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Tablet no lugar de livros: tecnologia ajuda ou atrapalha na alfabetização?

Por| 13 de Dezembro de 2019 às 16h45

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Há pouco tempo, a lousa, o giz e os livros eram as únicas ferramentas para ensinar e aprender em sala de aula, mas hoje em dia, graças à tecnologia, os métodos de aprendizado se transformaram muito e as crianças acompanharam essa mudança. A junção de recursos auditivos e visuais que a tecnologia permite tornar atividades mais atrativas e podem ajudar no processo de aprendizado em todas as fases das crianças. Mas será que a tecnologia é totalmente bem-vinda nessa fase?

Segundo Luciana Brites, psicopedagoga, especialista em Educação Especial e co-fundadora do Instituto NeuroSaber, embora a tecnologia seja um ótimo suporte para ajudar no processo de aprendizado da criança, ela serve como aliada e não como substitutiva ao método tradicional de alfabetização. “O papel da mediação do professor que encontramos no ambiente escolar é essencial para que a criança sinalize suas dificuldades individuais e seja acompanhada de perto para que, por meio das intervenções necessárias, consiga superá-las”, afirma a profissional. Luciana explica que, quando a tecnologia substitui as interações sociais da criança, ela pode se tornar um problema: “Embora não haja subsídios científicos claros para definir horas de uso, a orientação é que o bom-senso prevaleça e que o uso do tablet/celular não substitua os momentos de conexões sociais. As crianças precisam brincar, correr, pular, desenhar, pois todas essas atividades são essenciais para o desenvolvimento infantil”.

A psicopedagoga acrescenta que, se usada de forma razoável, dentro de projetos pedagógicos que considerem o uso em tempo e conteúdo adequado para cada etapa da criança, a tecnologia pode ajudar não só no processo de alfabetização, como também auxiliar na construção de habilidades cognitivas, socioemocionais e de aprendizagem. “O celular e o tablet tornaram-se muito atraentes para as crianças por serem ótimo artifícios de distração utilizado pelos pais. No entanto, o contato precoce das crianças com a tecnologia é prejudicial para o seu desenvolvimento, incluindo o processo de alfabetização. A formação da arquitetura cerebral é acelerada durante os primeiros anos de vida e esse processo serve de suporte para todo o aprendizado futuro, por isso a recomendação é que até 1 ano e meio a criança não tenha nenhum contato com telas. A partir dos dois anos, os pais podem permitir o uso por tempo limitado e sempre na presença dos filhos”, afirma.

Os Desafios da Alfabetização

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Natália Bugança, professora da Unopar, mestre em educação e especializada em educação especial e gestão escolar, acredita que a tarefa de alfabetizar é árdua e desafiadora, porque é essencial que cada professor conheça as especificidades individuais dos seus alunos. “Cada pessoa é um ser único, que interpreta o conhecimento de modo singular e num ritmo diferente. Para entender isso, é necessário ter disponibilidade, afeto, empatia e, comprometimento com a formação humana do aluno. Alfabetizar é mais do que ensinar grafemas e fonemas, é apresentar o mundo”. Para ela, a tecnologia é capaz de ampliar as possibilidades pedagógicas do professor, tornando as aulas mais atrativas com ferramentas que garantam dinamismo, acessibilidade, e respeito aos diferentes ritmos e estilos de aprendizagem das pessoas.

Segundo Natália, os professores devem entender que integrar a tecnologia às propostas de trabalho já não é mais apenas uma opção, porque ela já faz parte da vida dos alunos fora da sala de aula, e usá-la em benefício do desenvolvimento educacional é uma boa oportunidade. Todavia, a professora ressalta que alguns cuidados são fundamentais para que o professor faça uma boa integração entre tecnologia e ensino, como relacionar os recursos aos objetivos de aprendizagem, permitir o protagonismo dos alunos conduzindo-os ação-reflexão-ação, e supervisionar as atividades para evitar o acesso a conteúdo inapropriado ou desconexo com a aula.

“É importante lembrar que a mera inserção de recursos tecnológicos, por si só, não garante que o estudante absorva o conhecimento, mas sim a maneira como o professor articula esses meios com todos os componentes curriculares”, pontua.

Tecnologia na sala de aula

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A passos largos, a tecnologia vem entrando cada vez mais nas salas de aula. No Colégio Sion, por exemplo, os alunos já utilizam iPad como material escolar — que é fornecido pelo próprio colégio — para trabalhar toda a trilha de coleção digital nas disciplinas. Além disso, são usados aplicativos nas lições de casa.

“Acredito que a integração da tecnologia nos temas trabalhados na proposta curricular auxilia os alunos a permanecerem engajados na proposta que será aprendida. A utilização dos iPads e acesso aos dispositivos tecnológicos permitiram uma maior mobilidade na exploração dos recursos técnicos nas diferentes disciplinas”, defende Gabriela Tobias, coordenadora de Tecnologia Educacional do colégio. “Essa geração de crianças e jovens já nasceu conectada com o avanço tecnológico em nossa sociedade. Os pais também estão inseridos nessa realidade do processo, uma vez que as ferramentas de ensino têm como objetivo central a utilização educativa dos recursos”, acrescenta.

Em contrapartida, a coordenadora afirma que a tecnologia nunca irá substituir o papel do professor no processo de alfabetização ou no processo de ensino de qualquer tema. Em vez disso, nas escolas, seu papel sempre será complementar e potencializar o conteúdo de estudo. "A tecnologia só tem sentido se for fundamentada como um recurso que enriqueça o processo de ensino-aprendizagem ao aluno. Sempre que pautada nessa perspectiva, nunca irá limitar o desempenho dos alunos, mas sim agregar valor na exploração das ferramentas direcionadas e planejadas para essa finalidade educacional”.

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Na Escola Móbile, há um projeto de desenvolvimento de aplicativos focados em processos de aprendizagem feito por alunos do sétimo ano, durante as aulas de Pensamento Computacional e Programação. Basicamente, os alunos são divididos em grupos e estudam com base na metodologia scrum, de gestão e planejamento de projetos de software, e cada grupo faz uma reunião de briefing com os professores de diversas disciplinas, e entende qual a necessidade da aula para, em seguida, direcionar o desenvolvimento do app. Um desses projetos tem foco nas aulas de português, e relaciona sílabas, sons e rimas, para que crianças de 4 e 5 anos comecem a ter consciência fonológica.

O coordenador de Tecnologia Educacional da escola, Júlio Ribeiro, conta que os alunos mais novos utilizaram os aplicativos desenvolvidos durante o tempo de aula, apenas. “Os mais novos aprenderam bastante, uma vez que o produto foi assertivo, afinal, para a produção do conteúdo, os mais velhos conversaram com os educadores dos mais novos. Esses apps eram tecnicamente simples, mas cumpriam o papel proposto no auxílio na aprendizagem”, conta.

A escola possui ainda um caderno de alfabetização, de um método próprio de ensino, que foi transformado em um material digital para que os professores possam acompanhar a evolução dos alunos. Os arquivos estão instalados nos iPads da escola e utilizados com grupos menores de alunos para trabalhar de forma individualizada o que está sendo aprendido em sala.

Plataformas e aplicativos

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Além da sala de aula, a tecnologia também está ajudando as crianças em fase de alfabetização por meio de plataformas on-line e aplicativos, como jogos. No caso da Galinha Pintadinha, por exemplo, um personagem muito famoso entre o público infantil, houve recentemente o lançamento de um aplicativo chamado Galinha Pintadinha Letrinhas, game educativo disponível gratuitamente na Google Play. Quando conectada ao celular ou tablet, a linha Controle Kids — em junção com esse aplicativo — permite que a criança controle a Galinha, e a personagem vai juntando as letras que compõem o alfabeto. “A Galinha Pintadinha tem o compromisso de contribuir com o desenvolvimento e o aprendizado de todas as crianças de uma forma lúdica”, afirma Lilian Alves, Coordenadora de Comunicações da marca.

Por sua vez, a startup Dentro da História desenvolveu uma plataforma on-line em que os pais entram e conseguem personalizar histórias como se as crianças estivessem dentro delas, para contracenarem com seus personagens favoritos, o que “auxilia os responsáveis a impactar a educação e potencializa em até três vezes a retenção do conteúdo e o aprendizado das crianças”, segundo o sócio André Campelo. Um diferencial é que o conteúdo pode ser destinado aos pequenos (chamados pela plataforma de “leitores exploradores”, de até dois anos de idade) até os maiores.

Pesquisas em desenvolvimento

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Em 19 de novembro, aconteceu a sétima edição do Latin America Research Awards (LARA), o programa de bolsas de pesquisa do Google. Basicamente, foram selecionados 25 projetos de pesquisadores de toda a América Latina, sob a premissa de resolver problemas do nosso cotidiano. Tendo isso em mente, Felipe Meneguzzi e Laura Tomaz da Silva, da PUCRS, desenvolveram um projeto chamado "Explicações visuais para dados de neuroimagem fMRI".

De acordo com Meneguzzi, a ideia é ter um dataset de ressonância magnética funcional de crianças em idade de alfabetização, disléxicos e não disléxicos, bons e maus leitores, pegando o gancho de que o projeto ACERTA, Instituto do Cérebro (Inscer) da PUCRS, está tentando avaliar a dislexia nessas crianças na idade de alfabetização.

"O objetivo é não só fazer uma classificação, mas também apontar o porquê de o indivíduo ser classificado como disléxico ou não. O que a gente está fazendo é tentar usar essas técnicas de machine learning para entender o porquê de uma rede neural fazer uma classificação ou não", explica o pesquisador. "E a ideia não é substituir psicólogo ou profissional da área, mas sim ajudar na pesquisa da neurociência, que quer saber as regiões do cérebro envolvidas, e até descobrir outras regiões que os modelos de neurociência atual não previam. A ressonância magnética custa R$ 2 mil e uma consulta com psicólogo é muito mais barata, então atua mais como uma ferramenta", acrescenta. Felipe aponta ainda, que, no futuro, vai tentar gerar explicações cada vez mais detalhadas sobre o motivo de aplicar essas classificações nas crianças em idade de alfabetização.