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A tirania da minúscula coroa: jornalista cria série documental sobre a COVID-19

Por| 12 de Julho de 2020 às 13h00

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Ouvimos falar pela primeira vez sobre o novo coronavírus entre o final de 2019 e o começo de 2020, quando o mundo começou a receber notícias sobre uma nova doença que estava infectando os chineses e, supostamente, vindo de animais. Por se tratar de uma nova doença, nenhum alardo foi feito para justificar o que ainda não era certo, então o mundo inteiro ainda teve algumas semanas de sossego.

Mas não demorou muito para que o SARS-CoV-2 se espalhasse para o resto do mundo a ponto de ser declarada uma pandemia pela OMS (Organização Mundial de Saúde). A doença ganhou nome, COVID-19, e cada vez mais diferentes sintomas começaram a ser diagnosticados. Inclusive, até mesmo pessoas saudáveis, fora do grupo de risco indicado inicialmente, começaram a morrer.

A COVID-19, desde então, vem sendo um problema grave que afeta não só a saúde pública, como a economia, fazendo com que a população precise fazer algumas escolhas e sacrifícios. Países, governos e prefeituras, do Brasil e do mundo todo, estão tomando decisões isoladas sobre a melhor forma de lidar com todo esse problema.

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Para conscientizar mais a população sobre o novo coronavírus e todas as suas consequências, o jornalista Gustavo Girotto, ao dos irmãos Ricardo e Julio Sartori, especialistas na produção de documentários, criou uma série documental pensada e nascida na quarentena: A tirania da minúscula coroa: Covid19.

O grupo coletou mais de 300 horas de materiais, que foram transformados nos episódios da série documental lançada no YouTube. O roteiro foi criado com bastante dedicação e cuidado para que o espectador possa se informar sobre a doença e a sua gravidade, com palavras de especialistas no assunto, como médicos, economistas, artistas, jornalistas e profissionais da área de pesquisa.

O Canaltech conversou com Gustavo Girotto, que contou um pouco do processo de produção do documentário ao lado dos irmãos Sartori, além dos jornalistas Tércio David Braga e Adalberto Piotto. Girotto nunca havia trabalhado diretamente com a área da saúde e não se recorda presenciar um cenário tão intenso quanto o da pandemia da COVID-19 e todo o terror consequente do "fechamento de fronteiras, médicos vestidos como astronautas e um forte cenário de terror global".

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"O nosso mindset, inclusive diferente de muitas culturas, nunca esteve formatado para enfrentar algo desta natureza: é um processo de adaptação de todos. Acredito que essas adversidades nos impõem grandes desafios. No fundo, abre espaços para autorreflexões: o que podemos melhorar, como avançar. Ninguém estava preparado para o que estamos vivendo agora", disse Girotto ao Canaltech. O jornalista acredita que é preciso incentivar e respeitar os profissionais de saúde e aqueles que trabalham em serviços emergenciais e campos de pesquisa.

A pandemia e suas consequências podem desestabilizar aqueles que lidam diariamente com a informação sobre o assunto, que surgem dia após dia, em sua maioria em forma de más notícias. Esse fator acaba se tornando um combustível contra a desinformação e pela conscientização da população, como foi o que aconteceu com Girotto. O jornalista falou à reportagem como a pandemia impactou sua vida e a ideia de desenvolver o documentário.

Girotto é pai de uma criança de quatro anos e toda essa situação o fez repensar inúmeras coisas, incluindo como poderia contribuir com o seu campo de conhecimento e criar algo que fosse útil à população, relatando ainda que viver em um apartamento durante uma pandemia pode ser enlouquecedor.

"Tentarmos criar um mundo fictício ao estilo do filme ‘Vida É Bela’, sabe? Explico: aquele lindo filme que mostra que durante a Segunda Guerra Mundial, na Itália, o judeu Guido e seu filho Giosué são levados para um campo de concentração nazista - e afastado da mulher, ele tem de usar sua imaginação para fazer o menino acreditar que estão participando de uma grande brincadeira, com o intuito de protegê-lo. Acho que isso, aliado até ao próprio medo natural, me impulsionou a inovar".
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Além da referência, o jornalista também revelou que A tirania da minúscula coroa: Covid19 foi criada pensando em deixar algo para a sua filha assistir, caso algo acontecesse com ele. Mas quando exatamente ele teve esse estralo, de onde essa ideia surgiu?

Desde o começo da pandemia Girotto entendeu o quão perigoso ficaria o cenário por trabalhar com várias empresas que seguem protocolos internacionais. "Saímos, até por recomendações e protocolos dos nossos postos, uma semana antes de ser decretada oficialmente a quarentena. Naquele momento, surgiu a ideia de construir algo – mas ainda não sabia o que era", explica.

A execução do projeto

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Uma das inspirações de Girotto foi jornalismo de estilo único de narração de reportagens de Goulart de Andrade, que vivia no mesmo prédio que ele. Andrade trabalhava bastante com o plano-sequência, uma tática que não apresenta ao espectador cortes aparentes, e inovou a forma de fazer matérias na televisão.

Antes de a ideia surgir, Girotto foi convidado para colaborar com uma rádio do interior de São Paulo para fazer um quadro com entrevistas gravadas no celular, "salientando a máxima: a informação correta, ainda mais em tempos de pandemia, salva vidas". A etapa seguinte do projeto, então, envolveu procurar Ricardo e Juliano Sartori. "Logo na sequência, convidei de mentor o jornalista Adalberto Piotto, que foi âncora da CBN e criou a série ‘Orgulho de ser brasileiro’, para fazer a mentoria: ele topou, para nossa felicidade. Depois entrou a estrategista de mídias sociais, Naná Santiago, e o jornalista Tércio Braga, que foi do Estadão e Metro – e trabalhava com vídeos. Unimos um time de voluntários no projeto".

Para o jornalista, o maior desafio na hora de executar o projeto foi chegar aos entrevistados: "Para que o conteúdo tenha relevância editorial, os entrevistados são nossa matéria-prima. Convencer alguém no meio de uma pandemia, com todas as dificuldades, a produzir um conteúdo, é um grande desafio". Felizmente, tudo deu certo e os entrevistados surpreenderam a equipe positivamente.

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A equipe conseguiu entrevistar personagens que são muito ocupados e importantes e até mesmo algumas pessoas que não sabiam ao certo como fazer a sua própria gravação. Mas, com uma boa explicação e força de vontade, todos conseguiram gravar suas partes, compactar o vídeo, enviar o material pela nuvem, entre outras coisas. "É surpreendente para todos essa curva de aprendizado – de superação de barreiras –, e isso é muito bacana. Várias pessoas que admiro nas artes, na economia e no jornalismo doaram parte do seu tempo para nós. Emociona isso", completa.

A produção de A tirania da minúscula coroa: Covid19 foi algo novo tanto para Girotto quanto para os irmãos Sartori. "Uma série documental é diferente de um filme, cujas imagens conversam o tempo todo com o telespectador. Em um documentário – o que conversa são os diálogos, as expressões faciais de cada participante. Já temos emissoras usando, há um certo tempo, vídeos enviados pelo celular, entrevistas pela internet – é um caminho sem volta.", diz.

Para Juliano Sartori, o padrão da produção da série documental está alinhado com a tendência já conhecida em séries que podem ser encontradas da Netflix e que têm como principal característica dividir os conteúdos em episódios seguindo uma ordem cronológica. "É uma forma de devolver para sociedade, por meio de um trabalho voluntário, o que gostamos de fazer: gerar conteúdo que provoque transformação. Neste momento, democratizar conteúdo de qualidade e que ajude a mitigar riscos deste inimigo invisível, é essencial", relata o especialista em vídeos.

O novo normal na produção de conteúdo?

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O Canaltech questionou Girotto sobre a possibilidade de esse formato de fazer documentários, entre outros similares, se tornar uma tendência e resistir mesmo após a pandemia. Para o jornalista, cada vez mais novos canais com assuntos relevantes vêm aparecendo no formato e que o que é preciso a partir de agora é filtrar o que será consumido.

"Sou defensor da imprensa, dos canais sérios de comunicação – lá há jornalistas que estudaram, se especializaram para cuidar de temas difíceis e levam informação de qualidade aos seus leitores, ouvintes e telespectadores. Temos esse movimento também, agora cada vez mais, em meios independentes. O problema é que, nossa curva de aprendizado ainda não eliminou uma indústria nociva que se aproveitou dessa lacuna".

A tirania da minúscula coroa: Covid 19 está disponível completa no YouTube e, até o fechamento desta matéria, já são sete episódios publicados, falando sobre a doença em si e a pandemia, com depoimentos de especialistas na área da saúde. Os capítulos também abordam questões econômicas, jornalísticas, do mundo das artes e do esporte, entre outros assuntos relacionados.

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Os episódios são bem intimistas, com a apresentação das informações através de depoimentos dos entrevistados. Com todo o material gravado com a câmera do celular, as imagens não seguem o mesmo padrão de formato, aparecendo algumas vezes na vertical e outras na horizontal, de acordo com a viabilidade e criatividade de cada entrevistado. Essa característica, no entanto, não torna o documentário menos interessante, primeiramente por serem informações de extrema relevância e também por serem formatos de conteúdos já vistos em redes sociais, como IGTV, Stories do Instagram ou Facebook, mas reunidas em um mesmo lugar.

O próximo episódio da série documental será lançado no YouTube até o dia 20 de julho e vai contar com a participação do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, que enviou um vídeo à produção falando sobre o impacto da pandemia no Judiciário.