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PS4 e Xbox One | Por que os preços disparam em meio à pandemia?

Por| 12 de Junho de 2020 às 19h40

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Pixabay
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O setor de games foi um dos poucos mercados que cresceu, e muito, com o início da pandemia da COVID-19. Com as pessoas em isolamento, a demanda tanto por jogos, quanto consoles também aumentou. Este é um dos fatores que demonstram um aumento significativo dos preços de videogames e jogos no Brasil.

“Nos fornecedores mesmo, subiu uns R$ 300 na compra para o lojista”, conta Gabriel Bollico, fundador e proprietário da ShopB, empresa que trabalha com venda, revenda e outros serviços relacionados a games. Bollico vende versões nacionais do console, comprados com fornecedores da Sony e Microsoft. Motivo pelo qual não há Nintendo Switchs novos, apenas usados, em sua plataforma (a Nintendo não tem atuação oficial no Brasil desde 2013).

O vendedor viu o preço de alguns aparelhos dispararem, em especial o do Switch (sobre o qual já falamos em reportagem aqui no Canaltech). Contudo, modelos do PlayStation 4 e Xbox One também tiveram alta.

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No site de comparação de preços Zoom, é possível ver a trajetória de crescimento tanto para o console da Sony, quanto para o da Microsoft. Um PlayStation 4 Slim de 1 TB (um dos modelos mais básicos) é vendido por uma média de preço de R$ 2.500. Em março, no início da pandemia, o mesmo aparelho era encontrado por cerca de R$ 1.500. Ou seja, o valor de compra subiu em 66%.

O Xbox One, contudo, ainda é encontrado a preço menor. Por exemplo, a versão Xbox One S com TB (também uma das mais básicas) é vendida por uma média de R$ 2.000 em lojas oficiais. Embora ainda seja possível encontrar a preços por volta de R$ 1.800, os anúncios indicam que há falta de estoque, mesmo em grandes varejistas. Em março, preço era de R$ 1.200.

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Por que tão caro? 

O Canaltech conversou com lojistas que trabalham tanto com consoles nacionais, quanto importados. Os aparelhos no Brasil seguem dois caminhos principais. O primeiro é por compra direta de fornecedores da Sony e Microsoft. Embora as empresas já não produzam mais seus consoles no Brasil, ainda existe uma distribuição oficial de ambas companhias no país.

“Um PlayStation 4 chega a um custo de R$ 1.950 para mim, mais ou menos”, conta Bollico. Isso porque existem taxas de importação, royalties e outros tributos que a Sony e Microsoft precisam pagar para vender o console nacionalmente.

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Outro caminho, diferente do operado por Bollico, é o da importação via Paraguai. Alguns lojistas viajam ao país vizinho em busca do console ao preço equiparado ao dólar, sem imposto de importação. Com isso, conseguiam vender o aparelho na faixa dos R$ 1.800. “É impossível competir. Eles vendem abaixo do meu preço de compra”, relata Bollico.

Contudo, isso é passado. Desde março, o Brasil e Paraguai estão com fronteiras fechadas. Isso significa que o fluxo de importação pelo país vizinho não existe mais. Assim, os aparelhos que estão sendo comercializados atualmente são os nacionais ou dos estoques de antes da pandemia.

Por si só, este cenário já faz o custo para o comprador subir. “O preço de revenda recomendado pela Sony é R$ 2.500. E agora tem muita gente comprando direto de fornecedores oficiais da Sony. Ou seja, o preço é agora do console nacional”, aponta Bollico.

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O Canaltech conversou com dois lojistas que trabalham com o sistema de compras pelo Paraguai. Os dois relataram o mesmo cenário que Bollico, confirmando a teoria. Sem conseguir trazer os aparelhos do país vizinho e para manter o negócio ativo, começaram a comprar a versão nacional. “A gente ainda compra de menos [unidades], de 10 em 10 assim, pois não sabe como que vai ser. Aí fica difícil negociar um bom preço”, disse um deles. Pelo caráter questionável do modelo, ambos pediram para não serem identificados.

Com o aumento da procura por fornecedores oficiais, as companhias enfrentam dificuldades em atender a demanda. “Um dos fornecedores me disse que a procurar é tanta que não dá tempo de produzir mais”, aponta Bollico. Ou seja, o canal oficial não está acostumado, nem preparado, para uma demanda tão alta.

Disparada do dólar

O mercado brasileiro de consoles não sentiu tanto a disparada do dólar, quanto em outros setores da tecnologia. A moeda entrou em 2020 sendo negociada por R$ 4 e chegou a alcançar R$ 5,89 em um recorde recente. O aumento de quase 50% em cinco meses não refletiu igualmente no preço dos aparelhos no Brasil.

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A escalada ainda maior dos preços de PS4 e Xbox One só não aconteceu exatamente porque lojistas optaram pelos modelos nacionais. Os consoles vendido pelos canais da Sony e Microsoft também têm variações relativas ao câmbio com a moeda dos Estados Unidos. Entretanto, a relação não é direta como acontece nas versões compradas no Paraguai, negociadas já em dólar.

Um dos lojistas que trabalha com a importação dos aparelhos disse que, com o dólar a quase R$ 6, seria impossível continuar vendendo o console do Paraguai, mesmo com a fronteira aberta.

Sony e Microsoft, contudo, fazem negociações para segurar uma disparada no preço de seus videogames, mesmo com dólar em rápida acensão. “As companhias subsidiam seus aparelhos para continuarem competitivos e dão incentivos aos fornecedores para poderem negociar melhor com a gente. Isso ajuda a comprar a um preço menor”, explica Bollico.

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A mão do mercado 

Adam Smith é o pai da teoria de autorregulação do mercado. De forma básica, ele aponta que a falta de oferta e a alta demanda podem aumentar o preço de um produto. Afinal, muita gente está procurando por poucas unidades.

Por outro lado, à medida que o preço sobe, a tendência é que menos gente compre e o preço volte a cair, regulando o setor. Contudo, o que acontece quando a demanda não para de crescer?

Este é o cenário atual do mercado de games no Brasil. Junto à ausência do Paraguai e dificuldades dos lojistas em comprar do canal oficial, está o fato de que videogame ganhou um status maior de importância mundialmente.

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Em seus relatórios fiscais, Sony, Microsoft e Nintendo relataram aumento em vendas. Por exemplo, a companhia do PlayStation somou 2,8 bilhões de ienes em games com o cenário de isolamento social. Segundo levantamento do SuperData, consultoria especializada no setor, houve um crescimento nos gastos com mídias digitais de games em março de 2020, chegando a US$ 10 bilhões movimentados. Bollico mesmo viu seus números crescerem. “O aumento geral da ShopB foi de 110% nas vendas, desde 22 de março”, contou ao Canaltech.

De acordo com o levantamento da Pesquisa Game Brasil 2020, lançada no início de junho, o mercado brasileiro vinha crescendo até mesmo antes da pandemia. “Público gamer cresceu 7,1% no Brasil em comparação a 2019”, informa o estudo. Pelo trabalho, 73,4% dos brasileiros jogam jogos eletrônicos. Os números, entretanto, são de fevereiro.

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Diante disso, é possível ver que há uma busca maior por consoles. “Teve um caso de uma mãe que me ligou aqui. ‘Eu preciso de um PlayStation 4, preciso muito. Eu não aguento mais meus filhos. Eles não param de pedir’”, lembra Bollico. “A procura cresceu demais, a gente está vendendo um console atrás do outro”.

O garimpo dos usados

Com o preço lá em cima, o mercado de revenda de consoles é outro que ganhou fôlego. Bollico também é dono da plataforma Meu Game Usado, em que pessoas podem oferecer e procurar seus aparelhos seminovos. De acordo com ele, a demanda por lá (e também os preços) está maior.

Isso também reflete em grandes plataformas de negociação de usados. “A OLX registrou um crescimento de 11% na oferta de videogames ao comparar a primeira semana de junho com a média das duas primeiras semanas de março (pré-COVID)”, informou a companhia ao Canaltech. Na plataforma, é possível encontrar um PlayStation 4 Slim com 1 TB usado por R$ 1.800 e um Xbox One S de 1 TB por R$ 1.200.

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A jornalista Tamirys Seno é uma das que resolveu comprar um console em meio à quarentena e optou por ir atrás de um usado. Ela queria um PlayStation 4 e chegou a encontrar um modelo novo em um pacote com três jogos por R$ 2.390. Contudo, procurando pelas redes sociais, achou uma oferta melhor. “Fechei um PS4 Slim com 4 jogos, 2 controles, cabos originais, fone original por R$ 1.700”, falou ao Canaltech.

Bollico conta também que houve aumento no número de pessoas interessadas em vender o seu console. “Acredito que, neste momento difícil da economia, as pessoas estejam olhando para o que tem de menos importante em casa para fazer uma graninha extra. E o console é uma destas coisas”, relata.

Outro motivador para colocar o videogame no mercado é o alto preço. “Se você colocar um Switch para vender agora por R$ 3 mil, vende fácil. Se comprou na época em que ele estava R$ 2 mil, fez R$ 1 rapidinho. Só vai ficar por um tempo sem o console e pode comprar de novo”, soma Bollico.

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O difícil é saber agora quanto tempo vai levar para que o preço dos consoles se ajustem novamente. Se você estiver em busca do seu primeiro videogame, a dica é: aguarde.

Fonte: Zoom (1) (2)