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O site 123 Importados é confiável? Diretor da empresa fala sobre a operação

Por| 14 de Maio de 2020 às 15h45

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Canaltech
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Desde o começo do ano, o site 123 Importados tem aparecido cada vez mais em anúncios na televisão e publieditoriais em jornais de grande circulação. O surgimento repentino e as ofertas de produtos pela metade do preço despertou o sinal de alerta em muitos especialistas, que viram indícios de fraude no negócio. O Canaltech investigou a fundo a questão para tentar descobrir a verdade sobre a operação, que não se trata de uma loja virtual, mas sim de uma intermediadora.

Há algumas semanas, fomos procurados por uma agência que dizia representar o 123 Importados para fazer publicidade do site. Antes de fechar qualquer acordo, realizamos uma pesquisa que nos levou a descartar a proposta. Nos parágrafos abaixo, vamos mostrar o resultado de uma investigação que durou semanas sobre a operação, que pertence à empresa chamada Online Intermediações Ltda.

Antes de comprar no 123 Importados ou de recomendar o site para algum conhecido, recomendamos que você leia o texto na íntegra e tire as suas próprias conclusões.

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Produtos com preço muito abaixo do valor praticado pelo mercado

Ao acessar o site, você vê o que parece uma loja legítima. Um e-commerce de tamanho médio, com muitas ofertas, informações de contato, CNPJ e tudo o que se espera de uma loja virtual presente no rodapé logo na página inicial. Para olhos destreinados, tudo parece normal.

Alguns pontos que poderiam gerar dúvida no consumidor: os preços de alguns produtos são muito mais baixos do que em qualquer outro lugar, opção de pagamento apenas no boleto e ausência de qualquer certificação do site. O Canaltech conversou com Mauro Brito, diretor da Online Intermediações, empresa por trás do site 123 Importados, para esclarecer esses pontos, e conseguimos entender algumas questões sobre o assunto.

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Ele admitiu, por exemplo, que no começo a empresa trazia produtos importados dos EUA, mas com o aumento do dólar, essa operação se tornou inviável e, assim, a companhia teria passado a depender de fornecedores nacionais. Ele explicou também a confusão sobre a suposta parceria com fabricantes.

“O atendente cometeu um erro", afirmou ele, sobre um dos vídeos feitos pelo youtuber Rogério Betin, em que um funcionário do SAC disse que havia parceria entre a 123 Importados e fabricantes como Samsung e Sony. "A gente não tem parceria com ninguém, a gente compra de distribuidor oficial”, garantiu Brito. De fato, as duas empresas já se manifestaram dizendo que não possuem relações comerciais com a Online Intermediações nem com a 123 Importados.

O executivo defendeu que consegue comprar de fornecedores nacionais a um preço muito baixo, o qual não pode revelar, pois teria assinado um termo de confidencialidade. E manteve a argumentação publicada no site 123 Importados, também enviada pelo SAC ao Canaltech, explicando como conseguem tais valores.

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A equipe do Serviço de Atendimento ao Consumidor da 123 Importados alega que “possui um alto volume de produtos vendidos pela loja virtual e que são negociados em grande quantidade com Distribuidores/Fornecedores Nacionais, onde descontos, preços e condições comerciais especiais são aplicadas na Compra e Encomenda dos produtos que realizamos e, por isso, garantimos os melhores preços de comercialização”.

No entanto, o especialista em e-commerce e professor de marketing digital no Insper, Renato Mendes, mostrou que há inconsistências nesta argumentação. “Há uma série de indícios nessa operação que sugerem que a conta não fecha”, afirmou. “Esse site, por acaso, compra em volumes superiores aos maiores varejistas do país, como Magazine Luiza, Via Varejo ou Extra? Muito provavelmente não”, observou.

Mendes ainda disse que, no Brasil, todos os comércios negociam com os mesmos fornecedores. “É bem improvável que esse e-commerce tenha os melhores deals por volume. Então não é possível que ele venda a preços tão baixos na ponta e consiga fazer a conta fechar na última linha da planilha”, argumentou o especialista.

Plano de negócios agressivo

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A explicação, talvez, esteja no "plano de negócios agressivo" que Brito nos contou. Ele quer tornar a operação conhecida e, desta forma, oferece preços baixos ao consumidor, arcando com parte dos custos. Isso, somado ao grande volume, permitiria que ele vendesse um televisor pela metade do preço.

“Quando você compra um produto, a nota nunca mostra o preço de frete, logística, lucro, nada. Eu tenho um plano de negócios ousado, compro esse produto com um preço mais em conta. E quando emito a nota, tenho que agregar uma série de valores a esse produto. Eu vendo pro meu comprador pelo preço real e agrego as outras informações. Não é que a conta não fecha: estou bancando parte disso para fazer o plano de negócio ousado”, explicou o diretor da Online Intermediações.

Mendes arriscou um palpite parecido, mas fez algumas ressalvas. “O setor de eletroeletrônicos tem margem de lucros apertadíssima, já que há muita concorrência, é quase uma venda de commodities. Então não há espaço para muitas estripulias. A única estratégia possível aqui é que o site esteja perdendo dinheiro para ganhar base e depois seus donos pensam em como rentabilizar o negócio. Mas é um plano arriscadíssimo e pouco recomendado”, analisou o especialista.

Brito explicou que, no momento da compra, o consumidor tem que aceitar um termo que explica a situação do pedido, incluindo o tempo de entrega, que é de 45 dias e pode dobrar para até 90 dias. Na visão de Brito, muita gente não lê o termo e, por isso, reclama de demora na entrega, o que teria levado a um aumento no número de registros contra a empresa no site Reclame Aqui.

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Outras questões que acendem alertas

O sinal de alerta não se dá apenas pelos preços agressivos. A empresa surgiu há pouco tempo no mercado, com capital muito baixo e rapidamente já tinha espaço pago na televisão e em jornais de grande circulação. A Online Intermediações parece ter uma estrutura considerável por trás, e os custos não devem ser poucos para manter equipe de atendimento, além de pagar uma firma de advocacia para cuidar de questões jurídicas.

Sobre os endereços físicos, Brito explicou que o escritório na Av. Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo, não é mais utilizado há algum tempo. A sede agora seria na Av. Paulista, mas está vazia por conta da quarentena. “Temos muitos colaboradores no grupo de risco”, explicou. Ele disse que quando as coisas voltarem ao normal, a nossa reportagem poderia conhecer a sede.

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Recentemente, algumas informações que constam no CNPJ da companhia foram alteradas. O número de telefone celular inexistente informado foi trocado por dois telefones de linha fixa, que foram o ponto de partida utilizado pela reportagem para conseguir, finalmente, conversar com um responsável pela empresa, em vez de ficar em respostas genéricas do SAC.

Porém, ainda há questões não resolvidas. O Procon-SP notificou a 123 Importados em 27 de abril e deu o prazo de 48 horas para a loja esclarecer “sobre problemas com não entrega de produtos comercializados em sua plataforma, assim como as providências adotadas para saná-los”, entre outras questões. Em contato com o Canaltech, a fundação afirmou não ter recebido resposta da loja.

“A plataforma alegou não ter recebido a notificação, porém o Procon-SP não observou devolução da mensagem com indicação de eventual erro de envio”, diz representante do Procon, que encaminhou “para a diretoria de fiscalização para apuração de eventuais irregularidades e a possibilidade de imposição das sanções previstas no Código de Proteção e Defesa do Consumidor”.

Problemas com as notas fiscais

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Há alguns dias, consumidores passaram a publicar notas fiscais enviadas pela 123 Importados no site do Reclame Aqui para mostrar que o produto está a caminho, mas isso gerou dúvidas entre os consumidores e veículos especializados, que notaram um detalhe: a nota é emitida pela B2W em nome da Online Intermediações, e o valor mostrado é bem superior ao que foi pago à intermediadora: uma televisão de R$ 799 no site saiu quase o dobro no documento fiscal, como mostra a imagem abaixo:

Consultado, o advogado e colunista do Canaltech, Douglas Ribas Jr., explicou que o maior problema não é a questão do valor diferente especificado na nota fiscal emitida para a Online Intermediações como destinatária do produto. O mais preocupante é que a nota fiscal demonstra transação comercial entre duas empresas e não faz qualquer menção ao consumidor, isto é, simplesmente ignora aquele que de fato adquiriu o produto e pagou à vista por ele mediante a quitação de um boleto. Estranhamente, o documento fiscal acima reproduzido retrata a compra de produto pela Online Intermediações, com pagamento a prazo, muito embora tal empresa tenha recebido junto ao consumidor o valor à vista.

De todo modo, explicou Ribas Jr., "não há crime ao se vender um produto pelo preço promocional de R$ 799,00 e enviar a NF no valor de R$ 1.500,00, correspondente ao preço regular. O contrário, sim, seria crime, conhecido no mercado como 'meia nota', tecnicamente, uma modalidade de sonegação fiscal".

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"A legislação prevê que o desconto do valor do preço seja destacado no corpo da NF", apontou o advogado. Nas notas emitidas pela B2W contra a Online Intermediações que obtivemos acesso, não havia apontamento de desconto. Questionada sobre o caso, a intermediadora alegou possível falha na emissão da nota em questão. Segundo Ribas Jr., “mesmo que o desconto do valor do preço venha destacado no corpo da NF, os impostos incidem sobre o valor final da NF". No caso, a empresa recolheria impostos sobre o valor informado na nota, o que resultaria em prejuízo para ela.

Quanto à emissão da nota em nome da Online Intermediações, entramos em uma questão importante para realmente começar a entender o caso.

A 123 Importados não é uma loja

Acontece que a Online Intermediações Ltda, empresa por trás do site 123 Importados, não pode atuar no comércio. O CNPJ da empresa está registrado para prestar serviço de intermediação de serviços e promoção de vendas. Em outras palavras, a companhia não pode fazer venda direta ao consumidor, mas sim intermediar compra e venda.

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"Atuando a 123 Importados como intermediadora, duas notas fiscais devem ser emitidas em nome do consumidor: a nota fiscal de serviços (por parte da 123) e a nota fiscal de venda dos produtos (por parte da efetiva vendedora)", argumentou Ribas Jr. Ou seja, além da nota de venda do produto por parte da fornecedora, que no caso da situação acima é a B2W, o consumidor também deveria receber outro documento fiscal, emitido pela Online Intermediações, especificando a prestação do serviço.

Mas há uma questão nesse caso: a nota deveria estar em nome do consumidor final, caso contrário, pode haver problema com relação à garantia, segundo explicou o advogado. "A ausência da nota fiscal de venda dos produtos em nome do consumidor pode lhe acarretar problemas quanto ao direito à garantia do produto, impedir seu direito à restituição ou à troca, no caso de vícios, falhas ou defeitos. Ou até mesmo impedir o desfazimento do negócio no caso de arrependimento no prazo de sete dias contados do recebimento do produto, como autoriza o art. 49 do Código de Defesa do Consumidor", observou.

Neste sentido, Brito explicou que está buscando, junto aos seus fornecedores, criar um sistema para que a nota fiscal saia com o nome do consumidor, em vez da Online Intermediações, o que indica ser um problema técnico. Além disso, o diretor se mostrou desanimado com a falta de atenção dos consumidores na hora de fazer o pedido no site 123 Importados.

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“Quando você faz uma compra, aceita um termo que explica tudo isso”, insistiu Brito. De fato, os termos e serviços do site deixam claro que se trata de um serviço de intermediação, além de deixar ressaltar, também, que o tempo para a chegada do produto pode variar de 30 até 90 dias, dependendo de cada caso e do local em que será feita a entrega.

Também entramos em contato com a B2W para saber mais sobre essa suposta relação comercial com a 123 Importados. A assessoria enviou uma nota em que nega relação comercial com a 123 Importados e que vai analisar o caso para "tomar providências cabíveis". Segue a nota na íntegra:

"A B2W Digital não tem relação comercial e esclarece que não armazena qualquer tipo de mercadoria para a empresa 123 Importados. Atuamos no e-commerce vendendo produtos para pessoa física e pessoa jurídica. A companhia vai analisar as denúncias recebidas e tomará as providências cabíveis" — nota da B2W sobre a relação comercial alegada pela 123 Importados.

Recomendamos evitar a 123 Importados

Há várias questões que nos impedem de chegar a uma conclusão se podemos confiar no site 123 Importados, como a ausência de certificados da página, alto número de reclamações e outros pormenores que precisam de tempo para serem esclarecidos. Por ora, a reportagem do Canaltech não recomenda a plataforma.

Comecemos com a ausência de certificados no site. O domínio possui certificações emitidas por incapsula.com e GlobalSign, o que significa que a conexão entre ele e seu dispositivo é segura. Mas falta uma verificação E-bit para saber se a compra é confiável. Pelo volume de contestações no Reclame Aqui, que saltou de 8 páginas no final de março para mais de 50 no começo de maio, é para ligar o sinal de alerta.

Podemos imaginar que o número alto de reclamações esteja ligado ao prazo muito longo para que os produtos sejam entregues somado ao fato de o consumidor não prestar a devida atenção ao fechar a compra. São mais de 1.300 registros feitos no Reclame Aqui, quase todos respondidos. Porém, poucos estão registrados como resolvido. A situação da loja está em análise na plataforma, que não recomenda fazer negócio com a 123 Importados.

Além disso, uma pesquisa um pouco mais demorada no site apontou também um número bem grande de clientes que pedem reembolso e dizem não ter sido efetuado no prazo dado pela própria empresa.

Além de todas as questões já apontadas, há outros detalhes que não nos permitem chegar a uma conclusão de que podemos confiar no 123 Importados, como pagamento exclusivamente pelo boleto bancário. Sobre isso, a empresa explicou que “as taxas são bem menores em comparação com as de cartão de crédito”. E ainda garantiu que está “em negociação para um melhor atendimento e em breve aceitaremos cartão de crédito”. Até aqui, as justificativas são aceitáveis.

As únicas publicações positivas sobre a empresa foram pagas para saírem em jornais como publieditoriais ou são justificativas fracas no site Reclame Aqui. Também não ficou claro se a empresa emite a nota fiscal de prestação do serviço ao consumidor, além de uma possível dificuldade com o documento emitido pelo fornecedor em nome da Online Intermediações, que poderia acarretar na perda de garantia e até mesmo do direito de devolver os produtos dentro dos sete dias do direito de arrependimento.

Pode até ser uma operação inábil para dar conta da proporção de pedidos que atingiu. De qualquer forma, o Canaltech não recomenda que você compre no site 123 Importados porque o número de clientes insatisfeitos parece estar acima da média para este tipo de serviço.

Comprei e me arrependi: o que fazer?

O Código de Defesa do Consumidor garante o direito de arrependimento de qualquer compra online até sete dias da data de recebimento do produto. Se você fez uma compra na 123 Importados e se arrependeu pela demora para receber o produto, tem direito a pedir o reembolso. Isso está nos termos da própria loja:

11.0 Direito de Arrependimento: ao CLIENTE será facultado o exercício do direito de arrependimento da compra, com a finalidade de devolução do Produto, hipótese na qual deverão ser observadas as seguintes condições: o prazo de desistência da compra do produto é de até 7 (sete) dias corridos, a contar da data do recebimento; em caso de devolução, o produto deverá ser devolvido a INTERMEDIADORA na embalagem original e com manual e de todos os seus acessórios.

Ou seja, se você fez um pedido no site e ainda não recebeu, pode cancelar e pedir o reembolso. Mas atenção: há diversas reclamações sobre demora no estorno e até sobre prazos prometidos para o depósito que não foram cumpridos. Pode ser uma dor de cabeça conseguir reaver o dinheiro.