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Crítica | Ginny e Georgia pode ser como Gilmore Girls, mas com problemas maiores

Por| Editado por Jones Oliveira | 02 de Março de 2021 às 12h05

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Divulgação: Netflix
Divulgação: Netflix
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"Nós somos como as Gilmore Girls, mas com peitos maiores", diz uma das protagonistas da série Ginny e Georgia no início da trama, um dos últimos lançamentos originais da Netflix. A nova série vem sendo comparada com um dos maiores sucessos da década de 2000 por contar a história de uma mãe solteira (apesar de ter tido alguns relacionamentos durante a vida) e sua filha, mas na prática a comparação não faz muito sentido, isso sem nem pensar nas características físicas citadas.

Lorelai Gilmore (Lauren Graham) tinha problemas de relacionamento com seus pais, principalmente com a mãe, que queria que ela vivesse uma vida cheia de privilégios que foi imposta a ela desde pequena, plano que foi comprometido quando ela engravidou de Rory Gilmore (Alexis Bledel) ainda na adolescência. Foi quando a protagonista deixou de lado a sua vida de luxo para sempre para ter uma vida comum de classe média ao lado da filha, a criando da forma que queria e sem a interferência dos pais.

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Já em Ginny e Georgia, os problemas que assombram a mãe, Georgia (Brianne Howey), são extremamente mais pesados, a obrigando a seguir uma vida perigosa para proteger os filhos, Ginny (Antonia Gentry) e Austin (Diesel La Torraca), de pais diferentes. Georgia, que na verdade se chama Mary, não consegue se acomodar em uma pequena cidade, assim como fez Lorelai, e muito menos consegue escapar desses problemas graves, o que também acaba dificultando a relação de amizade entre mãe e filha, que em Gilmore Girls chega até a ser admirável, uma vez que ela sempre precisa esconder a verdade.

Atenção: esta crítica contém spoilers da série Ginny e Georgia!

Desde o início de Ginny e Georgia, sabemos que Georgia esconde segredos, mas conforme a trama vai acontecendo vamos descobrindo quais e o quão grave eles são, e esses mistérios impactam a vida da filha diretamente. Ginny é uma adolescente de 15 anos, mesma idade que a mãe tinha quando a teve, e nunca teve amigos por estar sempre se mudando de cidade. É quando a chegada à cidade fictícia de Wellsbury, no estado norte-americano do Massachusetts, muda essa realidade completamente, fazendo com que a jovem passe a ter a vida de uma adolescente comum. Isso acaba deixando a história de Georgia como a trama secundária na maior parte do tempo. Aliás, fica um pouco difícil contar os inúmeros enredos que existem na série.

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A mudança acontece quando o ex-marido de Georgia, Kenny (Darryl Scheelar), tem um ataque cardíaco e morre, a deixando toda a sua herança. A morte, que até parece natural no início, se mostra misteriosa enquanto vamos conhecendo a protagonista. São raros os momentos em que Georgia demonstra para o espectador quem ela realmente é, até nos momentos em que está sozinha, como se precisasse sustentar essa personagem de uma mulher de 30 anos naturalmente confiante e decidida, quando, na verdade, a vida a obrigou a ser assim.

Além da questão da vida misteriosa de Georgia e dos comportamentos adolescentes de Ginny, vamos vendo outros enredos dentro de cada um desses desenrolar. Começamos a série acreditando no enredo principal e simples de um relacionamento entre mãe e filha, mas o assunto é destrinchado em diversas camadas entre as principais, como a perigosa vida criminal de Georgia, o que ela fez com seus ex-maridos e suas atividades ilícitas. Vemos também uma exploração profunda da sexualidade de Ginny, o dia a dia de suas novas amigas, os problemas de cada uma delas, além de muito romance, traições e provas de amizade.

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É como se fossem várias séries dentro de uma só, com tudo sendo contado em longos 10 episódios de quase uma hora cada. A impressão, em alguns momentos, é de que os produtores da série não quiseram desperdiçar nenhuma gravação, colocando o máximo de cenas que podiam. Esses subenredos, no entanto, não são tão confusos e a série é surpreendentemente agradável de assistir, ainda que muitos dos acontecimentos funcionam como se estivéssemos espionando a vida do vizinho.

Em meio a tantas histórias diferentes em uma só, Ginny e Georgia também não deixa de lado os debates sociais, dedicando boa parte de seu tempo ao bullying sofrido por Austin na escola e aos conflitos de Ginny pela questão birracial, sendo filha de um pai negro e de uma mãe branca. São discussões interessantes que falam da forma diferente de racismo sofrido por essas pessoas, que são brancas demais para se encaixar em uma identidade social e negras demais para se encaixar em outra, de acordo com as próprias palavras dos personagens. Outro personagem mestiço, Hunter (Mason Temple), descendente de tailandês com branco, também faz seus desabafos sobre o preconceito sofrido, fazendo com que o espectador presencie um diálogo bizarro da própria Ginny, em um momento de indignação, sendo racista com Hunter e ele revidando na mesma moeda.

Poderíamos ficar horas debatendo todas as questões trazidas por Ginny e Georgia, mas mesmo em meio a todos os inúmeros acontecimentos dentro da trama não conseguimos esquecer por completo de Georgia e sua vida. Como quase todo drama, muitas ocasiões são sustentadas com flashbacks do passado, o que não é diferente com a protagonista. Com apenas 30 anos de vida, vemos que o que a motivou a ser uma pessoa perigosa começou com o abuso constante do padrasto, o que fez com que ela fugisse de casa, se tornasse moradora de rua e precisasse reconstruir do zero, apelando para alguns crimes por nunca contar com nenhum suporte.

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Ao contrário de outros protagonistas, Georgia não é simplesmente uma personagem que toma decisões erradas, mas sim alguém que sabe que precisa tomar essas decisões para sobreviver e proteger a família. Ainda que sendo investigada por um detetive particular e seus segredos aparecendo aos poucos, Georgia não perde a plenitude em frente aqueles que a enfrentam, mas é complicado entender se isso acontece porque a série tem tantas tramas para abordar e não consegue se dedicar totalmente a ela, ou se realmente foi uma falha na hora de juntar as peças da história que, por si só, renderiam uma ótima série policial.

Ginny e Georgia está disponível na Netflix em 10 episódios.