Crítica | Fúria Incontrolável mostra o quanto o ser humano é brutal
Por Sihan Felix |
O conceito de um filme diz respeito a como, aparentemente, ele foi pensado para chegar ao público. Fúria Incontrolável é bem claro nesse ponto. Sem arrodeios ou firulas estéticas, a direção de Derrick Borte (de Caminhos de Sangue — filme de 2018) é muito direta, sugerindo que todos os horrores de um dia agitado (eufemismo) podem acontecer em qualquer lugar.
Claro que Borte está falando do seu próprio país e, ainda, não se apega somente às ações em si, mas na ira que instiga os atos. Nesse sentido, por mais que o thriller se passe em uma região menos insegura da Louisiana, durante uma hora e meia o que vemos são placas de um estado sem nome, indicando, somente, America’s Heartland (Coração da América em tradução livre).
No final das contas, a raiva extrema do Homem em Fúria Incontrolável pode ser vista como um desabafo, um grito de seu diretor através de um conceito extremo. A brutalidade, que, talvez, mostre-se em definitivo apenas no terceiro ato, pode chegar como vilã tarde demais para a absorção daquilo tudo. A gratuidade do último e mais violento embate pode ser tão apavorante quanto desnecessária. Mesmo assim, o filme de Brute parece trazer de volta a onipresença de Crowe que, vez ou outra, talvez lembre o Maximus de Gladiador (de Ridley Scott, 2000).
Fica a experiência de uma produção que aposta na crueza para expor a crueldade. Resta que nós consigamos discernir a metáfora da realidade, o simbolismo hiperbólico do cotidiano comum. Se bem que, nas entrelinhas, podemos constatar que o Homem (o ser humano), enfim, é muito mais brutal e mata muito mais diariamente do que o personagem fictício de Crowe o faria em toda a sua vida.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Canaltech.