender o que está por vir e que o mal não está na paranormalidade, mas sim na maneira com que o humano trata a vida com brutalidade, gerando consequências graves até após a morte. É complicado para quem tem estômago fraco absorver o que acontece como algo além do sofrimento gratuito, uma vez que muitas cenas são difíceis de serem assistidas. Para padrões não-hollywoodianos, O Grito: Origens entrega o terror que promete e pode ser uma boa opção para os fãs do gênero.