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Crítica | À Espreita do Mal é suspense-terror que desafia nossa dedução

Por| Editado por Jones Oliveira | 04 de Maio de 2021 às 09h38

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Zodiac Features
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Eis que surge, no catálogo da Netflix, mais um daqueles filmes cuja experiência pode ser ainda melhor se compartilhada, isso porque À Espreita do Mal é um filme com final imprevisível, daqueles que gostamos de indicar dizendo: “veja aí, quero ver se você descobre quem é o vilão!”. Isso também significa que é um daqueles filmes que continuam perpetuando memórias afetivas, como também fizeram Pânico e Jogos Mortais.

O elenco excepcional é essencial para ajudar a direção a manipular nossas percepções e, mesmo que você descubra quem é o vilão, é provável que ainda seja surpreendido por outros plot twists que surgem no terço final do filme. Até lá, o percurso também ativa a curiosidade do espectador: as sequências são bastante tensas e camadas são reveladas aos poucos, de modo que podemos tomar quase qualquer coisa como suspeita, ainda que esse pensamento se sustente por apenas alguns minutos.

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Atenção! A partir daqui, a crítica pode conter spoilers.

O “como” importa

O roteiro de À Espreita do Mal é certamente menos empolgante do que o filme, não porque a história seja inferior à forma, mas porque a forma potencializa (muito) a história. Logo no início, a câmera se movimenta pela floresta, trazendo um tom sobrenatural para o filme — e quem não leu nada sobre a trama antes de assistir, pode ficar um bom tempo pensando que se trata de uma história de fantasmas.

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Ainda nesta primeira sequência, o espectador é fisgado pelo momento em que o garoto é capturado, voando em câmera lenta, como se tivesse sido puxado por uma mão invisível, enquanto a bicicleta segue sozinha até desaparecer do quadro. A partir disso, os personagens centrais começam a ser apresentados. Suas relações aparecem claramente abaladas, mas nenhum detalhe nos é revelado sobre isso, aumentando ainda mais a tensão e contribuindo para a ideia de que qualquer um pode ser suspeito, o que inclui possibilidades sobrenaturais.

O filme não é lento, mas usa movimentos de câmera que causam desconforto suficiente no espectador para que desconfiemos de cada imagem mostrada. Recursos como zoom-ins e travellings carregam uma tremenda tensão, ainda que ninguém esteja em cena. No entanto, mesmo quando nada é revelado, como nas sequências em que a casa vazia é mostrada, nossa memória do local é exercitada.

Esse conhecimento será útil posteriormente, quando À Espreita do Mal dá uma breve guinada e, por um tempo, acabamos assistindo a um found footage que logo ativa nossas memórias de A Bruxa de Blair. Essa mudança de linguagem contribui muito para a trama por levar o suspense aos seus limites, confundindo-se com o terror. Terminado este trecho (o plot twist que revela os phroggers), tem início a parte final do filme, com ainda mais revelações e mais reviravoltas. No meio disso, a maravilhosa personagem de Helen Hunt, que vai de megera à vítima.

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Julgamentos

À Espreita do Mal é um excelente filme de suspense e pode arrepiar os pelos da nuca de algumas pessoas, além de ter viralizado o suficiente para já ser um filme levemente cultuado por um grupo de espectadores. Até a máscara assustadora de sapo poderia se tornar um ícone digno do terror, porque o filme tem esse cacife. Mas acredito ser ainda mais interessante o modo como roteiro, montagem e direção liberam as informações em camadas sutis que se acumulam e, quando menos percebemos, está tudo de cabeça para baixo.

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O foco inicial em Jackie (Helen Hunt) a coloca no início da fila de possíveis vilões ou causadores de algum mal, já que seu marido e filho parecem ser apenas pessoas muito inocentes e que foram profundamente abaladas pelo seu caso de infidelidade. Com o tempo, no entanto, sua personagem ganha álibis fortíssimos que a tiram dos epicentros dos problemas. No lugar de culpado surge seu marido, o policial que investigava o sumiço do garoto, como o vilão maior.

Como um filme dentro de um filme, com seu próprio núcleo de reviravoltas, a inserção dos phroggers é um elemento-surpresa que, ao longo do seu desenvolvimento, nos leva a cogitar que Alec (numa interpretação excelente de Owen Teague) é um psicopata. À Espreita do Mal nos faz quebrar a cara uma última vez, com a revelação de que não é um filme sobrenatural, nem um slasher moderninho, mas sim um belíssimo suspense sobre uma história de vingança.

À Espreita do Mal pode ser assistido na Netflix.

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*Esta crítica não reflete, necessariamente, a opinião do Canaltech.