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Crítica | Labirinto do Medo não funciona nem como trash

Por| Editado por Jones Oliveira | 27 de Abril de 2021 às 15h05

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Podemos reclamar de muitas coisas, mas a promoção que a Netflix faz de produções não estadunidenses é certamente um dos pontos fortes da plataforma. Labirinto do Medo chama a atenção justamente por ser uma produção sul-africana, algo que conhecemos pouco por aqui. Ao contrário de excelentes surpresas internacionais, Labirinto do Medo é bastante sofrível, tanto na técnica, quanto no conteúdo, e acaba entregando um quase trash, ou seja, apenas uma série bastante ruim, mas pouco divertida.

O terror tem muitas vertentes e o medo que o espectador sente não costuma ser o melhor dos termômetros, já que pessoas diferentes têm níveis de tolerância diferentes para os recursos do gênero. Labirinto do Medo, no entanto, parece ignorar o que a história do gênero nos ensinou e acaba lembrando muito produções escolares, de aprendizes que tentam reproduzir elementos icônicos de suas obras favoritas, mas acabam fazendo apenas uma cópia mais pobre e que soa estranha no contexto da sua própria obra. Gareth Crocker e Fred Wolmarans, no entanto, não são estreantes: a dupla realizou também a série Shadow, da Netflix.

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Atenção! A partir daqui, a crítica pode conter spoilers.

Primeiro contato

Cada pessoa tem seu modo de assistir séries e Labirinto do Medo pode ser bem ruim para quem gosta de ser fisgado pelo primeiro episódio. Isso acontece, porque poucas coisas realmente indicam que a série merece nosso tempo, afinal, os episódios não são curtos e cada um deles testa a paciência de quem está assistindo. A história não intriga muito logo de cara e tudo parece ser apenas mais uma história de fantasmas.

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Depois, descobrimos que, apesar do arco maior que se desenrola ao longo de toda a temporada, Labirinto do Medo é episódico, lembrando muito séries clássicas como Arquivo X e Doctor Who. A influência de séries britânicas é notável em diversos aspectos, sobretudo na direção, o que ajuda a deixar tudo mais estranho para quem não está acostumado com o estilo.

A influência britânica tem uma raiz profunda e séria, que respinga em Labirinto do Medo e que infelizmente é pouco explorada. A colonização britânica deixou cicatrizes profundas na cultura sul-africana, que foi intencionalmente apagada ao longo dos anos de colonização e culminou no terrível apartheid, cuja metáfora cinematográfica mais cultuada aconteceu na sci-fi Distrito 9.

A representatividade existe, claro, mas a linguagem ainda é bastante colonial. Mesmo quando as culturas sul-africanas são evocadas pelo roteiro, elas acabam não sendo exploradas o suficiente. Para quem estava interessado em conhecer uma série sul-africana, é uma pena que Labirinto do Medo possa soar como um embuste, já que parece muito mais uma série europeia que africana. Mas quem somos nós para julgar?

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Paciência

Ao vermos as produções originais Netflix feitas pelo Brasil, podemos ter uma noção de que essas obras não representam a qualidade do nosso cinema (incluindo, aqui, as séries). É difícil julgarmos as produções sul-africanas pelo que vemos na Netflix. Labirinto do Medo soa tão pasteurizada quanto parecem as nossas produções Netflix.

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É injusto, talvez até indecente, querer exigir um certo nível de qualidade que, talvez não percebamos, é também colonial: as produções estadunidenses não podem servir de parâmetro quando vamos assistir a algo de outro país. Por outro lado, a própria série evoca as referências.

Os diálogos são terríveis, mas são ainda piores por causa das atuações. Algumas linhas ficariam ótimas com interpretações de Samuel L. Jackson ou Tim Roth numa produção tarantinesca, mas a direção de Labirinto do Medo acaba criando uma estilização fraca, abalada por qualquer traço de má atuação (o que acontece quase que constantemente). Tudo fica ainda pior com o abuso dos recursos de pós-produção, demonstrando que a equipe criativa não estudou muito bem obras de baixo orçamento.

Assim, Labirinto do Medo habita o limbo das produções interessantes e com potencial que se tornam apenas mais um título para preencher o catálogo da plataforma. Nem boa o suficiente para nos deixar ansiando uma segunda temporada, nem ruim e criativa o suficiente para ser considerada uma série trash acidental e divertida. Para quem acompanhou toda a temporada, nem mesmo o final é capaz de garantir aquela sensação de que o tempo investido valeu a pena — ainda que eu defenda sempre que vale a pena ver más produções, levantar essa bandeira é muito mais complicado quando se trata de séries, obras que costumam exigir muito mais do que duas horas do nosso tempo.

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Enquanto os casos menores ficam enfadonhos por repetirem o formato sem entregar algo mais substancioso, como fazem as séries clássicas que parecem ter servido de inspiração para Labirinto do Medo, o arco maior tem seu desfecho em uma reviravolta que pode ser confusa para alguns espectadores. A reviravolta final, no entanto, não é complexa: roteiro e direção parecem ter escolhido trabalhar os fatos com vistas ao plot twist, escondendo os detalhes como uma forma de deixar mais difícil de entender o que não era tão complicado, uma demonstração da má qualidade de ambos.

Labirinto do Medo deve conseguir assustar quem é bastante sensível, mas provavelmente não é uma boa recomendação para quem tem uma longa vivência com o terror. Conhecer uma produção sul-africana e fugir dos lugares-comuns são bons motivos para assistir à série, mas o espectador curioso certamente ganharia muito mais, nesse sentido, procurando por outros títulos que sejam menos problemáticos.

Labirinto do Medopode ser assistido na Netflix.

*Esta crítica não reflete, necessariamente, a opinião do Canaltech.