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Como a quarentena está impactando os relacionamentos amorosos?

Por| 12 de Junho de 2020 às 15h00

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Ah, o dia dos namorados... data especial para comemorar com alguém que desperta em você os maiores sentimentos. No entanto, nesta sexta-feira (12), a pandemia ainda assola a preocupação, então a situação está bem complicada, principalmente para os casais que não moram juntos. E foi justamente com isso em mente que a equipe do Canaltech resolveu fazer uma análise minuciosa de como o isolamento social tem impactado aos relacionamentos.

Cada um na sua casa

Se tem uma coisa que talvez seja mais complicada que relacionamento a distância, é o relacionamento em que acaba inevitavelmente se tornando a distância a partir do momento que as duas pessoas precisam ficar em suas respectivas casas, por causa da quarentena. E é justamente isso que tem acontecido com Julio e Sthella, que moram no Rio de Janeiro e estão juntos há cinco anos.

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O casal conta que, desde que o país foi submetido a um isolamento social, só se viu pessoalmente uma vez. Sthella conta que essa ocasião foi inclusive responsável por desencadear sentimentos negativos: "Nós nos vimos apenas uma vez e foi uma experiência horrível, porque para respeitar as regras de saúde pública, acabamos apenas dando um abraço e ficamos de máscara o tempo todo e distantes. Acabou sendo mais prejudicial, porque não poder tocar quem se ama é doloroso", relembra.

Julio admite que o início da quarentena foi a pior fase para o casal, e ressalta a importância que o diálogo teve para o relacionamento: "Estamos nos acostumando ainda. Para mim, no início foi negativo, porque eu achava que ela não iria aguentar, mas se tornou positivo quando a gente conversou sério sobre o assunto e se expressou". Entretanto, a experiência para Sthella foi oposta: "Para mim, no começo da pandemia foi tranquilo, eu achava que seria algo passageiro, rápido, só que a cada vez que se estendia ficava um pouco pior porque parece que nunca acaba. Então, agora tem sido cada vez mais difícil manter tudo do 'ah vai passar logo' porque o cenário não ajuda a acreditar nisso", relata.

Apesar da distância imposta pelo isolamento, os dois contam com a tecnologia para manter a maior proximidade possível, com direito a redes sociais, ligações e chamadas de vídeo. "Conversamos muito durante o dia, mantendo uma proximidade", conta Sthella. No entanto, não esconde os empecilhos que a tecnologia pode representar ao ser a única saída para criar conexão com o parceiro: "Eu acredito que a apenas o virtual não consegue expressar 100% o que se sente, assim as palavras acabando tomando intensidade ou sentidos que uma conversa cara a cara não teria", opina a estudante universitária.

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Questionados diante das brigas, os dois concluem que não houve aumento, apesar de algumas discordâncias em determinados assuntos. "Ao meu ver, a gente não tem brigado. Apenas discutimos por eu ser um pouco mais preocupado com a saúde dela, se está comendo, se está estudando, se está se cuidando quando sai de casa", conta Julio. "Não há muitas brigas, mas sim discussões, porque ele é muito mais esperançoso quanto ao fim da pandemia e eu não, eu penso nas consequências, e essas diferenças de pensamento de como encaramos que causa os atritos", completa Sthella.

Mesmo com essas divergências de opiniões, os dois seguem o relacionamento, apenas no aguardo de um momento em que será possível voltar a sair na rua. Com base isso, a equipe do Canaltech questionou se há um segredo para manter o relacionamento estável mesmo num momento como esse, com tantas circunstâncias desfavoráveis. Os dois batem na mesma tecla: o diálogo. "Não existe segredo ou fórmula certa, acho que conversar e se expressar é o certo", afirma Julio, ao que Sthella concorda: "Não é segredo, é básico: comunicação. No começo eu fiquei relutante em falar sobre o assunto, em negação, mas depois de alguns conselhos externos percebi que era mesmo a comunicação a chave da estabilidade. É o que dá para se fazer, manter-se estável e não desistir um do outro".

Términos na quarentena

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Mas se Julio e Sthella conseguiram manter o relacionamento mesmo durante a quarentena, Nicole, de São Bernardo do Campo (São Paulo) não teve a mesma sorte. Acontece que, justamente por passar muito tempo com o noivo - com quem se relacionou por dois anos e meio - devido à quarentena, o relacionamento se desgastou.

"Nós tínhamos uma rotina totalmente diferente, antes da quarentena. Então com a correria, não dava tempo de ficarmos entediados. Quando iniciou a quarentena, nós sentimos o impacto de estarmos somente na presença um do outro, e descobrimos que a rotina era um fardo bastante pesado pro nosso relacionamento", conta. "Não conseguimos nos adaptar a isso, e fomos sentindo o desgaste. Em pouco tempo, não suportamos. Apesar de ter sido um período que nos descobrimos muito, foi um período que descobrimos que não temos tanto em comum assim", Nicole acrescenta.

Ela conta que passou as primeiras semanas da quarentena junto com o noivo, e as brigas só fizeram aumentar: "Acredito que por causa da rotina, e por causa da falta de atividades pra fazer. Ficávamos muito tempo juntos fazendo as mesmas coisas: filme, arrumar a casa, filme de novo... quando não tínhamos mais opção, nos sentíamos frustrados e acabávamos descontando um no outro".

Nicole acredita que, se não fosse a pandemia, o noivado provavelmente ainda estaria de pé. "A quarentena nos mostrou coisas que a rotina nunca nos permitiria conhecer um no outro. Foram esses detalhes que levaram o relacionamento ao fim. Então concluo que a quarentena nos deu a oportunidade de perceber que o relacionamento não era como pensávamos. E isso teve um impacto muito positivo, apesar de ter ocasionado o fim. São coisas que não enxergaríamos se não estivéssemos submetidos a um isolamento, o que poderia trazer grandes problemas para a relação se descobríssemos isso depois de casados, por exemplo", declara.

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Como lidar?

Para entender melhor como contornar essa situação, conversamos com Bia Sant’Anna, psicóloga formada pela USP, especialista em Neuropsicologia e proficiente em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). Quanto à separação inevitável proporcionada pelo isolamento e seus efeitos no relacionamento amoroso, a psicóloga aponta: "A separação que o isolamento muitas vezes proporciona é uma separação física, mas não precisa ser uma separação afetiva. Então o distanciamento é físico, mas não afetivo. Mesmo sem a pandemia de coronavírus, existem muitos casais que se relacionam a distância e, como todo relacionamento, há alguns desafios". Ela ainda acrescenta que o relacionamento precisa continuar sendo alimentado, mas de uma forma diferente, ressaltando a importância de encontrar pontos incomuns e manter uma rotina de encontros, mesmo que seja online.

Sendo assim, na opinião da psicóloga, para contornar essa situação e continuar unido mesmo com os indivíduos separados fisicamente, o relacionamento precisa ser nutrido romanticamente, afetivamente, sexualmente, mas de uma forma adaptada. Todas as coisas que o casal gostava de fazer quando estava junto fisicamente precisam ser pensadas e constantemente alimentadas. É hora de usar a criatividade e, nesse momento, a tecnologia pode ajudar. "O casal pode manter algumas atividades, por exemplo, promover jantares, encontros em conjunto, assistir programas, filmes, porém de uma forma distante fisicamente, mas ainda assim juntos", aponta.

Já em relação às brigas, Bia diz que em teoria, o relacionamento a distância pode proporcionar uma diminuição nas brigas, porque não existem tantas zonas de atrito e a presença constante aumenta essa possibilidade. "O maior risco é que o relacionamento perca a intensidade e esfrie", alerta. "Quanto aos casais que moram juntos, há o risco de aumentar a área de atrito. Os cônjuges não têm um respiro, seja para encontrar amigos, trabalhar fora, ou seja, fazer coisas diferentes. Eles precisam compartilhar o espaço e isso faz com que aumentem as chances de atrito entre o casal".

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A psicóloga acrescenta que os casais que moram juntos e ainda têm filhos têm um desafio duplicado. "Eles precisam resolver as tarefas domésticas, continuar trabalhando e ser produtivos, além de cuidar dos filhos. Por isso eles precisam criar uma relação muito próxima de parceria e manter um diálogo sobre essa sobrecarga, dividir as tarefas e sempre que possível ter um momento a dois", aponta.

A tecnologia é suficiente para ajudar? 

Mas então a grande questão que vem à mente é: a tecnologia é suficiente para manter a sensação de proximidade? De acordo com a psicóloga: sim. "Se bem utilizada, a tecnologia é suficiente sim para manter a sensação de proximidade. Se não fosse assim, casais que moram em países diferentes não manteriam relacionamentos saudáveis. E existem muitos casais que são bem sucedidos e sobrevivem muito tempo mesmo com o distanciamento", Bia afirma.

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Segundo a psicóloga, atualmente é muito comum as pessoas sentirem solidão, por conta do isolamento social, mas a primeira coisa para lidar com essa sensação de solidão é olhar para dentro e entender seus sentimentos. "Buscar ajuda nos momentos de vulnerabilidade é um sinal de força e de coragem. O recomendado é pedir ajuda para as pessoas que se gosta, para a rede de apoio. Não ficar sozinho sofrendo. Procurar marcar almoços, jantares, videoconferências, happy hour. É importante entender a importância de buscar ajuda nas pessoas queridas ou, em casos mais acentuados, em profissionais habilitados que podem orientar e apoiar", sugere.

Isso porque, segundo a especialista, o cenário atual existe um plano de fundo que se coloca para todas as pessoas: há uma crise de saúde pública, econômica de recessão e, especialmente no Brasil, também uma crise, política. Isso afeta a todos, mesmo que inconscientemente. Mesmo que a pessoa esteja no momento de paixão, muito feliz no relacionamento, pode ficar preocupada, por exemplo, se as pessoas que ela gosta vão adoecer, se ela mesma vai adoecer, se ela vai ter trabalho, como vão ser os próximos desafios econômicos. Então, mesmo que subliminarmente, a situação imposta pode interferir no equilíbrio do estado emocional.

"O mais importante de tudo é entender que esse momento que vai passar, então é necessário focar toda a energia só no dia de hoje, as coisas ficam mais leves. Quando são feitas conjecturas sobre o futuro, questionamentos de como será o amanhã, quando tudo isso vai terminar, se vai estar empregado, se pessoas próximas vão morrer as coisas ficam bem mais difíceis justamente por trabalhar com os olhos no futuro", disserta a especialista. "Uma das características dessa pandemia é a incerteza, ninguém sabe quanto tempo vai levar para sair dessa situação, quando a rotina e a “vida normal” será retomada. Por isso é muito importante focar no presente", conclui.