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De Carona Pelo Ar: jornalista monta seus drones para cruzar o Brasil

Por| Editado por Claudio Yuge | 01 de Janeiro de 2022 às 10h00

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Divulgação/Lucas Amorelli
Divulgação/Lucas Amorelli

O nomadismo digital é uma corrente de profissionais autônomos que usa a tecnologia a seu favor para trabalhar de qualquer canto do mundo, conseguindo desbravá-lo enquanto produz. O fotojornalista paulista Lucas Amorelli entrou nessa tendência de maneira um tanto ousada. Sem conhecimento técnico prévio, aprendeu a montar seus próprios drones e agora os usa no programa de TV e canal de YouTube De Carona Pelo Ar, voltado ao turismo ecológico.

Amorelli iniciou a carreira em 2003, em veículos como o jornal A Crítica, do Amazonas, e nos jornais do Grupo RBS, no Rio Grande do Sul, além de freelance para BBC, National Geographic, The Guardian e outros. Autointitulado mochileiro desde sempre, foi em uma dessas viagens a lugares longínquos que ele teve uma epifania.

Estava escalando a montanha Huayna Potosi, na Bolívia, em 2019, e o guia me perguntou: 'Por que você não cria um projeto seu, onde possa compartilhar com as pessoas essas viagens que você faz, sem ser fotografia? Algo que passe a sensação de estar com você nos lugares.'", relembra Amorelli, em entrevista ao Canaltech.

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Foi um estalo, parece que eu precisava subir uma montanha pra enxergar algo que estava na minha cara o tempo todo. Mas só criar algo e para viajar e fotografar não fazia sentido. Aí lembrei de uns vídeos que eu tinha visto de uns 'gringos' pilotando drones de corrida, achava incrível. E lá no hostel [albergue] onde eu estava hospedado comecei a criar o programa. Isso sem mesmo ter um drone ou já ter pilotado.

Quando voltou pro Brasil, o fotógrafo começou a parte mais arriscada: comprar peças da China pra aprender a montar drones sozinho, gastando do próprio bolso — R$ 5.000 no início — e aprendendo via vídeos do YouTube. "Lembro que o primeiro demorei uma semana pra conseguir fazer voar. Eu já estava quase desistindo. O investimento tinha sido de R$ 800 só no drone. Com certeza essa foi a pior parte, sofri muito, mas hoje compensa pra conseguir me virar sozinho nas viagens", comenta. O investimento total chegou a superar R$ 20 mil.

Amorelli optou primeiro pelas peças mais baratas, transformando seu apartamento, nas palavras dele, em "um depósito de motores, placas, hélices e parafusos". Conforme aprendia, melhorou a qualidade dos drones e conheceu alguns fornecedores no Brasil. A presença deles facilitam nas compras mais urgentes, como baterias, o gasto mais frequente.

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O teste maior para os drones foi uma viagem pela serra gaúcha, que rendeu imagens tão boas que se tornaram a primeira temporada do De Carona Pelo Ar. Além do canal no YouTube, vendeu a ideia para o canal por assinatura Travel Box Brazil. Foi lá a estreia na TV paga, neste ano.

O produtor faz seu trajeto apenas de ônibus, viajando com duas câmeras GoPro (modelos 9 e 10), dois drones, ferro de solda, tablet, power bank (carregador portátil), muitos cabos USB e peças de reserva. Para a segunda temporada, saiu do Rio Grande do Sul rumo ao Rio Grande do Norte, escolhendo regiões em cada estado cortado pela estrada BR-101. A Marcopolo, empresa de ônibus interestaduais, é a patrocinadora.

Não é uma vida fácil

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Você pode achar que Amorelli leva a vida que todo mundo pediu a Deus, mas não é bem assim. A começar pelas dificuldades de manter o equipamento consigo são e salvo. E que equipamento: são 25 kg de drones, câmeras e peças. "Eu comprei aquelas mochilas para drone que são duras. Nela consigo levar todos os equipamentos e vai sempre comigo em cima no ônibus. Essa mochila não fica longe de mim nunca. Já a mala de roupas mando no bagageiro", conta.

Assim que termina um trabalho, o fotógrafo desmonta tudo, limpa com álcool isopropílico e depois um spray para limpar contatos elétricos. Ele ainda deixa as baterias em modo storage, que aumenta a vida útil delas. Isso fora as intempéries locais. "Como no Brasil está época chove bastante, dificulta muito, mas tenho conseguido voar sem problema", detalha.

A experiência de conhecer brasileiros de todos os tipos pelo caminho já rendeu algumas histórias engraçadas, como a vez em que quase perdeu seu drone por conta de um pai irritado. "Eu estava voando na Praia da Guarita [no RS] e de repente vejo um menino cavalgando. De repente veio um tiozinho gritando e me xingando: 'Para com isso aí que vai derrubar o meu sobrinho do cavalo!', disse. Levei um susto que quase derrubei o drone numa das falésias. Mas depois expliquei pra ele e ficou tudo de boa", relembra.

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No entanto, o ex-jornalista se diz satisfeito com a escolha que fez. "A ideia era criar um programa para as pessoas viajarem comigo, mas que tivessem informações e as inspirassem a conhecer os lugares, assim como eu faço. Foi a junção da minha vida de mochileiro com fotojornalista, usando uma tecnologia nova", define. Ele já tem planos para uma terceira temporada: assim que a pandemia de covid reduzir um pouco mais, pretende sobrevoar outros países com seus drones, como Bolívia, México e Patâgonia, entre Argentina e Chile.