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A controversa relação entre as redes sociais e as cirurgias plásticas

Por| Editado por Luciana Zaramela | 22 de Julho de 2021 às 08h40

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Joeyy Lee/Unsplash
Joeyy Lee/Unsplash

Em fevereiro, a Academia Americana de Cirurgia Plástica e Reconstrutiva Facial (AAFPRS) divulgou os resultados de uma pesquisa realizada em 2020 com cirurgiões, para entender como a COVID-19 impactou as tendências da cirurgia plástica facial. A pesquisa apontou um aumento significativo na busca por cirurgias plásticas, algo que a Academia atribuiu a "um maior tempo gasto em dispositivos digitais e um estilo de vida virtual sem precedentes", por conta da pandemia.

A AAFPRS chega a citar, inclusive, um fenômeno que chamou de Dismorfia do Zoom, um distúrbio psicológico em que o indivíduo fica obcecado por uma falha percebida na aparência durante as reuniões remotas. O termo faz a menção ao famoso app de videoconferência, muito usado durante essa pandemia.

Os cirurgiões participantes do estudo também relataram que muitos pacientes procuram procedimentos estéticos para parecerem melhores nas selfies (um aumento de 33% no geral desde que a AAFPRS identificou essa tendência pela primeira vez em 2016).

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Segundo a indústria, esses fatores, combinados com o uso de máscaras, menos viagens e as pessoas podendo trabalhar em casa sem perder o ritmo em suas carreiras, levaram a um aumento significativo nos procedimentos cirúrgicos. "O ano passado apresentou um território completamente desconhecido para nossa indústria”, apontou a pesquisa.

Cirurgias plásticas e redes sociais

Para entender essa tendência, conversamos com Wendell Uguetto, cirurgião plástico da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e membro do corpo clínico do Hospital Albert Einstein. Segundo o especialista, o Brasil sempre foi um dos líderes na demanda por cirurgia plástica, e é gradativo o aumento da busca por esses procedimentos. "Mesmo sem as redes sociais, sempre foi crescente. As redes sociais vieram para popularizar ainda mais a cirurgia plástica", aponta o profissional.

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O cirurgião destaca que existem procedimentos para fins reparadores (quando se tem um defeito, uma lesão que precisa ser reconstruída) e para fins estéticos (indicados quando o paciente tem alguma queixa e essa queixa é condizente com a realidade, e a cirurgia vai trazer benefícios para o paciente).

"Muitos pacientes às vezes vêm com queixas irreais. E a cirurgia plástica se torna excessiva quando vira uma compulsão. Existem pacientes que vêm a cada ano querendo fazer alguma coisa. Começa sempre com a primeira, que é a que incomoda mais. E essa cirurgia faz tão bem para a autoestima do paciente que ele busca a segunda querendo aquela mesma melhora de autoestima, e vai procurando coisas que não tem muito por que mexer", conta o cirurgião.

O especialista observa que a demanda está se popularizando, e que o acesso à cirurgia plástica é mais fácil. "Antigamente, era muito caro, tinha poucos cirurgiões. O preço era muito alto. Hoje, com muito mais cirurgiões, é muito mais fácil. O problema é que está popularizando e banalizando. Não pode banalizar", opina.

E no que diz respeito às redes sociais, os filtros influenciam essa demanda. "A pessoa quer ter o rosto que tem naquele filtro. O filtro melhora as proporções faciais, deixando as pessoas no padrão de beleza, mas é praticamente impossível a gente tornar o rosto de uma pessoa igual ao do filtro", aponta.

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Autoestima

Para Dr. Yuri Busin — psicólogo, mestre e doutor em neurociência do comportamento e diretor do Centro de Atenção à Saúde Mental Equilíbrio (CASME) — esse crescente movimento de pedidos de cirurgias plásticas tem sido uma grande preocupação e tem a ver com autoestima.

"As cirurgias plásticas podem, sim, ajudar, mas existem limites, porque algumas patologias podem ser decorrentes de cirurgias plásticas intensas nas quais as pessoas não estão satisfeitas, querem mudar totalmente o corpo, e aí entra a questão de aceitação, entender os limites. Diversos serviços de cirurgias plásticas muitas vezes têm até acompanhamento psicológico", aponta o psicólogo.

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Busin ressalta que as redes sociais promovem muitas vezes uma busca pela perfeição, na qual as pessoas acabam fazendo comparações. "Os influencers precisam tomar cuidado com a informação que transmitem, porque o impacto é muito alto atualmente, então muitas vezes acabam influenciando negativamente as pessoas", opina.

Segundo o psicólogo, as redes sociais têm esse lado negativo em que as pessoas acabam desenvolvendo dependência e frustração. "É importante compreender que a rede social é uma maquiagem da vida. Reduzir o acesso muitas vezes é uma boa, selecionar muito bem o conteúdo que consome, não ficar consumindo conteúdos que te deixam triste, não fazer comparações", aconselha.

Fonte: Com informações de AAFPRS