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Crítica | Don Oscar: eis um filme que realmente merece um Framboesa de Ouro

Por| Editado por Jones Oliveira | 17 de Março de 2021 às 12h30

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Defendo a ideia de que nenhum filme é bom ou ruim em si e de que nenhum artista faz coisas por fazer. Para o espectador, fica o trabalho de gostar ou não e refletir sobre o assunto (as coisas das quais gostamos podem dizer muito sobre nós). Mas como, então, a crítica pode ser capaz de dizer que um filme é bom ou ruim? Já toquei nesse assunto polêmico outras vezes e, com Don Oscar, o problema retornou à minha cabeça.

Certamente alguém no mundo gostou de Don Oscar e isso talvez já valide a existência da obra. Por outro lado, imagino a dor de pequenos realizadores colombianos que dariam tudo para ter um orçamento ou pelo menos os equipamentos de Don Oscar para fazer um filme que tivesse um conteúdo mais substancial. É difícil acreditar que Don Oscar é o melhor que podemos importar do cinema colombiano.

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Sempre digo que nenhum filme é perda de tempo, porque sempre podemos aprender algo com filmes ruins. Don Oscar quase conseguiu me fazer desacreditar dessa máxima que, não nego, é difícil de cultivar. Com uma promoção que instiga bastante, Don Oscar, quando assistido, soa como um tremendo embuste que parece usar suas grandes referências como muleta. É possível que a própria equipe não tivesse uma ideia muito clara do que estivesse fazendo, o que explicaria o amadorismo de algumas sequências.

Lava-Oscar

No original, em espanhol, "Lavaperros". Em inglês, "Dogwashers". Em português, "Don Oscar". Para além da eterna discussão sobre traduções de títulos, o que chama a atenção, aqui, é que o título do filme em espanhol e em inglês se referem a um personagem, enquanto o título em português se refere a outro. Em defesa da versão brasileira, a divulgação e a sinopse realmente são focadas em Don Oscar.

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O que acontece é que o filme é sobre tanta coisa que acaba sendo sobre nada. O que nas mãos de um bom diretor poderia ser genial, aqui é apenas uma bagunça de histórias que se cruzam. O filme evoca o tempo todo referências a grandes diretores de filmes em língua espanhola, como Pedro Almodóvar e Alejandro González Iñárritu, mas tudo isso com uma estética B que lembra algumas das homenagens feitas por Quentin Tarantino, diretor que também é invocado nos diálogos e alusões a Pulp Fiction e Cães de Aluguel.

Um combo desses poderia ser realmente incrível, mas o filme é tão perdido que é difícil de entender o que está acontecendo. No IMDb, Don Oscar é classificado como drama, mas, ao chegar na Netflix, que distribui o título aqui no Brasil, Don Oscar aparece como comédia de humor ácido. Isso acontece, porque é difícil classificar esse filme, que parece se confundir sobre si mesmo a partir do título, mantendo a confusão ao longo de toda a trama, até os créditos finais.

Ora as atuações são caricatas e tentam evocar uma comédia que não existe, ora o filme parece finalmente iniciar um grande drama latino, para, logo em seguida, dissolver o clima criado em mais do mesmo. Don Oscar ainda oscila por linguagens que não se comunicam sob a direção de Carlos Moreno. É possível encontrar uma gama enorme de gêneros e linguagens dentro de Don Oscar, mas é difícil concatenar e juntar isso tudo como algo homogêneo.

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Há decisões criativas que são realmente muito questionáveis, mesmo quando parecem inofensivas e pequenas. Logo no início do filme, vemos Oscar e sua esposa tomando café da manhã. Nesse momento, a direção opta por um olhar divino, com a câmera acima da mesa, nos mostrando o prato dos personagens como se estivéssemos rolando o feed de um Instagram, mas com uma imagem sem estabilização que nos dá uma sensação de um olhar em primeira pessoa. Nada disso se desenvolve e logo descobrimos que foi só um jeito de mostrar a mesa "com estilo".

É com esse tipo de amadorismo que vamos precisar conviver até o final do filme. Ser amador não significa ser ruim, mas amadorismo com pretensões grandiosas pode ser uma fórmula amarga e desastrosa.

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Humor?

Comédia ou drama, não importa. Don Oscar não nos dá elementos suficientes para entendermos sua proposta. Alguns personagens, como o garoto que rouba o dinheiro ou o lavaperros que mata todo mundo no final, dariam histórias realmente excelentes, mas o que Don Oscar parece tentar fazer é emular as múltiplas histórias que se conectam como em Amores Brutos (Amores Perros), mas com uma direção muito aquém da de Iñárritu.

Esse é o lado dramático que vale a pena e nos faz pensar que nosso tempo não foi completamente desperdiçado. Do outro lado, no entanto, um humor de filmes indie e besteirol que não combinam em nada com os demais elementos da história. As piadas ofensivas e sem graça evocam, para mim, questionamentos sobre a equipe, que não faz esforços para maquiar as piadas ofensivas.

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Claro que o humor muda de um país para o outro e precisamos ser compreensivos com isso, já que se trata de um filme colombiano. É o que fazemos quando vemos um humor mais sisudo, como o do Monty Python, que é um humor bastante diferente do que faz, por exemplo, Leandro Hassum aqui no Brasil. Culturas diferentes geram comédias diferentes. Mas esse é um pano que não consegui passar para Don Oscar, porque as piadas desse filme ultrapassam a questão de gosto e esbarram na ética.

O tema humor atinge limites que são inaceitáveis. Há um burburinho sobre a pressão que a polícia está fazendo sobre Don Escobar, mas nada disso se desenvolve. Em meio a tudo isso, a dupla do policial negro e do policial escocês, que ficam trocando ofensas racistas e xenofóbicas em tom de piada. O diretor Moreno precisa ser urgentemente informado de que não há graça nenhuma nessas piadas.

Don Oscar empolga com a premissa e com alguns personagens, mas se perde completamente em poucos minutos. Assistir até o fim pode ser um enorme esforço, porque nada decola e o desenvolvimento da trama é um tremendo marasmo interrompido por episódios de vergonha alheia.

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Don Oscarb pode ser assistido no catálogo da Netflix.

*Esta crítica não reflete, necessariamente, a opinião do Canaltech.