Obsolescência programada: porque alguns eletros estragam mais rápido que outros
Por Nathan Vieira • Editado por Léo Müller | •

A ideia de que produtos são “projetados para durar menos” acompanha o consumidor há décadas. A obsolescência programada é a suspeita de que alguns produtos são feitos pelas marcas justamente para estragar mais rápido, seja por escolha de materiais, componentes mais baratos ou até pela pressa em lançar novidades.
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Mas será que a obsolescência programada realmente existe? Segundo o engenheiro eletricista e professor da PUCPR, Voldi Costa Zambenedetti, antes de falar em programação para falhas, é essencial entender que todo equipamento tem uma vida útil natural.
Com isso, cada componente possui um número esperado de ciclos de funcionamento. Essa soma de ciclos define o que, tecnicamente, chama-se MTBF (Mean Time Between Failure), ou tempo médio entre falhas.
Em outras palavras, “quanto maior a vida útil de cada componente, maior a vida útil do equipamento final”, afirma Zambenedetti. No entanto, componentes mais duráveis também custam mais, o que afeta diretamente o preço final do produto.
Desgaste natural x decisão de projeto
De acordo com o professor, não é possível afirmar categoricamente que produtos são feitos para durar pouco, embora seja tecnicamente possível projetar um equipamento com mais ou menos tempo de vida útil. Isso não significa uma armadilha, mas uma escolha de qualidade que influencia tanto o custo quanto a durabilidade.
Zambenedetti lembra que todo projeto envolve escolher um nível de qualidade.
"Em produtos feitos para grandes compradores, como indústrias e montadoras, é comum exigir especificações de durabilidade. Já em produtos de consumo, essa exigência não existe", diz o professor. "Cada fabricante decide o padrão de qualidade que deseja atingir".
Apesar disso, há casos históricos de intencionalidade, como o famoso cartel Phoebus, que reduziu deliberadamente a vida útil das lâmpadas no início do século XX. Esse episódio reforça a desconfiança do público até hoje.
Por que alguns eletros estragam mais rápido?
Segundo o professor, a percepção de que celulares e eletrônicos duram pouco é real. Esses aparelhos dependem de blocos eletrônicos complexos, difíceis de reparar individualmente. Além disso, sofrem com a obsolescência tecnológica, que torna modelos de um ou dois anos “velhos” rapidamente.
Já eletrodomésticos tradicionais, como geladeiras, ventiladores e liquidificadores, tendem a durar mais. Eles têm menos eletrônica sensível, utilizam motores robustos e permitem manutenção mais simples.
Zambenedetti destaca ainda que muitos eletrônicos se tornaram commodities, produzidos em massa por diversas empresas. Isso barateia o produto, mas reduz a qualidade dos componentes e, consequentemente, a vida útil.
De acordo com Gabriel Barbieri, diretor de marketing da Whirlpool (proprietária das marcas Brastemp e Consul), não existe um prazo único que determine a vida útil de um eletrodoméstico, porque isso varia conforme o uso, a manutenção e as condições de instalação: "Fatores como limpeza adequada, manutenção preventiva, ventilação correta, oscilações de energia e intensidade de uso influenciam diretamente essa longevidade."
Quando esses cuidados são seguidos, segundo o diretor, a tendência é que geladeiras, fogões e lavadoras mantenham seu desempenho de forma consistente ao longo do tempo.
Muita gente pensa que a manutenção preventiva é um custo extra, mas na verdade ela não é, ela ajuda a evitar que pequenos problemas evoluam para reparos maiores e mais caros e também ajuda na durabilidade do produto. Cuidar regularmente do eletrodoméstico garante que peças e componentes funcionem como deveriam, reduzindo desgaste prematuro e prolongando a vida útil do produto.
Barbieri complementa que, antes de chegar ao consumidor, cada categoria de produto passa por uma bateria de testes rigorosos em nossos centros de pesquisa.
Esses testes simulam ciclos intensos de uso e condições variadas de funcionamento, justamente para garantir robustez, estabilidade e segurança ao longo do tempo. Embora não publiquemos uma estimativa formal de anos de vida útil, porque isso depende de fatores externos ao fabricante, nossos protocolos seguem padrões de testes acelerados e de validação de durabilidade.
Como saber se um produto foi feito para durar pouco?
Para o consumidor comum, é difícil identificar intencionalidade. “A rigor, apenas um ensaio sistemático poderia fornecer este dado”, explica o professor. Na prática, valem algumas pistas:
- Avaliações de consumidores;
- Histórico da marca;
- Tempo de garantia oferecido além do exigido por lei;
- Políticas de reparabilidade.
O engenheiro ainda destaca avanços como o Índice de Reparabilidade, já adotado na União Europeia, e leis que obrigam fabricantes a oferecer peças de reposição por um período mínimo.
Quando produtos duram menos, o resultado envolve mais lixo e mais gastos. O professor alerta para o aumento do descarte de resíduos e a pressão sobre sistemas de reciclagem. A solução passa por logística reversa, em que fabricantes recolhem e reaproveitam seus produtos, e pela conscientização dos consumidores sobre o descarte correto.
Então a discussão vai além de simplesmente apontar fabricantes ou produtos “que quebram rápido”. A obsolescência existe, mas nem sempre de forma intencional ou maliciosa. Todo produto tem uma vida útil natural, e muitas vezes a escolha de materiais, componentes e processos de fabricação determina se ele vai durar mais ou menos.
Como explica o professor Voldi Costa Zambenedetti, “apenas um ensaio sistemático poderia comprovar se um produto foi projetado para durar menos”. Ainda assim, exemplos históricos mostram que, em alguns casos, essa prática já foi deliberada (ou seja: obsolescência programada).
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