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Amor e Sorte | Elenco conta desafios e surpresas de fazer uma série remotamente

Por| 05 de Setembro de 2020 às 15h30

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Divulgação/Globo
Divulgação/Globo

Com essa pandemia, a tecnologia nunca se fez tão presente em nosso cotidiano. Em várias áreas da vida, arranjou-se um jeito de fazer as coisas remotamente. Mas você já imaginou fazer uma série de maneira completamente remota? Essa é a proposta de Amor e Sorte, a nova aposta da Globo, que vai ao ar às terças-feiras depois da novela das nove, a partir do próximo dia 8 de setembro. O Canaltech conversou com o diretor de tecnologia da emissora e participou de coletivas de imprensa com todo o elenco da série para entender direitinho como essa produção aconteceu.

Cada episódio de Amor e Sorte é uma poesia diferente sobre a quarentena, e cada trama foi pensada especialmente para ser interpretada por grandes nomes da dramaturgia que passam este período juntos. Os atores receberam na porta de casa um kit completo de captação, que incluía uma câmera para captação de vídeo em 4K full frame, lentes de 35mm, transmissores de vídeo e de áudio, receptores, tripé, estabilizadores, ring lights, microfones de alta sensibilidade, e tudo que se precisa em um set de filmagem, e então montaram e operaram os equipamentos sozinhos, apenas com direcionamento virtual da produção. Com isso, houve toda uma equipe on-line trabalhando com eles: fotógrafo, figurinista, assistentes de direção, diretores, técnicos e até produtores de arte.

Marcelo Bossoni, diretor de Tecnologia do Entretenimento da Globo, conta como foi depender dos atores para instalar e manusear os equipamentos: "Com a chegada da pandemia, a tecnologia a serviço do entretenimento precisou se reinventar. Trabalhar com técnicas de produção remota não é algo novo, mas para manter a magnitude e a qualidade dos produtos que vão ao ar foi necessário aprender, repensar e adaptar o uso de uma série de tecnologias já conhecidas e utilizadas no mercado", afirma.

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O diretor ressalta que a equipe de tecnologia criou um conceito de nuvem privada com uma rede de interação capaz de interligar todos os profissionais (cenografia, direção de arte, continuísta, figurista etc) – à distância – para que pudessem monitorar e dirigir os talentos remotamente, de modo que a tecnologia fosse uma solução, e não uma barreira.

"Vivemos um momento atípico em meio a uma crise sanitária global que nos fez repensar as estruturas de produção e tecnologia para o entretenimento. Apesar dos desafios, esse modelo nos trouxe também uma série de ganhos, como, por exemplo, a capacidade de encurtar distâncias (permitindo conectar pessoas em localidades diversas e otimizando problemas de limitação física), diminuir os timings de produção (com tomadas que não dependem de deslocamentos), além trazer muitos processos para o ingest na nuvem", afirma o diretor de tecnologia.

Para Marcelo tudo isso ressalta a capacidade que a tecnologia tem de se readaptar para atender novas necessidade. "A evolução e a reinvenção, no nosso setor, é uma realidade atual, consequência da pandemia, e cuja busca por alternativas técnicas nos permitiu manter a qualidade dos produtos e a própria relevância do entretenimento. E esse processo, certamente, pode vir a impactar os projetos da área no futuro", opina.

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O diretor conclui que superar a distância física, combinando softwares de videoconferência e sistemas de monitoramento multichamada, também foi desafiador, principalmente para disponibilizar a infraestrutura e o suporte necessários. "Foi preciso criar soluções que ajudassem tanto os talentos quanto a produção a ter uma dinâmica viva de interação. Ter tirado essas soluções do papel, mantendo a qualidade e respeitando os protocolos de segurança, foi muito gratificante. E o resultado se reflete nas próprias produções que a Globo tem entregado ao público", conclui o diretor de tecnologia.

Gilda e Lúcia

O primeiro episódio vai ao ar no próximo dia 8, e é protagonizado por Fernanda Montenegro e Fernanda Torres, interpretando mãe e filha que precisam lidar com o isolamento e seus fantasmas do passado. O texto é de Antônio Prata ao lado de Chico Mattoso, Fernanda Torres e Jorge Furtado. O episódio em questão ainda conta com a direção de Andrucha Waddington, marido de Fernanda Torres. A captação ficou por conta dele e dos filhos, Pedro e Joaquim.

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A produção à distância em si, inclusive, foi uma das razões que levaram Jorge Furtado a pensar na série. “Este projeto surgiu da vontade, da necessidade, da urgência de autores, atores e técnicos de produzir em tempos de pandemia. Lembrei que muitos atores estão confinados juntos, ou porque são casados, ou porque são mãe e filha, amigos, irmãos. E pensei na possibilidade de criar dramaturgia para duplas já confinadas, ambientadas em suas próprias casas”, afirma Furtado.

Para a diretora artística Patrícia Pedrosa, a melhor parte da série é o pioneirismo. "Só há uma série inglesa sobre isso. Nesse tempo, nesse formato, não tem ninguém fazendo. Sempre tem um diretor dentro da casa, alguma coisinha ali para facilitar a execução. No nosso caso não. Esse pioneirismo deu muita animação. Resultar assim foi muito emocionante", conta.

"Esse episódio cravou para sempre um momento de realização artística, comunhão familiar, aceitação de uma nova possibilidade de sobrevivência diante de uma tragédia como esse vírus", relata Fernanda Montenegro.

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A atriz Fernanda Torres detalha os bastidores da gravação e a importância do projeto como marco deste período. "Nós subimos a Serra e, em algum momento, a gente aceitou aquele lugar como nosso. Quando veio a filmagem, foi uma espécie de coroação, quase como se fosse uma foto em homenagem a um momento da nossa vida. Esse episódio veio como uma memória. A gente conseguiu que fosse não numa foto, mas em um episódio de 40 minutos, onde estamos todos representados. Nossa família inteira e aquele lugar que nos salvou", lembra

Linhas de Raciocínio

O segundo episódio, que vai ao ar no próximo dia 15, conta com Lázaro Ramos e Taís Araújo interpretando um casal confinado que, ao divergir sobre uma questão ideológica, chega a uma grande discussão matrimonial turbinada pelos nervos à flor da pele.

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O episódio escrito por Alexandre Machado mostra como a exaustão pela convivência excessiva pode afetar um casal. "O episódio fala do limite emocional pelo qual todos nós passamos durante essa quarentena. O confinamento forçado leva as emoções ao extremo, e nos vemos vivendo conflitos antes inimagináveis, sobre os assuntos mais prosaicos. Na história, acompanhamos como um casal reage a um panelaço, transformando uma crise política numa crise matrimonial. Vemos a dor e o ridículo disso”, adianta Alexandre Machado, autor do episódio.

Com o texto em mãos, Lázaro Ramos e Taís Araújo precisaram realizar muito mais tarefas do que estudá-lo e interpretá-lo, como geralmente fazem. “A gente trabalhou duríssimo para colocar esse episódio na rua. Tive que me esforçar para fazer e conseguir fazer. Até montagem de microfone a gente fez. A equipe estava remota, nos ajudando muitíssimo, mas não estava aqui. Eles nos ajudavam, mas dependiam muito do nosso empenho. Então, era empenho dos dois lados, da equipe e nosso. Foi muito bonito de ver esse trabalho colaborativo”, comenta Taís.

Apesar da experiência como diretor, Lázaro também destaca o grande aprendizado que foi realizar este trabalho: “Mesmo eu tendo experiência como diretor, tendo estudado um pouco para exercer minha profissão, tudo era muito diferente. Os equipamentos que chegaram, a maneira de se relacionar e conversar com os técnicos, com o diretor de fotografia à distância, a gente teve que criar nosso próprio vocabulário para esse momento".

O ator conta que a melhor parte foi conseguir ser ator e trabalhar no meio disso tudo. "Mas, ao mesmo tempo, foi tudo muito prazeroso, porque nesse momento em que está difícil exercer a nossa profissão. Foi um respiro. A gente tava pensando só em angústia e de repente teve um sopro de vida", afirma.

Territórios

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Já o terceiro episódio vai ao ar em 22 de setembro, com Emilio Dantas e Fabiula Nascimento encarnando a história de um casal que caminha para o divórcio quando o isolamento começa, com texto assinado pelas autoras Jô Abdu e Adriana Falcão. Segundo as autoras, é um texto que fala da dificuldade do momento para aquele casal, que sabia que se amava, mas que estava com uma crise no meio de uma pandemia. A mensagem é que as crises podem se resolver e muitas vezes são necessárias.

"Uma das partes mais legais disso tudo foi a revisita. Eu lembrei de quando trabalhava com produção de vídeo. O primeiro cabo que a gente teve que colocar aqui em casa, com fita crepe, me deu um saudosismo muito grande do meu primeiro emprego. E, vivendo tudo isso, fiquei muito interessado em fazer a fotografia remotamente também", reflete Emílio Dantas.

Para Fabiula, mexer em todos os aparelhos foi uma diversão à parte. "Toda essa parte da câmera, de logar cartão... Pegar em uma câmera na mão e realizar um plano, entendendo qual é o peso daquilo. De ir no olhar sem premeditar. Essa parte técnica de operar as coisas foi a que eu mais aprendi e a que eu fiquei mais interessada em aprender. As coisas como arte e caracterização já fazem muito parte do meu trabalho. Mas pegar uma câmera na mão foi um prazer enorme", relata a atriz.

Além dos aprendizados técnicos, a experiência marcou e fortaleceu a relação do casal, na avaliação dos atores, que destacam os momentos de redescoberta um do outro e da própria casa. "Como tivemos que fazer a câmera na mão, consegui ver nuances do Emílio de outra perspectiva. Fazia cenas bem de perto e é bonito você ver o outro compondo aquele quadro, toda a doçura dele estava ali em destaque", revela Fabíula. "Foi um tempo de a gente se reabastecer", define Emílio.

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A Beleza Salvará o Mundo

No quarto e último episódio, que vai ao ar dia 29 de setembro, Caio Blat e Luisa Arraes são Manoel e Teresa. Um engenheiro químico aspirante a diretor de cinema e uma atriz, que se conhecem justamente no fim de semana em que o isolamento social começa e resolve fazer um filme.

"Nós três, eu, Jorge e Caio, sabíamos que estávamos passando por um momento tão inédito, com tanto medo, que queríamos que as pessoas falassem sobre isso. Queríamos conectar as pessoas nesse mesmo assunto. E foi a paixão pela experiência nova que nos motivou a ir por esse caminho", comenta a atriz.

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Caio também reforça como foi importante viver a função dos colegas. "Foi uma grande oportunidade superar esse momento do nosso setor. Inventamos uma maneira de continuar criando. Conhecer de perto todas as funções do set, ver como cada uma delas é importante, fazer um trabalho tão colaborativo foi um grande aprendizado”, destaca Caio Blat.

"Um momento muito incrível foi quando a estação de trabalho chegou aqui em casa, com os equipamentos todos, e a gente ligou aquilo e viu a carinha da equipe toda. Foi muito legal! Muito lindo! Realmente deu uma dimensão dos desafios que a gente estava enfrentando. Ao mesmo tempo em que ficamos apavorados com o que a pandemia podia trazer, surgiu este desafio cheio de surpresas. Com outro conceito de privacidade, de comunicação, de encontro", o ator conclui.