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Índia pode se tornar próximo mercado restrito para provedores de nuvem

Por| 06 de Agosto de 2018 às 19h43

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Índia pode se tornar próximo mercado restrito para provedores de nuvem
Índia pode se tornar próximo mercado restrito para provedores de nuvem

Seguindo o exemplo de países como a China, a Índia pode se transformar em breve no mais novo mercado restrito a provedores de nuvem – sobretudo a empresas de grande porte com sede em outros pontos do globo. Conforme indica um painel realizado recentemente por políticos e membros da indústria local, a ideia é que todos os dados de indianos mantidos em nuvem sejam armazenados em provedores instalados dentro do território nacional.

Conforme reportou a agência de notícias Reuters, a ideia é garantir a soberania das informações de cidadãos indianos “por razões de investigação e segurança nacional”. A cúpula foi conduzida pelo conhecido empreendedor indiano Kris Gopalakrishnan, fundador da gigante de TI Infosys, e faz eco a declarações governamentais feitas anteriormente pelo governo do país.

De acordo com uma súmula produzida com base na reunião, a ideia é que o governo “estabeleça até 2022 um regime abrangente de proteção aos dados para as comunicações digitais, a fim de resguardar a privacidade, a autonomia e a escolha de indivíduos facilite a participação efetiva da Índia na economia global”.

Uma mina de ouro nas nuvens

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Ainda que evidenciar o controle estatal sobre o fluxo de informações geradas em território nacional seja uma crítica pronta à tendência de busca por soberania de dados, o caso da Índia pode não se encaixar tão bem nesse perfil – em alguma medida, nem o da China. Conforme apontou Danny Crichton em texto escrito para o TechCrunch, o negócio do armazenamento em nuvem se tornou um negócio rentável demais para ser mantido a despeito das fronteiras nacionais.

Em outros termos, dados arquivados hoje por empresas como Microsoft, Amazon e Apple são uma espécie de mina de ouro nas nuvens; e não demoraria muito para que as autoridades se apercebessem desse valor. “Ainda que privacidade e segurança se mantenham como prioridades centrais, os governos reconhecem hoje que a economia de dados é crucial para garantir futuras inovações e crescimento”, escreveu.

Entre outros pontos, o que a soberania de dados garante é que as gigantes multinacionais do setor serão obrigadas a manter estruturas físicas dentro das fronteiras dos países – de maneira que é necessário também gastar e investir em infraestruturas locais (e taxáveis). De qualquer forma, um aceno às empresas com maior capital e participação de mercado, normalmente as únicas capazes de promover semelhante escalada de negócios.

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A ironia do caso indiano

A exigência do painel de Kris Gopalakrishnan se torna menos drástica caso se analise o status atual do mercado indiano; particularmente, o nicho voltado para os negócios em nuvem. Conforme apontou o site TechCrunch, os serviços em nuvem no país devem fechar este ano com receita de US$ 2,5 bilhões, representando um crescimento de 37,5% em relação ao mesmo período do ano passado. Dessa forma, já era de se esperar que companhias de grande porte optassem por instalar estruturas em solo indiano, a fim de cortar custos e aproveitar o crescimento acelerado – restando como único desafio garantir que o mercado da Índia se mantenha aberto ao capital estrangeiro.

A ironia, entretanto, se torna óbvia diante da natureza do crescimento do PIB (produto interno bruto) indiano, sobretudo ao longo das últimas décadas. Eminentemente um país de economia calcada no setor terciário – também conhecido como “setor de serviços” -, a índia garantiu parte do seu quinhão atual ao prover inúmeros serviços de forma terceirizada a empresas localizadas em todos os cantos do mundo. Trata-se, portanto, de enxergar agora com outros olhos a própria infraestrutura global que garantiu ao país sua posição econômica atual.

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Um freio para a IA?

A nacionalização das informações em nuvem também levam a preocupações indiretas, sobretudo quando se trata de desenvolvimentos científicos. Afinal, qual seria a extensão da restrição imposta pela Índia aos dados gerados por cidadãos? A questão também pode ser estendida a outros países, conduzindo sempre ao mesmo ponto nebuloso: dados coletados nacionalmente poderão ser utilizados para, por exemplo, promover melhorias em dispositivos de inteligência artificial que possam ser utilizados mundo afora?

“Seria uma vergonha se a mesma lei que encorajou o crescimento do setor de TI da Índia fosse também aquela que colocará um freio nele”, aponta Crichton em seu artigo, mencionando as várias startups que atualmente dependem de dados gerados em massa para conduzir pesquisas e aperfeiçoar produtos.

É provável que a resposta esteja menos na nacionalização da riqueza informacional atualmente em nuvem do que em permitir que cada cidadão decida o que fazer com suas próprias informações. Ganha o mercado, pela promoção da concorrência; ganha a ciência, por contar com material farto gerado em escala global.

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Fonte: Techcrunch