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Setembro amarelo: pessoas com depressão podem conseguir apoio usando tecnologia

Por| 08 de Setembro de 2020 às 15h50

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Antonio Dillard/Pexels
Antonio Dillard/Pexels

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Depressão afeta cerca de 300 milhões de pessoas em todo o mundo (4,4% da população mundial). No Brasil, a prevalência é um pouco maior do que a média: 5,5% ou um total de 11,5 milhões de brasileiros, número que, nas Américas, só é superado pelos Estados Unidos. Ainda de acordo com a OMS, são registrados cerca de 11 mil suicídios todos os anos no país e mais de 800 mil no mundo, sendo que 97% dos casos estão relacionados a transtornos mentais e, em primeiro lugar, à Depressão.

Com isso, a Janssen, farmacêutica da Johnson & Johnson, deu início ao Movimento Falar Inspira Vida, que marca o Setembro Amarelo e pretende requalificar a conversa sobre a Depressão por meio do conhecimento, contribuindo para um ambiente mais favorável a quem precisa de apoio especializado. O projeto conta com a participação da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (ABRATA), Centro de Valorização da Vida (CVV), Departamento de Psiquiatria da UNIFESP, Instituto Crônicos do Dia a Dia (CDD), Instituto Vita Alere e Vitalk.

Para colocar o objetivo em prática, o movimento em questão criou um guia que explica como falar da maneira mais adequada sobre Depressão e Suicídio, utilizando como base expressões e comentários corriqueiros. O material pode ser acessado no site, baixado e compartilhado.

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Dr .Jair Mari, Chefe do Departamento de Psiquiatria e Psicologia Médica da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica que a depressão é um desequilíbrio biológico importante e que afeta todo o organismo. "A vida estressante que levamos, a violência, a pressão que sofremos para funcionar em diversos aspectos contribuem para o aumento do número de pessoas com o transtorno".

O especialista ainda observa: "Principalmente nos casos graves, a sensação de angústia e pensamentos mórbidos podem fazer com que a que pessoa tenha impulsos suicidas, porque ela não suporta a dor que está sentindo e não vê saída para aquela situação. As pessoas com esse desequilíbrio biológico estão mais propensas a desenvolver doenças autoimunes, câncer e doenças cardiovasculares".

O Dr. ressalta a necessidade da mobilização da sociedade para construir um país com compaixão, altruísmo, que não negue a ciência. "A luta maior é contra o preconceito. É nisso que a campanha pode auxiliar muito bem. É muito importante que a gente estude a situação, ouça as pessoas que passaram pelo problema", acrescenta.

E vale ficar de olho nos sinais que indicam a depressão. Segundo Jair, os principais são mudança de qualidade de vida, desinteresse, medo do futuro, angústia, sensação que toma conta física, e o mais importante ainda: perda de funcionalidade. "Não conseguir ler o que lia, escrever o que escrevia, guardar o que costumava guardar. Muita irritabilidade, não querer saber das pessoas. O impacto da fincionalidade e sintomas gerais. Esse é o momento de buscar ajuda", diz o especialista.

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Tecnologia: a causa ou a solução?

Quando se trata de saúde mental, a tecnologia inevitavelmente acaba gerando controvérsias. Questionamos os envolvidos com o movimento se a tecnologia traz mais benefícios ou malefícios para as pessoas que estão com depressão. Para Bruna Rocha, representante da Associação Crônicos do Dia a Dia (CDD), o problema não é a tecnologia em si, mas o uso que a gente faz dela. "A tecnologia pode ser uma aliada. Sem a tecnologia, hoje a gente estaria longe de todas as pessoas que a gente acolhe, então ela é uma grande amiga. Mas excessiva, pode ser uma forma de alienamento, um vício".

Em alguns casos, é possível ver na prática como a tecnologia pode servir para ajudar. De acordo com Carlos Correia, representante do Centro de Valorização da Vida (CVV, organização que oferece apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo de forma voluntária todas as pessoas que querem conversar por telefone, email, chat), a tecnologia facilitou o atendimento.

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"Esse processo aumentou as possibilidades das pessoas conversarem com a gente. Os jovens preferem o chat, e-mail. Muitos voluntários estavam no grupo de risco na pandemia e a gente se reestruturou para fazer atendimento remoto. Estamos aprendendo a fazer remotamente. Foi uma transformação muito grande, e agora podemos ter voluntários que moram no exterior. A tecnologia é fundamental, tanto para nós, que atendemos, quanto para quem precisa do atendimento", disserta Carlos.

Martha Axthelm, presidente da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (ABRATA), menciona um grupo de apoio online três vezes por semana, além de lives com especialistas, o que só ressalta o papel que a tecnologia tem cumprido. "Na pandemia, está sendo de vital importância a tecnologia. Não tem como ter dúvida disso", opina.

Para Dr. Jair, a tecnologia traz mais beneficios do que prejuizos. "A possibilidade de juntar empresa, universidade, comunicação e pessoas da sociedade é um exemplo de bom uso da tecnologia. Hoje, o acompanhamento remoto dos pacientes é muito importante. A receita digital tem que permanecer, temos que conseguir fazer com que todas as receitas de psiquiatras possam ser digitais", observa o especialista.

Depressão em diferentes fases da vida

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Dr. Jair menciona aumento da prevalência de depressão ao longo da vida, principalmente depois dos 70 anos, porque existe percepção da pessoa de perdas, já que a ela passa a não conseguir fazer algumas atividades que fazia antes. "Tem aí um período de perdas, e é necessário ter compreensão do processo de envelhecimento. O importante é saber envelhecer, utilizar desse período de senioridade, de aceitar as perdas e ao mesmo tempo buscar projetos, se proteger contra a depressão".

Já a depressão em adolescentes traz à discussão a parte negativa da tecnologia. "O advento da internet é maravilhoso, mas você tem também todos os riscos associados, como os sites que promovem suicidio, sites que promovem anorexia nervosa. A modernidade traz novos desafios. O adolescente conectado pode ser objeto de bullying, de críticas. É um momento de transformação do corpo, então há toda a questão do assédio, do bullying", conta o especialista.

Ele explica que devemos nos atentar a sintomas como irritabilidade ou muito isolamento. "É muito importante saber se aproximar do adolescente para perguntar o que está havendo, se aconteceu algo na escola, por que ele está diferente. Caso haja necessidade, buscar ajuda", diz. Dr. Jair reconhece que é muito mais dificil de identificar porque entra na crise da adolescência, e acrescenta que tem toda uma complexidade contemporânea e uma preocupação baseada no fato de que a maioria dos transtornos mentais se iniciam na adolescência. "É um grupo que exige bastante cuidado", alerta.

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Iniciativa no Metrô de SP

Ao longo do mês de setembro, um vagão da linha Amarela do Metrô de São Paulo, chamado de "vagão do acolhimento", estará personalizado com expressões que utilizamos no dia a dia quando falamos da doença e que, muitas vezes, vêm carregadas de julgamentos, prejudicando quem precisa de ajuda especializada.

"Nos relatos que recebemos diariamente no CVV, as pessoas alegam que sofrem com o estigma da Depressão, que os indivíduos à sua volta minimizam o sofrimento delas e acham que estão fingindo ou usando a doença como desculpa para não trabalhar, por exemplo. É importante mostrarmos que a Depressão é uma doença grave e incapacitante, mas que com ajuda profissional, pode ser tratada", explica Carlos.

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Vídeos animados também estão sendo transmitidos nos monitores dos trens e estações estão fazendo um convite à população: "Palavras importam — Informe-se e faça bom uso delas". Com um QR code, a pessoa pode acessar um guia completo que explica como dialogar de maneira mais empática e acolhedora sobre Depressão. A versão impressa do guia ("Depressão: quando saber falar e ouvir inspira a vida") estará disponível gratuitamente nas estações que compõem as linhas Amarela e Lilás. Além disso, painéis informativos estarão instalados nas estações para reforçar a ação.

"Nossa expectativa é que a sociedade brasileira esteja mais preparada para lidar com a doença, além de mostrar a importância de uma conversa acolhedora e livre de julgamentos. Sabemos que apesar do distanciamento social imposto pela pandemia, grande parte da população precisa continuar se locomovendo pela cidade para exercer suas atividades, então, decidimos levar o Movimento para as estações de metrô porque acreditamos que essas mensagens sobre saúde mental podem ajudar e acolher as pessoas que passarem por lá", explica Fabio Lawson, psiquiatra e Diretor Médico da Janssen.

Lawson reforça, no entanto, que não é para as pessoas saírem de casa para irem ao metrô conferir a ação. "Para aquelas que estão em casa, disponibilizaremos nos próximos dias um vídeo no site do Movimento, onde a população também pode encontrar bastante informação sobre a doença".

Juliana Alcides, gestora de sustentabilidade da ViaQuatro e ViaMobilidade, destaca a importância de a ação acontecer nas linhas. "Nesse momento, mais do que nunca precisamos estar atentos à saúde e bem estar de todos os que circulam diariamente pelas nossas linhas. Por isso, são fundamentais iniciativas como o Movimento Falar Inspira Vida, que reforça os cuidados e melhorias na qualidade de vida dos passageiros".

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Vale deixar aqui que, se você for alguém que precisa de ajuda, o CVV tem atendimento gratuito por telefone no número 188 e pelo site. É válido lembrar também que uma alternativa para situações de emergência é recorrer aos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), presentes em todos os municípios e com atendimento público associado ao Sistema Único de Saúde (SUS).