Relacionamento a distância: a internet é capaz de suprir as necessidades?
Por Nathan Vieira |

Redes sociais, aplicativos, chamadas de vídeo e "nudes". Na era digital, a dinâmica do relacionamento entre as pessoas passou por um impacto imensurável, e possibilitou que a ideia do relacionamento à distância, o que pode abrir margem para alguns problemas. Isso porque a internet tem a premissa de aproximar pessoas que estão fisicamente distantes. Agora, será que é mais fácil uma relação virtual do que uma presencial?
Para entender um pouco sobre relacionamento à distância, a equipe do Canaltech bateu um papo com a Dra. em Psicologia, Adriana Nunan, que é co-autora do livro Relacionamentos Amorosos na Era Digital. Basicamente, a obra aborda vários pontos que envolvem o amor e a tecnologia em junção, e levanta a questão sobre a era digital aproximar ou separar as pessoas.
Adriana explica, primeiramente, que existem dois tipos muito distintos de relacionamentos à distância: no primeiro caso, as pessoas já se conhecem pessoalmente e, por um motivo ou outro, como viver em lugares diferentes, mudar de cidade devido a trabalho ou estudo, tiveram que se afastar. Nestes casos, para que o relacionamento seja saudável, é necessário estabelecer algumas regras, manter contato frequente - por telefone ou aplicativos de mensagem - e fazer planos concretos para encontrar-se sempre que possível.
Mas há também outro tipo de relacionamento à distância, característico da era digital: é aquele estabelecido entre pessoas que nunca se viram pessoalmente, seja porque moram distantes uma da outra ou por medo de se encontrarem. Quanto a eles, Adriana destaca a baixa autoestima, ou até algum transtorno mental maior: "O problema com este relacionamento é que na medida em que não conhecemos o outro 'ao vivo' fazemos todo tipo de inferências e idealizações que, na maioria das vezes, não correspondem à realidade. A pessoa acaba se relacionando com quem ela deseja, não com quem existe. Nestes relacionamentos os golpes amorosos também são muito frequentes".
E aí, tecnologia aproxima ou separa?
Sim e não, afirma Adriana. A doutora em psicologia aponta que tudo depende da forma como a tecnologia é utilizada: "Se eu, por exemplo, uso a tecnologia no dia a dia para interagir com mais frequência com as pessoas que gosto, o uso é benéfico. Inclusive, atualmente, muitos relacionamentos tendem a evoluir mais rápido do que antigamente por causa disso. Na medida em que a troca é constante (ex: por mensagens de aplicativo) você estabelece intimidade muito mais rápido com o outro. Agora, se mantenho as relações apenas no âmbito virtual, a tecnologia cria apenas a sensação de proximidade, mas não uma proximidade real".
Nossa equipe questionou a psicóloga se prender-se a um relacionamento baseado em aplicativo/redes sociais denota algum comportamento ou algum bloqueio social. De acordo com ela, se o relacionamento se mantiver apenas no âmbito virtual, é possível dizer que sim. "Naturalmente não podemos fazer esse tipo de inferência sem mais informações, mas é possível que uma das pessoas - ou ambas - sofra de baixa autoestima ou tenha algum tipo de inabilidade, ou fobia social. Em casos mais graves, pode-se tratar de um golpista", relata.
Além disso, Adriana conta que, do ponto de vista da psicologia, é prejudicial que as pessoas se relacionem mais pela internet do que pessoalmente, porque vínculos são fortalecidos no convívio presencial. Segundo a psicóloga, se nos relacionamos mais pela internet idealizamos o outro, projetamos nossos desejos e ideais, e fazemos inferências que, na maioria das vezes, não condizem com a realidade. "Nós sempre tentamos mostrar nossas qualidades e esconder os defeitos e fazer isso pela internet é muito mais fácil. Você pode acabar se relacionando com uma pessoa que não existe", aponta.
A Distância
Também conversamos com duas jovens que carregam diferentes experiências envolvendo relacionamentos a distância: Larissa, de 25 anos, que está prestes a completar dois anos de namoro com Gustavo, que mora em outro estado (ela mora no Rio de Janeiro, e ele no Espírito Santo); e Nicole, que terminou há pouco tempo o relacionamento com uma pessoa dos Estados Unidos.
Sobre a sensação de namorar a distância, Larissa traz um olhar positivo: "Sinto que dá para manter algo, mesmo longe, porque qualquer oportunidade ele está lá, completamente disposto a vir ou a me receber", conta. A garota observa que a melhor parte é que, por estar longe, o casal também está perto. "Sei que é um pouco estranho de falar assim, mas, nós nos falamos o tempo todo: no telefone ou trocando mensagem. Todo minuto. Todo segundo. Tudo o que ele faz, me avisa e vice-versa. Acabamos ficando bem mais próximos do que muitos casais que estão fisicamente próximos", expõe a carioca.
Em contrapartida, Larissa reconhece a pior parte da distância. "O fato de você querer abraçar, beijar e não poder. Mas nós nos apegamos muito ao futuro e compensa essa vontade forte de ficar junto de verdade com todas as horas que nos falamos, que vemos séries através de chamadas de vídeo. Mas é claro que quando conseguimos nos ver é a melhor parte".
Larissa conta que o maior aprendizado que teve com essa relação a distância foi que, para mantê-la, é necessário confiar cegamente na pessoa que você escolheu se relacionar: "Se você não confiar que aquela pessoa está ali junto de você e que quer estar com você e te fazer feliz, você vai ficar muito inseguro, e isso vai fazer com que qualquer coisa desande o relacionamento. Resumindo, precisa se confiar muito um no outro. E quando essa confiança é quebrada, é impossível (pela própria distância) que aquilo dê certo".
Por fim, Larissa revisita uma dica para as pessoas que estão namorando a distância: "Seja transparente! Não esconda nada, conte tudo o que acontece no seu dia, o que você sente, se abra, converse... confie! É importante demais que tudo isso esteja claro e que seja mútuo de ambos. Acima de tudo, é importante os dois quererem mover o mundo para que o relacionamento a distância não continue a distância para sempre".
No caso de Nicole, essas experiências de relacionamento a distância ocorreram no passado, e foram apontadas como positivas. "A principal diferença entre elas [experiências] foram um fator que existe e afeta qualquer relacionamento. O nível de sacrifício entre ambas partes. Em qualquer relacionamento, as duas pessoas precisam saber a hora de ceder, a hora de se sacrificar pelo bem do outro ou da relação. Em um relacionamento a distância, isso fica ainda mais evidente, porque simplesmente ter um encontro já é um sacrifício", conta.
Nicole diz que, em relação ao término do último relacionamento a distância, a razão cultural mesmo. "Meu namorado era de outro país. Ele teve uma criação e tinha uma mentalidade muito diferente da minha. Quando comecei a descobrir o ponto de vista dele sobre alguns assuntos, comecei a me decepcionar muito e, eventualmente, aquela paixão acabou. Acho que isso teria acontecido em um relacionamento 'comum' também".
Para a garota, a insegurança e a saudade são os fatores que mais pesam nesse tipo de relacionamento. "Você querer abraçar a pessoa, ficar junto e saber que só vai poder fazer isso daqui a sei lá quantos meses. Se é que já tem uma data de previsão. Na verdade, o pior para mim, é a despedida. Uma sensação horrível sempre que tá na hora de voltar para a rotina, de voltar para parte 'a distância' do relacionamento", afirma.
Com esses relacionamentos, Nicole aprendeu que conversas bobas do dia-a-dia são extremamente importantes. "Coisas do tipo dar bom dia ou boa noite, mesmo naqueles dias em que tudo está um caos, mostram que a pessoa está na sua mente e isso valoriza seu parceiro. Isso é algo que vale para qualquer relacionamento. Aprendi que comunicação é essencial e que sempre devemos ser claros sobre o que sentimos", conta.
E aí, você já teve um relacionamento a distância? Como foi a sua experiência?