Projeto do euro digital ganha vida após autorização do Banco Central Europeu
Por Roseli Andrion • Editado por Claudio Yuge |
A versão digital do euro está cada vez mais próxima de ficar pronta. Na quarta-feira (14), o Banco Central Europeu (BCE) autorizou o início do projeto. As expectativas são de que a moeda seja lançada por volta de 2025.
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A expansão do uso de pagamentos virtuais durante a pandemia de COVID-19 fez o BCE ficar atento. "Uma Europa soberana precisa de soluções de pagamento inovadoras e competitivas", diz Olaf Scholz, ministro das Finanças da Alemanha. A ideia do euro digital é evitar a expansão das moedas virtuais privadas ou estrangeiras no bloco.
E a Europa não é a única a trabalhar na criação de uma moeda digital. China e EUA, por exemplo, têm projetos semelhantes. Na China, os testes começaram em março e o e-yuan é usado pelo celular. Segundo especialistas, o objetivo é fazer da moeda virtual chinesa uma referência, assim como o dólar já é no mundo físico.
Como vai funcionar?
Com o euro digital, qualquer um poderá ter uma conta no BCE (atualmente, seus clientes são apenas os bancos comerciais) e o dinheiro ficará protegido de riscos de perda. Como no momento o projeto europeu de garantia de depósitos está paralisado, esse já é um bom argumento para a criação da moeda digital.
A instituição promete uso rápido, fácil e seguro para pagamentos em estabelecimentos físicos e virtuais. O objetivo é "persuadir os consumidores a mudarem para um novo meio de pagamento", segundo Heike Mai, economista do Deutsche Bank.
Guido Zimmermann, analista do LBBW, diz que os hábitos de pagamento não mudarão com o lançamento do euro digital. “Em alguns anos, entretanto, quando o número e os formatos de moedas digitais aumentarem, o sistema pode evoluir”, aponta.
A carteira de euros digitais ficará disponível 24 horas por dia, sete dias por semana. Espera-se, ainda, que os custos bancários sejam menores. Assim, transferências e pagamentos entre europeus devem se tornar mais ágeis e baratas.
Há uma preocupação em relação aos clientes que queiram evitar as tarifas das contas comuns. Por isso, o BCE considera tributar os depósitos em moeda acima de um certo valor, segundo Fabio Panetta, do conselho de administração do BCE. Além disso, ele conta que a entidade não pretende aumentar o fosso digital existente nas sociedades. "Vamos continuar emitindo dinheiro", garante.
Diferentemente das criptomoedas comuns, o euro digital será um meio de pagamento oficial definido pelo Estado. O BCE quer dar estabilidade a esse mercado. "Um euro hoje deve valer um euro amanhã, em espécie ou digital", diz o BCE.
Moedas virtuais como a bitcoin, por exemplo, são emitidas por organizações privadas ou controladas por participantes de uma rede de computadores. E mais: sua emissão é regulada por um algoritmo e não por um comitê de política monetária.
Privacidade
Com as preocupações dos europeus quanto à proteção da privacidade, o BCE afirma os dados devem ficar mais protegidos com o euro digital. “Não somos como empresas privadas e não temos interesse comercial em armazenar, gerir ou monetizar os dados dos usuários”, afirma Panetta.
Ele explica que a principal intenção do órgão é combater a disseminação de moedas digitais criadas por outras instituições. “Se as pessoas querem pagar digitalmente e nós não oferecemos um meio de pagamento digital, outros farão isso”, alerta. “E existe um perigo potencial que pode vir do fato de terceiros emitirem um meio de pagamento digital.”
Fonte: Correio Braziliense